Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Desventuras / Lampião

A vingança de Lampião: Cangaceiro matou delator de seu pai

História aponta que irmãos Ferreira só entraram para o cangaço após execução de José Ferreira dos Santos

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 19/10/2023, às 17h56 - Atualizado em 30/10/2023, às 16h46

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião - Museu do Ceará/Domínio Público
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião - Museu do Ceará/Domínio Público

Pai de Lampião, José Ferreira dos Santos teve seu paradeiro delatado em 18 de maio de 1921. Como resultado, acabou  assassinado no mesmo dia em Mata Grande, sertão de Alagoas. Seu algoz foi o tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão.

Segundo conta a história, a morte de José Ferreira foi um divisor de águas para Virgulino Ferreira da Silva e seus irmãos. Afinal, foi a partir daí que eles resolveram entrar para o cangaço. Antes de morrer, o pai de Lampião já sofria ataques de um vizinho, Zé Saturnino.

+ Historiador reflete sobre Lampião e o bando: 'Não permitia, de jeito nenhum, traições'

Logo no ano seguinte, em 14 de agosto de 1922, Virgulino, seus irmãos e mais dois cangaceiros cumpriram a vingança. Por volta das 19 horas, fizeram uma tocaia em Água Branca, no sertão de Alagoas, com o intuito de executar Manoel Cipriano de Souza, que teria dedurado o pai do cangaceiro.

Detalhes do crime

Cerca de um século após o crime, detalhes desconhecidos do assassinato de Manoel Cipriano foram revelados graças a um processo judicial que estava guardado no Fórum de Maceió.

Lampião junto de Maria Bonita e outros cangaceiros/ Crédito: Domínio Público

De acordo com Carlos Madeiro, colunista do UOL, o documento, e outros processos, foram encontrados por Claudemiro Avelino, juiz e historiador. O bando é acusado de assassinatos, roubos e estupros.

Em relação ao caso de Cipriano, cinco nomes foram indiciados: Lampião e seus irmãos (Livino Ferreira e Antônio Ferreira; vulgo Esperança), Antônio Bragança e Antônio Rozendo (o Antônio Gelo).

O registro também conta com um depoimento dado por Manoel Pedro de Alcântara, que esmiuçou tudo que aconteceu na data. Segundo narra, Manoel Cipriano havia saído da feira de Água Branca e já cruzava a cancela do Mané quando foi abordado pelo bando armado com rifles.

Lampião, então, ordenou que os dois descessem de seus cavalos e exigiu que os sujeitos falassem seus nomes. Manoel Cipriano foi o primeiro a se pronunciar. "É esse mesmo que estamos esperando", retrucou o líder do cangaço.

Virgulino estão orientou que Manoel Pedro se afastasse e não retornasse até receber uma "ordem expressa". Cipriano, por sua vez, foi levado para perto de seu cavalo. O cangaceiro ainda lhe questionou sobre o quanto dinheiro ele levava: 10 mil contos de reis.

Silvino Antônio dos Santos é outra testemunha que prestou depoimento. Ele afirmou que Cipriano chegou a questionar Virgulino sobre o que desejava, e disse que "daria para salvar a vida".

Lampião, não me mate. Deixe eu criar minha família”, implorou.

Mas o apelo não foi suficiente, visto que o líder do cangaço "judiou" de seu alvo — embora suas táticas não tenham sido descritas. Logo depois, sentenciou: "Agora você conhece Lampião. Foi você quem indicou onde meu pai estava para o matarem. Agora você é quem vai pagar".

Virgulino se afastou de Cipriano por alguns metros antes de lhe alvejar com um tiro; seus irmãos também efetuaram um disparo cada. "Foram três tiros; no segundo tiro ele caiu por terra", relembrou Manoel Pedro.

"Basta, vamos embora", ordenou Lampião ao ver que tinha cumprido sua missão. Os outros dois membros de apoio saíram do meio do mato e todos fugiram do local. No decorrer, um deles acabou levando o cavalo de Cipriano.

Mas, como rei do cangaço, Lampião não se deu por satisfeito. Faltava um toque final: ele foi até a casa do delator de seu pai, onde o bando quebrou portas, baús, móveis, celas e ainda roubaram "tudo que puderam".

A denúncia contra Virgulino

Por conta dos atos de violência, Lampião e os outros quatro cangaceiros acabaram indiciados pela promotoria pública de Alagoas em 9 de outubro de 1922. Dias depois, o juiz da comarca de Água Branca acatou o pedido e deu andamento no processo contra o bando. Entretanto, nunca ninguém foi julgado.

O processo só foi extinto em 1939, um ano após a morte de Lampião, em 28 de julho de 1938. "Nós demais processos não achamos isso essa extinção, mas talvez tenha havido uma ordem para que todos fossem arquivados, mas não encontramos", explicou o historiador e juiz Claudemiro Avelino ao colunista.

O cangaceiro Lampião/ Crédito: Domínio Público

Tanto o processo citado quanto outros arquivos do período farão parte de um livro de pesquisas de Claudemiro sobre o cangaço — a obra está em estágio final.