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Desventuras / Naufrágio

O navio que afundou com bilhões nos mares da Colômbia

Em 1708, um galeão transportando um verdadeiro tesouro de ouro, prata e pedras preciosas naufragou, levando sua fortuna consigo para o fundo do mar

Ingredi Brunato Publicado em 25/11/2023, às 09h00

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Fotografia mostrando o galeão afundado - Divulgação/ Vídeo/ Presidência da Colômbia
Fotografia mostrando o galeão afundado - Divulgação/ Vídeo/ Presidência da Colômbia

Entre 1702 e 1714, o então reino da Espanha travou a chamada Guerra da Sucessão Espanhola, em que diversas casas aristocráticas europeias se juntaram para lutar contra a Espanha e a França após a morte do rei espanhol Carlos II.

O monarca, que não possuía herdeiros diretos, nomeou Filipe de Bourbon para sucedê-lo. O homem, que até então possuía o título de Duque de Anjour, se tornou Filipe V com o novo cargo real. 

Com a escolha de um herdeiro por Carlos II enquanto ainda estava vivo, ele evitou uma crise de vacância (em que o trono fica vago até que seja decidido quem deve ocupá-lo), porém, acabou criando a situação de tensão política que resultaria na guerra

Isso, pois, Filipe era neto de Luís XIV, o rei da França. De idade avançada, o governante em breve também precisaria de um herdeiro, o que abria a possibilidade de Filipe V reivindicar também o trono francês, assim unificando os dois poderosos reinos sob a dinastiaBourbon

Esse cenário preocupava outras linhagens nobres através da Europa, levando à criação da chamada "Grande Aliança", que uniu Inglaterra, Holanda, Dinamarca, Suécia, Áustria e principados alemães. Eles saíram vitoriosos da Guerra da Sucessão Espanhola, obrigando o reino espanhol a prometer que nunca tentaria tomar o trono francês. 

O naufrágio

Foi em meio ao contexto desse conflito que o galeão San José partiu em 1708 do Panamá, então colônia da Espanha, com destino ao país europeu, levando consigo uma abundância de ouro, prata e pedras preciosas a fim de ajudar a financiar as custosas batalhas. 

Durante uma parada em Cartagena, no entanto, uma cidade portuária da Colômbia, a embarcação acabou sendo atacada por navios britânicos. Não se sabe exatamente como, mas, em algum momento do embate, o galeão acabou afundando no mar colombiano, levando seu tesouro para o fundo do oceano. 

Pintura representando a batalha em Cartagena / Crédito: Domínio Público

Conforme repercutiu a BBC, uma das teorias dos historiadores é que o próprio capitão do navio, José Fernández de Santillán, ateou fogo à embarcação para que ela não fosse capturada pelo inimigo, preferindo o naufrágio à derrota. 

As disputas 

Em novembro de 2015, o Instituto Oceanográfico Woods Hole, que está sediado nos Estados Unidos, anunciou ter finalmente descoberto a localização do galeão com o auxílio de um submarino robótico não tripulado. O equipamento foi capaz de fotografar as ruínas do navio naufragado. A pintura dos canhões foi o elemento decisivo que ajudou os pesquisadores a identificá-lo. 

A partir de então, começou uma disputa de diversos personagens que alegam serem os donos legítimos da valiosa embarcação. A estimativa é que sua carga seja equivalente a cerca de 20 bilhões de dólares (97,8 bilhões de reais, na cotação atual), o que rendeu ao San José o apelido de "Santo Graal dos naufrágios". 

Trecho de vídeo mostrando o interior do San José / Crédito: Divulgação/ Vídeo/ Presidência da Colômbia 

O governo da Colômbia reivindica o naufrágio pelo fato dele estar localizado em suas águas, enquanto a Espanha tenta reivindicá-lo, pois, ele pertencia à frota espanhola e era tripulado por marinheiros espanhóis.

Já a nação indígena Qhara Qhara, habitante da Bolívia, clama ter direito ao tesouro porque ele foi minerado em seu território, tendo sido retirado dali pelos colonizadores, de acordo com informações do portal Art & Object. 

A operação para retirar o galeão do fundo do mar é outro ponto que gera debate, uma vez que o governo colombiano não possui a infraestrutura para realizá-la sozinho, e precisaria assinar um contrato com uma empresa privada — de forma que ela teria direito a uma parte do San José. 

Outra perspectiva 

Alguns especialistas, por outro lado, como o arqueólogo náuticoRicardo Borrero, que concedeu entrevista ao The New York Times neste ano, defendem que os destroços do navio devem ser deixado onde estão, sendo estudados no próprio local onde foram achados.

O naufrágio está aí porque atingiu o equilíbrio com o meio ambiente. Os materiais estão nessas condições há 300 anos e não há melhor maneira de descansar", argumentou, acrescentando que sua remoção seria "imprudente" e traria mais prejuízos que vantagens. 

Borrero também acredita que a quantidade de tesouros transportado pelo San José foi "excessivamente exagerada" pelas estimativas que a colocam na casa dos bilhões, e provavelmente são por volta de um décimo disso.