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Colunas / Paulo Rezzutti / Domitila de Castro

De filha distante a pelo íntimo de D. Pedro: Obra recupera trajetória da Marquesa de Santos

Em entrevista exclusiva, Paulo Rezzutti conta o que podemos encontrar na nova edição de ‘Domitila: A História Não Contada’

Isabelly de Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 20/06/2023, às 19h00 - Atualizado em 23/06/2023, às 10h15

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Quadro de Domitila de Castro - Domínio Público
Quadro de Domitila de Castro - Domínio Público

Domitila de Castro foi uma figura muito importante para a construção histórica do Brasil, principalmente para a contextualização do Brasil Império. Durante anos, Domitila foi a mais conhecida amante do imperador D. Pedro I. Juntos, os dois tiveram vários filhos, mas apenas duas meninas chegaram à vida adulta. Os amantes se separaram quando a segunda esposa do imperador, D. Amélia, chegou ao país para ser a nova imperatriz.

Capa do livro de Paulo Rezzutti - Crédito: Divulgação / Leya

O escritor Paulo Rezzutti, um dos maiores pesquisadores sobre o tema, exibe curiosidades sobre a vida da famosa Marquesa de Santos na terceira edição de sua biografia intitulada ‘Domitila: A História Não Contada: A marquesa de Santos revelada por cartas e documentos inéditos , relançada agora dentro da coleção 'A história não contada', lançada pela Editora LeYa.

A primeira edição foi lançada em 2012 e relançada em 2016. Porém, o autor garante que existem muitas diferenças entre a versão atual e as anteriores.

"Muita coisa mudou, até o estilo, eu praticamente reescrevi o livro", afirma Rezzutti em entrevista ao site Aventuras na História. "Hoje eu tenho muito mais certezas, mais fontes e provas de coisas que antigamente eu achava que poderia ser".

Essa versão da obra traz coisas novas, como a relação de Domitila com suas filhas, provenientes da relação com o imperador brasileiro. Outro ponto importante na trama é o impacto que a negação da paternidade por parte de D. Pedro I teve na vida da filha mais nova — incluindo os bastidores do pedido de D. Amélia para D. Pedro II de manter o desejo do falecido marido em não assumir a última filha, pedindo para que ele também não a reconheça como irmã.

Pelos corporais

Na obra, o autor mostra novos itens que narram a trajetória do casal. Pelos fazem parte desse arquivo inserido no livro. Além do que Paulo já havia encontrado de material sobre Domitila, existem documentações na Biblioteca Nacional e em outros lugares. Assim, o autor continuou essa busca após o lançamento da segunda edição, em 2016.

Ele encontrou dois arquivos na Biblioteca Nacional, um do Conde de Iguaçu, genro da Domitila, com várias documentações sobre a relação dela com o genro e um álbum de autógrafos, com várias cartas de Dom Pedro I para a Marquesa, onde os pelos estão.

Pelos guardados por Domitila entre as cartas de D. Pedro I - Crédito: Paulo Rezzutti

Nas cartas de D. Pedro I para Domitila, ele menciona o envio de pelo do peito e de bigode, no entanto, Paulo afirma que aqueles pelos não pareciam ser dessas regiões do corpo. Além disso, há uma lenda sobre esses pelos, principalmente de que seriam pubianos, todavia, ninguém havia tirado fotos como ele conseguiu, assim como os outros documentos, que também foram fotografados pelo pesquisador.

Na época, o costume era enviar cabelos, inclusive, joias eram feitas com cabelos e materiais preciosos. Havia-se o hábito de ter o cabelo da pessoa amada junto a si, seja de uma pessoa viva ou não. Ao longo do século 19, isso foi moda em todo o mundo.

Domitila e o controle financeiro

O pesquisador conta que Domitilanegociou sua saída da Corte: "Ela negocia essa saída com o Dom Pedro I; vende a propriedade dela, vende a chácara para o Dom Pedro I, e leva todos os bens móveis para São Paulo, tanto que ela teve de fretar uma escuna para levar tudo isso, assim como os escravizados que tinha". 

Ele também afirma que o grande baque da Marquesa se deu ao sair da capital imperial, o Rio de Janeiro, e ir para São Paulo, que era uma cidade caipira e acanhada, bem diferente do que é hoje.

O Conde de Iguaçu, genro de Domitila, não tinha o controle do dinheiro e acabou penhorando joias que não deviam ser penhoradas, já que faziam parte do dote da filha. A Condessa também não era muito controlada. "Ela [a Marquesa] estava sempre ajudando esse casal complicado, por conta das encrencas financeiras que eles se metiam", afirma Rezzutti.

Pintura da Condessa de Iguaçu - Crédito: Domínio Público

A Condessa de Iguaçu, Maria Isabel de Alcântara, foi educada em um colégio renomado na Corte do Rio de Janeiro e ela foi a única menina, das filhas que teve com o imperador, que Domitila, de fato, criou. Como era filha do Imperador, a Marquesa queria que ela casasse com alguém importante e que tivesse acesso ao palácio.

No entanto, o Conde acaba se envolvendo com jogos e devido a problemas financeiros, a relação dele com a sogra (Domitila de Castro) vai se estremecendo. Tempo depois, quando voltam para São Paulo, ele decide se separar da filha não assumida de D. Pedro I.

Duquesa de Goiás

Outro assunto tratado na reedição do livro é a relação de Domitila com a filha mais velha que teve junto de Pedro I. A Duquesa de Goiás, Isabel Maria de Alcântara, foi a primeira filha da Marquesa de Santos com o Imperador do Brasil. Ela nasceu em 1824, mas D. Pedro I só a reconheceu em maio de 1826, dando o título que carregou durante toda a vida.

Pintura da Duquesa de Goiás - Crédito: Domínio Público

Ele reconhece que é o pai, mas em um decreto, coloca que a criança é de mãe desconhecida. Ele não reconhece que a Marquesa é a mãe da menina, porém, a coloca para ser criada pela Domitila, que ainda não tinha o título de Marquesa”, conta o pesquisador.

Mais tarde, o imperador colocou a menina para ser educada por ele e a mandou para França em 1829 assim que sua segunda esposa, D. Amélia, chegou ao Brasil. Após a morte dele, D. Amélia assumiu a educação dessa menina. A segunda imperatriz era uma esposa muito dedicada e continuou fazendo as vontades do marido após o seu falecimento.

D. Amélia não deixa a menina saber quem é a mãe, porque o D. Pedro I não queria que a menina e a mãe tivessem contato. Ele basicamente tira a menina da mãe, manda para a Europa, cresce na Europa e só vai descobrir que a mãe morreu em 1867 quando o Conde de Iguaçu consegue estabelecer comunicação com ela por cartas”, afirma Paulo.

Quadro de Domitila de Castro que está sob a posse de Rezzutti - Crédito: Paulo Rezzutti

Isabel Maria descobriu sobre sua progenitora quando já era viúva e morava na Alemanha, fazendo parte da nobreza do país. Uma prova desse contato é um retrato colorido (uma foto-pintura) da Marquesa de Santos enviado por seu cunhado, o Conde de Iguaçu, para que ela pudesse conhecer quem era sua mãe. Hoje, esse quadro está na posse de Paulo desde o ano passado.

Paulo possui agora dois novos projetos em andamento: a biografia da Princesa Isabel, que será provavelmente lançada em 2024, e a biografia de Dom João VI, previsto para ser lançada em 2026. Além disso, a biografia de Maria Antonieta também está sendo finalizada pelo pesquisador, no entanto, a data de lançamento ainda não foi confirmada.