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São Jorge

O guerreiro matou um dragão com sua lança e pregou o cristianismo, tornando-se exemplo de coragem e fé

01/03/2007 00h00 Publicado em 01/03/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Abril 23

Nascimento: No século 3, na Capadócia, atual Turquia

Morte: Em 23 de abril de 303, em Lídia, na Palestina

O pai de Jorge, um nobre da Capadócia, na atual Turquia, morreu quando ele ainda era criança. O menino seguiu com a mãe para a terra natal dela, a Palestina. Lá virou soldado do imperador Diocleciano e fez carreira no exército. Graças ao sangue azul, teve altas graduações em pouco tempo. Seu empenho na corporação só piorou quando ele descobriu as atrocidades feitas contra cristãos, seus companheiros de fé. Sem conseguir fazer crueldades, renunciou à carreira.

A punição por tal ato não tardou a vir. A mando do imperador, Jorge foi perfurado com garfos de ferro, espetado com as lanças dos soldados, queimado com rochas ardentes e colocado sob o peso de uma pedra gigante. Resistente a tudo, ele ainda foi submetido a envenenamento. Um feiticeiro lhe deu doses fortíssimas de veneno misturadas com vinho, mas, mesmo assim, Jorge sobreviveu. Ao ver tal bravura, o alquimista e os próprios soldados algozes se converteram ao cristianismo.

Diocleciano não desistiu. No dia seguinte, Jorge foi colocado em uma roda com facas de dois gumes espalhadas a sua volta. O artefato, porém, milagrosamente se quebrou. Depois, ele foi jogado em um caldeirão cheio de chumbo derretido e ainda saiu ileso. Perplexo, o imperador decidiu tentar convencê-lo a se converter ao culto de seus deuses, o que Jorge fingiu aceitar. Ao chegar ao altar pagão, invocou a Deus. Um raio caiu do céu naquele momento e destruiu o lugar.

Para aumentar a ira de Diocleciano, sua mulher, Alexandrina, acabou se convertendo ao cristianismo. Depois de ser submetida a torturas, ela disse a Jorge que tinha medo de morrer por ainda não ter sido batizada. Foi quando ele respondeu: “Não tema, filha. O sangue que você vai derramar servirá de batismo e será sua coroa”. E assim foi feito.

O guerreiro foi preso, mas continuou a propagar a sua fé. Mesmo encarcerado, recebia visitas de cristãos e operava milagres de dentro da cela. A morte de Jorge só aconteceu quando foi arrastado pela cidade e teve a cabeça cortada. Ele tinha 30 anos.

O martírio de Jorge o transformou em um símbolo de luta e resistência. Ele é conhecido como o combatente do mal e tornou-se uma representação do divino para os fiéis. Sua fantástica história não tem provas bibliográficas, porém ganhou o imaginário popular e começou a se propagar no século 4, assim que o cristianismo foi adotado como religião oficial do Império Romano.

Entre as lendas a respeito do soldado que tinha o corpo fechado está a do dragão que aparece em sua imagem. O animal vivia em um grande lago e, de vez em quando, saía para dar suas baforadas e ameaçar o povo da cidade de Selena, na Líbia. Todos os dias, os moradores ofereciam duas ovelhas à besta para que ela ficasse longe da vila. Assim que os animais acabaram, passaram a sortear crianças como refeição para a fera. Chegou o dia da filha do rei, que precisava cumprir a regra que ele mesmo havia criado. O monarca até tentou oferecer toda a sua riqueza aos súditos para livrar a garota, mas foi em vão. No caminho, a donzela encontrou Jorge, que perguntou o que estava acontecendo. Ela tentou mandá-lo embora, mas o soldado fez o sinal-da-cruz, espetou a fera com sua lança e a levou até o centro da cidade, laçada com o cinto da moça. Diante de todos, cortou a cabeça do dragão e batizou os moradores da vila.

A fama de Jorge correu pelo Oriente Médio e Euroupa Oriental. Constantinopla (atual Istambul) já tinha cinco igrejas dedicadas a ele no século 5. No Egito, havia quatro templos e 140 conventos. Na Rússia, São Jorge abençoa o exército, e o país vizinho Geórgia recebeu esse nome em homenagem ao mártir.

Na Europa Ocidental, a devoção também chegou rápido. Ele é tão tradicional quanto o chá das 5. No século 8, tinha o famoso rei Ricardo Coração de Leão como seu fiel seguidor. No século 14, foi nomeado patrono da Inglaterra e protetor da Ordem da Cavalaria Jarreteira. A cruz escarlate, símbolo do santo, passou a acompanhar e proteger os soldados ingleses. Nem o protestantismo, que condena o culto a santos, fez a Inglaterra se esquecer de Jorge. No castelo de Windsor, residência da família real, existe a Capela de São Jorge, que é freqüentada pelos nobres britânicos e os parentes da rainha.

