Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Curiosidades / Benjamin de Oliveira

Do sofrimento ao circo: A saga de Benjamin de Oliveira, o palhaço negro brasileiro

Na miséria, Benjamin de Oliveira descobriu seu destino como obra do acaso

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 29/10/2023, às 08h00 - Atualizado em 16/11/2023, às 15h41

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
O palhaço Benjamin de Oliveira - Arquivo pessoal
O palhaço Benjamin de Oliveira - Arquivo pessoal

Por ser filho de uma ‘escrava de estimação’, Benjamin Chaves foi alforriado assim que nasceu, em 11 de junho de 1870, na Fazenda de Guardas, em Pará de Minas (MG). Como resultado das diárias agressões de seu pai — capataz considerado um homem terrível —, fugiu de casa quando tinha apenas 12 anos. Trocou suas funções como candeeiro, guarda-freio, vendedor de bolos e até mesmo ‘madrinha de tropa’ pela vida no circo.

Em viagem pelo sertão mineiro, aprendeu a arte da acrobacia e do trapézio — e também conheceu seu mestre: Severino de Oliveira, de quem usou o sobrenome como forma de homenagem. Nascia ali Benjamin de Oliveira. Três anos depois, no entanto, resolveu deixar o Circo Sotero diante de episódios de espancamento.

Meu destino era fugir. Destino de negro...”, afirmou ele.

Benjamin também foi escravizado por ciganos e conseguiu escapar quando soube que pretendiam trocá-lo por um cavalo. Quando abordado por um fazendeiro que duvidava de seu direito à alforria, precisou mostrar todos os seus talentos circenses. Enfim, livre, mas sozinho no mundo. Vivendo na miséria e dependendo de esmola, Benjamin descobriu seu destino como obra do acaso.

Benjamin de Oliveira e a mãe, Leandra Chaves - Crédito: Arquivo pessoal

Episódios de humilhação

Após ser contratado por um circo norte americano, foi tomado pela surpresa ao ser escalado para substituir o palhaçoFreitinhas. “Se não fosse preto, teria ficado pálido”, disse ele sobre o medo que lhe tomou conta. Sem graça alguma foi alvejado com ovos, tomates e pedradas em suas primeiras aparições no palco. Os episódios de humilhação duraram oito meses e Benjamin serviu de ‘escada’ para Freitinhas.

Quando uma coroa de capim lhe foi atirada em meio a uma apresentação, disse: “Deram a Cristo uma coroa de espinhos, por que não me poderiam dar uma de capim?”. O público riu e aplaudiu. Ao descobrir o poder da improvisação,Benjamin deu a volta por cima e passou a se destacar.

Fã inusitado

Em apresentação no Rio de Janeiro, foi saudado como um grande palhaço e recebeu 5 mil réis de um ilustre fã; tratava se do então presidenteMarechal Floriano Peixoto. Logo, ele passou a ser reverenciado como um dos mais renomados e originais artistas do século 20. Colecionando admiradores, Benjamin participou de ‘Os Guaranis’, pantomima encenada no Circo Spinelli, no qual viveu Peri, o protagonista.

Benjamin de Oliveira, o artista considerado um dos maiores palhaços do Brasil - Crédito: Arquivo pessoal

Ele ainda revolucionou a dramaturgia, ao escrever peças teatrais e conduzir uma opereta onde os atores decoraram suas falas — algo incomum para a época. Seu ápice como artista foi viver Otelo (personagem clássico de William Shakespeare), com quem encantou público e crítica.

Benjamin de Oliveira morreu “quase na penúria”, segundo o escritor e acadêmico Antônio Torres, em 3 de maio de 1954, aos 84 anos. Embora hoje um personagem esquecido, à época os jornais o descreviam em seu obituário como “o maior palhaço do Brasil”.