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Idade Média / Salazar

Salazar, o ditador português que morreu acreditando que ainda governava

O ditador português António de Oliveira Salazar faleceu sem saber que não governava mais o país

Éric Moreira, sob supervisão de Wallacy Ferrari Publicado em 14/08/2022, às 09h00

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António de Oliveira Salazar, ditador português que morreu acreditando que ainda governava - Foto por Bernard Hoffman pelo Wikimedia Commons
António de Oliveira Salazar, ditador português que morreu acreditando que ainda governava - Foto por Bernard Hoffman pelo Wikimedia Commons

António de Oliveira Salazar foi um ditador português responsável por chefiar diversos ministérios e foi presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo. Tendo sido o ditador de período de atividade mais longevo da história da Europa, ele deixou o governo em 1968, depois de 36 anos, após ter ficado em coma devido a um acidente vascular cerebral por cerca de dois meses.

Em 27 de setembro daquele ano, enquanto ainda se encontrava em estado vegetativo, apenas 11 dias depois de seu AVC, ele foi substituído na presidência do Conselho de Ministros por Marcelo José das Neves Alves Caetano. O novo líder político, por sua vez, comandou o país até a Revolução dos Cravos, ocorrida em 1974, que resultou na derrubada do Estado Novo fascista português.

Porém, em novembro de 1968, cerca de dois meses após o acidente vascular cerebral, Salazar havia recobrado a consciência, mas algumas sequelas permaneceram. Ele passou a ser assolado por paralisia em alguns membros do corpo, além de perda de memória recente, o que fez com que ele acreditasse que ainda governava Portugal quando acordou.

Fotografia de António de Oliveira Salazar, ex-ditador português
Fotografia de António de Oliveira Salazar, ex-ditador português / Foto por Manuel Alves de San Payo pelo Wikimedia Commons

Operação para enganar Salazar

Temendo que António Salazar não resistisse à notícia de que seu período de governo havia terminado, os médicos que cuidavam dele fizeram uma sugestão curiosa, que foi acatada. O ex-ditador passou a viver a vida da mesma como antes, como se ainda governasse o país.

Salazar então continuou se reunindo com frequência com o Conselho de Ministros de Portugal, mas era o único no local que não sabia que tudo não se passava de uma farsa. Toda a operação foi narrada no livro 'A incrível história de António Salazar, o ditador que morreu duas vezes', publicado em maio de 2021 e escrito pelo jornalista italiano Marco Ferrari.

Para dar mais verossimilhança à farsa, às vezes os interlocutores falavam mal de Marcelo Caetano", escreve Ferrari no livro, como informado pelo O Globo.
Marco Ferrari, jornalista italiano que escreveu 'a incrível história de antónio salazar, o ditador que morreu duas vezes'
Marco Ferrari, jornalista italiano que escreveu 'a incrível história de antónio salazar, o ditador que morreu duas vezes' / Foto por Amerigoferrari pelo Wikimedia Commons

Além do mais, o plano para evitar que Salazar descobrisse a verdade não foi sustentado somente por alguns funcionários mais próximos: até mesmo Augusto de Castro, diretor do jornal Diário de Notícias, de Lisboa, reescrevia as notícias todas as noites para que apenas o ex-ditador pudesse lê-las. Na reescrita, ele excluía menções à Marcelo Caetano e adicionava referências às falsas reuniões de António Salazar.

Na época, ainda, o ex-ditador também apresentava indícios publicamente de que ignorava sua substituição do governo, o que chamava a atenção, devido a dificuldade que deveria ser sustentar a mentira. Durante uma entrevista ao jornal francês L'Aurore, inclusive, ele até mesmo afirmou com certeza que Caetano não era parte do governo, e deu sua opinião sobre o político:

É inteligente e tem autoridade, mas se equivoca ao não querer trabalhar conosco no governo. Porque, como vocês sabem, ele não é parte do governo. Segue dando aulas de direito na universidade e às vezes me escreve dizendo o que pensa de minhas iniciativas", contou António Salazar em entrevista.

'O Ditador que Morreu Duas Vezes'

Em seu livro publicado no ano passado, 'A incrível história de António Salazar, o ditador que morreu duas vezes', Marco Ferrari não conta só a história do ditador e sobre como foi enganado ao longo de dois anos, até sua morte em 27 de julho de 1970. Na obra, o jornalista italiano também fala mais sobre a política do regime de Salazar baseado em depoimentos de mais de 20 mil dissidentes políticos outrora presos pela polícia da ditadura.

A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) era um órgão repressor de Salazar, formado por cerca de 20 mil agentes e 200 mil informantes, conta Ferrari em seu livro. Além disso, ao longo dos 41 anos do Estado Novo português, um total de quase 23 mil pessoas foram mortas.


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