São Jorge também é protetor das cidades italianas de Veneza e Gênova. Na Alemanha, o rei Frederico III dedicou a ele uma ordem militar. Nas Cruzadas, expedições organizadas por cavaleiros europeus a partir do final do século 11, ele era invocado para protegê-los nas batalhas contra os muçulmanos. Sua bravura o tornou o santo padroeiro de corporações militares, como bombeiros e policiais.

Acredita-se que seus restos mortais estejam em Lídia, onde morreu, em um oratório que foi erguido a mando do imperador Constantino. Muitas igrejas da Europa declaram ter relíquias do santo.

No Brasil, há oito igrejas batizadas com o nome de São Jorge. Ele chegou aqui pelas mãos dos portugueses. No século 19, o rei dom João VI decretou a obrigatoriedade de sua imagem nas procissões de Corpus Christi. O santo era adorado por todos. Os colonizadores se identificavam com o cavaleiro que enfrentou o mal. Proibidos de manifestar suas próprias crenças, os escravos também se apegaram a ele com a esperança de vencer a dor. Jorge serviu de inspiração para os fiéis africanos e também como uma forma de camuflar suas crenças proibidas. Por isso, ele é muito associado aos orixás guerreiros: Xangô, no candomblé, e Ogum, na umbanda. São Jorge é tão forte que, mesmo hoje sem necessidade de esconder o credo, ele é festejado com carinho. Na umbanda, por exemplo, há uma longa procissão, em São Paulo com sua imagem, levada pelo corpo de bombeiros em um carro coberto de flores.

Atualmente, durante as procissões em homenagem ao santo, os fiéis se vestem com as roupas, as armas e a cor vermelha de Jorge. É tradição agradecer aos milagres atribuídos a ele com rosas vermelhas. O santo tem forte devoção principalmente no Rio de Janeiro, onde está localizada a igreja de São Jorge de Quintino.

Popular, São Jorge não chegou a ser canonizado. “No século 4, a aceitação da santidade estava ligada ao testemunho de fé que se dava por meio de martírio. A partir daí, passou-se a comemorar sempre a memória dessas pessoas no dia em que morreram”, explica o padre Francisco Greco, da diocese de Santos. Em 1969, o papa Paulo VI fez uma reforma no calendário litúrgico. Daquele ano em diante, os santos cuja vida estivesse ligada a acontecimentos lendários, mas sem comprovação histórica, tiveram o culto declarado como opcional. Apesar de a devoção a São Jorge ser facultativa, não diminuiu sua popularidade entre os católicos e nem significou a “cassação” do título de santo. Ele continua a fazer parte do missal romano, livro usado durante as missas pelos padres.

Existe outra dúvida sobre São Jorge. A tese de que seria invenção do imaginário popular ganha força quando sua história é comparada à de São Miguel. Pode haver confusão de personagens. Miguel também lutou contra um dragão segundo um trecho bíblico do Apocalipse: “Olhei, e diante de mim estava um cavalo branco. Seu cavaleiro empunhava um arco e foi-lhe dada uma coroa; ele carregava como vencedor determinado a vencer. (...) Então apareceu no céu outro sinal: um enorme dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas. (...) O dragão colocou-se diante da mulher que estava para dar à luz, para devorar seu filho no momento em que nascesse”.

Os fiéis de São Jorge, porém, não se importam com a associação ao anjo e continuam a devotar suas preces a ele. A mistura entre ortodoxos e católicos, orientais e ocidentais, cristãos e fiéis de crenças afro fazem dele um santo tão ecumênico quanto o próprio Brasil.

Torcida devota

São Jorge veste a camisa alvinegra de um dos times de futebol mais populares do Brasil, o Corinthians. A perseverança e a coragem dele incentivam a fiel torcida corintiana, que espera dos jogadores tal bravura. O nome do estádio do clube, na capital paulista, também homenageia o santo. É comum ver os torcedores com imagens de São Jorge nos estádios, durante as partidas. Ele também aparece em oratórios e nas casas corintianas, junto a bandeiras do time.

Corpo fechado

O imperador Diocleciano tentou de tudo para matar São Jorge, mas só conseguiu acabar com o propagador da fé cristã ao ver a cabeça de seu inimigo cortada em praça pública. O santo ficou conhecido como um poderoso combatente do mal e vencedor de todas as lutas, por mais difíceis que sejam. O sofrimento dele o transformou em um símbolo de luta e resistência. Sua oração de fechamento de corpo invoca as armas e as roupas de São Jorge como proteção plena.

O santo dos militares

1. O cavalo branco, usado pelos militares, lembra que era soldado.

2. A lança e a espada o ajudaram a matar o dragão, que, para muitos, representa Satanás.

3. Em muitas imagens, aparece com uma armadura ornamentada com uma cruz vermelha, seu símbolo.

A oração

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem; tendo mãos, não me peguem; tendo olhos, não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar. Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com Sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos. Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja, com o poder de Deus, de Jesus e da falange do divino Espírito Santo. São Jorge, rogai por nós. Amém.