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Desventuras / Dianne Odell

Dianne Odell: A mulher que viveu quase 60 anos com pulmão de ferro

Por contrair poliomelite bulboespinhal aos três anos, a moradora do Tennessee teve que viver em uma câmara cilíndrica com vedação até o pescoço

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 13/01/2024, às 11h00 - Atualizado em 19/01/2024, às 17h58

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Dianne Odell, que viveu quase 60 anos com pulmão de ferro - Reprodução/Video/Polio Revisited part 3
Dianne Odell, que viveu quase 60 anos com pulmão de ferro - Reprodução/Video/Polio Revisited part 3

Moradora do Tennessee, Dianne Odell tinha apenas três anos quando contraiu poliomelite bulboespinhal, em 1950 — meses antes da vacina contra a doença infantil incapacitante ser descoberta. 

Devido à enfermidade, ela acabou confinada a um pulmão de ferro pelo resto de sua vida. O equipamento — semelhante aos usados nos Estados Unidos durante o pico da doença na década de 1950 — era uma câmara cilíndrica com vedação até o pescoço. 

Recorte de jornal com a história de Dianne Odell - Reprodução

Nele, Odell permanecia deitada apenas com a cabeça exposta, fazendo contato visual com as pessoas através de um espelho angular. Ela também operava um aparelho televisivo por meio de um tubo de sopro e escrevia em um computador ativado por voz. 

O pulmão de ferro de Dianne Odell tinha cerca de dois metros de comprimento e pesava pouco mais de 340 quilos, produzindo pressões positivas e negativas que forçavam ar para o pulmão e depois o expeliam. 

Embora a condição de Odell na juventude não fosse tão grave, visto que ela podia passar curtos períodos fora do equipamento, tudo mudou aos seus 20 anos, quando precisava do mecanismo 24 horas por dia, recorda a Associated Press. 

Conforme aponta a NBC News, no final da década de 1950 os pulmões de ferro foram amplamente substituídos por aparelhos respiratórios portáteis, o que dava mais liberdade aos seus usuários. No entanto, devido a uma deformidade na coluna vertebral, Dianne não conseguia usar o equipamento mais moderno. 

Conquistas

Apesar de sua condição, Odell teve diversas conquistas em sua vida. Um das maiores foi concluir os estudos do ensino médio em 1965. Para isso, embora não pudesse frequentar a escola, a mulher dependia de seus colegas e professores que traziam suas tarefas escolares até sua casa. 

Suas provas e atividades eram feitas por meio de um ditafone ou com a ajuda de seus amigos e familiares, que transcreviam suas respostas. Dianne também aprendeu a escrever com os dedos do pé. 

Dianne Odell e sua família - Arquivo Pessoal

Após a formação, a mulher passou a ter aulas à distância na Freed-Hardeman University. Embora não tenha se formado, ela recebeu um diploma honorário em 1987. Cinco anos depois, foi destaque na popular revista Woman’s World e ainda recebeu o Prêmio Companheiro Paul Harris do Rotary Club de Jackson, um das maiores honrarias da instituição. 

Em 1991, aponta o Los Angeles Times, ela começou a escrever seu livro infantil usando um computador ativado por voz. A obra, que demorou uma década para ser concluída, falava sobre uma 'estrela dos desejos' chamada Blinky. 

Na época do lançamento, a mulher foi entrevistada pela Associated Press e explicou que o livro era uma forma de demonstrar aos jovens, especialmente aos com algum tipo de deficiência física, que eles nunca deveriam desistir. 

É incrível o que você pode realizar se ver alguém fazer a mesma coisa", apontou. 

Embora Odell não pudesse viver fora de seu pulmão de ferro, ela ainda conseguia ser transportada junto de seu equipamento. E, sem dúvida alguma, um dos momentos mais inesquecíveis de sua vida aconteceu em seu aniversário de 60 anos, em fevereiro de 2007. 

Dianne Odell, que viveu quase 60 anos com pulmão de ferro - Reprodução/Video/Polio Revisited part 3

Na ocasião, familiares e amigos organizaram uma festa para ela em um hotel no centro da cidade de Jackson. A celebração contou com cerca de 200 convidados e um bolo de 2,7 metros. A mulher também recebeu diversas cartas e votos de felicidades de pessoas de todo o país. 

O último suspiro

Devido a todo cuidado que necessitava, os custos médicos de Dianne Odell eram de aproximadamente 60 mil dólares anuais. Além disso, vale ressaltar, sua família se recusava a deixá-la internada — a mulher recebeu cuidados até o fim por seus pais, familiares e assistentes fornecidos por uma fundação sem fins lucrativos. 

Para ajudar no tratamento, a West Tennessee Healthcare Foundation e a Igreja de Cristo de Campbell Street criaram o Fundo Dianne Odell. Em 2001, um site foi feito para contar sua história e arrecadar fundos mediante doações. 

Apesar de todo cuidado que recebia, a vida de Odell foi ameaçada diversas vezes devido a quedas de energia entre 1957 e 1974 — a falha elétrica desativava seu respirador; o que fez com que, em várias ocasiões, seus familiares tivessem que bombear manualmente o respirador até que a energia fosse restaurada. 

Em 1995, a Tennessee Valley Authority forneceu à família de Odell um gerador grande o suficiente para abastecer a casa em caso de futuras falhas de energia. Mas, em 28 de maio de 2008, Dianne Odell, então com 61 anos, acabou falecendo após uma falha de energia e do gerador de emergência. Apesar dos parentes da mulher terem utilizado a bomba manual, seus esforços foram em vão. 

Túmulo de Dianne Odell - Tom Childers via Wikimidia Commons

"Fizemos tudo o que podíamos, mas não conseguimos mantê-la respirando", disse seu cunhado, Will Beyer, à NBC News. "Dianne ficou muito mais fraca nos últimos meses e simplesmente não tinha forças para continuar".

O capitão Jerry Elston, do Departamento do Xerife do Condado de Madison, disse que equipes de emergência foram chamadas ao local, mas pouco puderam fazer para ajudar na ocasião. 

Dianne Odell foi uma das usuárias de pulmão de ferro por mais tempo que se tem notícia, vivendo por quase seis décadas com o equipamento. Até 2018, apenas 3 pessoas nos Estados Unidos dependiam do dispositivo. 

"Dianne era uma das pessoas mais gentis e atenciosas que você poderia conhecer. Ela sempre se preocupou com os outros e com seu bem-estar", relatou Frank McMeen, presidente da West Tennessee Health Care Foundation, que ajudou a arrecadar dinheiro para equipamentos e assistência de enfermagem para Odell. Segundo ele, a mulher aceitou sua vida com graça. 

Todos que ela encontrava vinham até ela porque se preocupavam com ela", disse. "Então ela viveu até os 61 anos pensando que todas as pessoas eram boas".