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Quando Norton I se autoproclamou imperador dos Estados Unidos

Em vídeo, o pesquisador Paulo Rezzutti revisitou a história desse excêntrico "governante" norte-americano que conquistou diversos seguidores

Ingredi Brunato Publicado em 23/11/2023, às 20h00 - Atualizado em 22/12/2023, às 10h20

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Fotografia de Joshua Norton - Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons
Fotografia de Joshua Norton - Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Em 1859, os Estados Unidos eram comandados pelo presidente James Buchanan, o décimo quinto a assumir o cargo na história norte-americana, logo antes do famoso Abraham Lincoln.

Naquele período, vale ressalta, o país já era uma República Federal Presidencialista há quase um século, porém, isso não impediu Joshua Norton de se autoproclamar como o novo imperador da nação em setembro daquele ano. 

Norton I, como passou a se chamar, "governou" o território estadunidense até janeiro de 1880, quando morreu. Ele escreveu uma série de decretos e proclamações, criou seu próprio dinheiro (cujas notas eram decoradas com uma foto sua) e conquistou diversos seguidores tanto em vida quanto após seu falecimento. 

A trajetória fora da curva dessa excêntrica figura histórica foi relembrada por um vídeo do pesquisador Paulo Rezzutti em seu canal de mesmo nome. Saiba mais sobre a curiosidade abaixo! 

Início da vida 

Joshua Abraham Norton nasceu na Inglaterra em 1818, oriundo de uma família de bem-sucedidos negociantes que, depois, se mudaram para a África do Sul para atuar no ramo naval. Infelizmente, seu pai começou a ter problemas financeiros, e, quando morreu em 1848, era Norton quem estava previsto para herdar as dívidas familiares, uma vez que era o filho homem mais velho ainda vivo.

Na época, porém, o futuro "imperador" já morava nos Estados Unidos, onde passaria o restante de seus dias. Ele estava bem de vida, aliás: entre 1845, quando aportou em solo norte-americano, até 1852, Joshua teve uma carreira próspera no ramo de imóveis. Ele era um cavalheiro respeitado, frequentador da alta sociedade e até mesmo um membro da maçonaria

Uma má decisão comercial em 1852, no entanto, abalaria suas finanças e o levaria a declarar a falência em 1856, o obrigando a se mudar com os dois cachorros para uma pensão cuja diária era 50 centavos. 

Sem dúvidas, essa transição abrupta de uma vida confortável para uma situação de pobreza foi dura para Norton — alguns acreditam, aliás, que essa reviravolta de eventos levou o homem à insanidade.  

Isso, pois, três anos mais tarde, ele viria a se autoproclamar como o imperador dos Estados Unidos em um comunicado publicado pelo jornal Evening Bulletin:

Por requisição peremptória de uma grande maioria dos cidadãos destes Estados Unidos, eu, Joshua Norton, antes da baía de Algoa, Cabo da Boa Esperança, e agora pelos últimos nove anos e dez meses de São Francisco, Califórnia, declaro e proclamo a mim mesmo Imperador destes Estados Unidos", anunciou ele, para a surpresa dos leitores do veículo. 

Em 1863, aliás, ele também adicionaria o título de "protetor do México" às suas nomeações imperiais. 

"Governo"

Fotos de Norton I / Crédito: Domínio Público

Obviamente nenhum representante dos Estados apareceu na reunião do recém-proclamado imperador. Mas isso obviamente não deteve Norton I. Ele decidiu que ia fazer sozinho os decretos necessários para as reformas que ele achava necessárias. Ao longo de mais de 20 anos, ele fez uma série de proclamações nos jornais como o legítimo soberano dos Estados Unidos. Também não é surpresa que elas continuaram sendo ignoradas", narrou Paulo Rezzutti em seu vídeo. 

Segundo o pesquisador, o imperador fez decretos relativos a inúmeras questões, diversas delas diziam a respeito ao condado de São Francisco, onde morava. Ele pediu pela "melhoria da limpeza urbana" e "dos serviços de bonde", entre outras pautas. Um detalhe surpreendente das visões políticas de Norton I, por sua vez, é a natureza progressista de muitas delas:

"Ele fez uma série de proclamações contra a discriminação de minorias e imigrantes: exigiu o fim das restrições contra negros no transporte público e nas escolas, proclamou que agentes públicos que agissem contra os interesses dos indígenas deveriam ser julgados por uma assembleia de chefes dos povos originários e proibiu leis discriminatórias que atingiam chineses, judeus e alemães, por exemplo. Suas proclamações também defenderam o voto das mulheres, a separação entre Igreja e Estado e o direito a uma taxação justa que não prejudicasse o cidadão", relatou Rezzutti

Havia também decretos menos sérios, com alguns dos mais excêntricos sendo aqueles em que o "imperador" proclamava algum cidadão rei ou rainha por um dia. Em geral, os beneficiados eram pessoas que haviam sido gentis com ele ou simplesmente que Norton I sentia que mereciam algo para levantar o astral. 

Com o tempo, a insistência do homem em dizer que era o imperador dos EUA acabou fazendo com que se tornasse uma celebridade local. Ele comia à vontade sem qualquer custo em restaurantes e fazia viagens também gratuitas, pagando frequentemente com seu próprio dinheiro — cujas notas continham fotos suas, o "chefe de Estado".

O melhor de tudo é que, embora muitos achassem graça de seu estilo de vida, o carismático 'imperador' acabou por cativar uma verdadeira legião de apoiadores. As empresas acabavam entrando na brincadeira por questões de publicidade, conforme explicou o pesquisador e youtuber. 

Um dia, ele tentou pegar um trem da Ferrovia Central Pacific e o bilheteiro se recusou a aceitar os seus bônus. O imperador, indignado, começou a discutir com ele e o condutor do trem, vendo a confusão, pediu desculpas ao imperador e ordenou que o pagamento fosse aceito em bônus. Depois disso, o dono da ferrovia ofereceu a Norton I um passe gratuito para todos os trens da Central Pacific. Esse empresário usou isso como propaganda positiva", contou. 

Houve, inclusive, uma ocasião em que o homem foi preso por um policial que o tentou internar à força em uma instituição psiquiátrica. A internação, no entanto, acabou chegando ao fim justamente por conta dos protestos intensos da população estadunidense. 

"Graciosamente, Norton publicou um perdão imperial ao policial infrator. A partir daí, todos os policiais saudavam Sua Majestade quando ele passava pelas ruas", comentou Rezzutti

A morte do imperador 

Joshua Norton faleceu em 1880, após sofrer um mal súbito enquanto andava pela rua, o que levantou a suspeita de um derrame. Cerca de 10 mil pessoas compareceram ao seu funeral para se despedir do querido imperador de mentirinha.

Alguns de seus apoiadores mais endinheirados, inclusive, fizeram uma vaquinha para financiar um enterro de qualidade para Norton I. Hoje, ele repousa no cemitério de Woodlawn, em São Francisco, com sua lápide sendo visitada todos os anos por admiradores e curiosos. 

Para saber muito mais detalhes a respeito da vida do único imperador que os Estados Unidos já teve, confira abaixo o vídeo de Paulo Rezzutti na íntegra: