A imagem da santa Nossa Senhora Aparecida foi encontrada em 17 de outubro de 1717 e não se sabe muito sobre sua história
Luisa Alves, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/10/2022, às 12h28 - Atualizado em 13/07/2023, às 14h36
Todos os anos, milhões de pessoas visitam a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida no maior santuário mariano do mundo, a 180 quilômetros de São Paulo (SP). A famosa santa, além de atrair fiéis, também chama a atenção por sua curiosa história: acredita-se que ela tenha sido encontrada por três homens durante um trabalho de pesca no rio Paraíba do Sul. Por isso, já que ela representa o povo, hoje a santa leva o título de 'Padroeira do Brasil'.
A história da Santa é anterior até mesmo à criação do hino e da bandeira nacional. A imagem de barro com 36 centímetros de altura e peso de 2,50 kg, foi encontrada em 1717 por três pescadores: João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia.
A capela onde está a imagem, foi inaugurada no ano 1745 e tinha originalmente 32 palmos de largura por 76 de comprimento (cerca de sete metros por 16). Na basílica, que hoje ocupa uma área de 72 mil m², está a conhecida imagem com seu manto azul e sua coroa de ouro, que foi doada pela princesa Isabel em 1884.
A imagem já até mesmo quase foi roubada por um jovem de 19 anos, Rogério Marcos de Oliveir, em 16 de maio de 1978. O rapaz se aproveitou de uma queda de luz repentina e correu até o nicho e bateu no vidro que a protegia. Depois de quebrá-lo, fugiu em disparada, mas foi perseguido pelos fiéis, deixando a santa cair no chão.
Além da visita à imagem, muitos fiéis comparecem à sala das promessas, local onde podem deixar fotos e objetos em retribuição às graças alcançadas. Itens são doados todos os meses em homenagem e agradecimento à santa.
Mesmo após 300 de seu aparecimento, a imagem da santa ainda carrega muitas dúvidas que não foram sanadas a respeito de sua história.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada no rio Paraíba do Sul, e existem algumas hipóteses para o motivo de ela ter ido parar no local.
"Manter defunto de barro dentro de casa era certeza de maldição", esclarece o jornalista Rodrigo Alvarez, de Aparecida, como repercutido pela BBC News.
Ou seja, existe a chance de um fiel ter jogado a imagem depois de quebrada para não atrair mau agouro. Outra hipótese infere que a escultura teria sido arrastada durante uma enchente, de Roseira, município vizinho de Aparecida, à Paraíba do Sul.
Acredita-se que a imagem tenha sido esculpida por um frei carioca de nome Agostinho de Jesus.
"Era discípulo do mais respeitado artesão da época, o português Agostinho da Piedade", explica a historiadora Tereza Galvão Pasin, autora de Senhora Aparecida - Romeiros e Missionários Redentoristas na História da Padroeira do Brasil (Santuário), como repercutido pela BBC News.
Chegou-se a cogitar que ela tenha sido esculpida pelo santeiro português. Hipótese descartada no século 20 por se concluir que ela foi moldada com barro paulista.
"A argila usada era proveniente da cidade de Salesópolis, região onde nasce o Paraíba do Sul", explica Padre José Inácio.
A hipótese de que a escultura de barro tenha sido encontrada por escravos, é provável.
Na época, pela Câmara de Guaratinguetá, foi prometida uma recompensa para quem conseguisse capturar mais peixes. A ideia era que se fornecesse um banquete à comitiva de dom Pedro Miguel de Almeida Portugal, o qual assumiria o cargo de governador da capitania de São Paulo e das Minas de Ouro.
Ele passaria pelo vilarejo de Santo Antônio de Guaratinguetá no dia 17 de outubro de 1717, a caminho de Minas Gerais. Foi nessa ocasião, que muitos barcos, incluindo o de João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, saíram de um porto particular, na fazenda do capitão José Correia Leite, na vila de Pindamonhangaba, vizinha de Guaratinguetá.
Correia Leite morreu em 1744 e deixou alguns escravos para seus herdeiros, três deles, João, Felipe e Domingos.
"Sabendo que o capitão era o dono do porto de onde os três homens saíram no dia em que encontraram a santinha, não parece absurdo pensar que Felipe, Domingos e João eram escravos e foram pescar por ordens do homem poderoso que queria agradar ao governador", contou o jornalista Rodrigo Alvarez à BBC.
Muitos acreditam que seja um réplica. No entanto, o Santuário Nacional de Aparecida garante que é a original. Por medidas de segurança, então, o nicho é protegido por um vidro à prova de balas e a imagem está a quatro metros do solo.
Para sua proteção, a santa só é retirada do local uma vez por ano, com exceção da visita de papas. A artista plástica que a restaurou em 1978, Maria Helena Chartuni, é quem cuida de sua manutenção.
A escolha da data não foi aleatória, como pontuou o historiador Leandro Karnal. Ele, inclusive, citou outras datas como o descobrimento da América em 1492, a aclamação de Pedro 1º como imperador do Brasil em 1822 e a inauguração da estátua do Cristo Redentor em 1931, que são celebradas no mesmo dia 12.
"A data passou a ser uma conexão cívica e religiosa, celebração do catolicismo pátrio, de identidade da fé e do nacionalismo", observa Karnal, autor de Santos Fortes - Raízes do Sagrado no Brasil (Rocco), conforme repercutido pela BBC News.
O dia da Padroeira do Brasil é comemorado em 12 de outubro desde 1953 e antes disso, já foi até mesmo celebrado no primeiro domingo de maio, no quinto domingo da Páscoa, no dia 7 de setembro (Dia da Independência) e no dia 8 de dezembro (Dia da Imaculada Conceição).
