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Matérias / Hollywood

Anita Page, a estrela do cinema mudo que era cobiçada por Benito Mussolini

Quando se tornou um sucesso do cinema americano, em 1928, a atriz passou a receber inúmeras cartas do ex-Primeiro Ministro da Itália. “As cartas dele eram tão pegajosas, tão doces e, na verdade, tão tocantes"

Fabio Previdelli Publicado em 25/11/2020, às 19h00

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A atriz Anita Page - Wikimedia Commons
A atriz Anita Page - Wikimedia Commons

Anita Page, nascida Anita Evelyn Pomares, assinou contrato com a MGM em 1928, alcançando o estrelato nos últimos anos do cinema mudo após atuar em produções de sucesso como ‘Contando ao Mundo’, ‘Enquanto a Cidade Dorme’ e ‘Nossas Donzelas Modernas’. Page também atuou em ‘Broadway Melody’, o primeiro filme totalmente sonoro, que ganhou o Oscar de melhor filme em 1929. 

Muito jovem e popular naquela época, a “latina de olhos azuis” ou “o rosto mais bonito de Hollywood” na década de 1920, como era conhecida, atraía uma multidão de fãs de diversas partes do mundo. Entretanto, um deles se destacava dos demais: Benito Mussolini

Fonte de admiração de um ditador 

"Eu conheci tantos homens bons", diz ela em entrevista ao The Guardian, em 2000. "Eu conheci Mussolini. Ele costumava escrever para mim”. Até então, a atriz de 90 anos — na época —, jamais tinha tocado nesse ponto.  

Uma foto rara de Mussolini / Crédito: Domínio Público

O assunto surgiu durante uma ligação casual, no meio da madrugada, ao jornalista Austin Mutti-Mewse para falar sobre uma entrevista que a cineasta Leni Riefenstahl acabara de conceder na Feira do Livro de Frankfurt, onde divulgou sua biografia.  

"Ela conheceu um amigo meu na Itália”, disse. "Leni era amiga íntima de Adolf Hitler, ou assim dizem. [...] Bem, Leni tinha Hitler e eu Mussolini. Talvez Leni e eu devêssemos ficar juntas, você sabe, como garotas comparando notas”, disse rindo. "Recebi as cartas mais doces de Mussolini, eram muito boas”. 

Acostumada a interpretar garotas de programa amorais e beberronas, tudo isso misturado a sua aparência, fazia com que a atriz costumasse a atrair milhares de admiradores homens, recebendo centenas e centenas de cartas todas as semanas. “Entre os filmes, assinei cartas de fãs. Recebia muitas delas”, relembra. Para lidar com toda a demanda, ela contratou sua mãe, Helen Pomares

Mas, ainda assim, Anita abria algumas de suas próprias correspondências. Ela se lembra de ter encontrado a primeira carta de Mussolini em meados de 1929. “Fiquei tão animada. Fiquei tão emocionada por abrir esta linda carta de adoração”, disse. O postal seguiu-se de outro, aberto por sua secretária. Reconhecendo a caligrafia, Anita abriu um terceiro. 

Em uma semana, a atriz encontrou oito cartas do Duce. Enquanto outros fãs apenas pediam um autógrafo, Page diz que as missivas do ex- Primeiro Ministro da Itália eram mais obsessivas. Além de detalhar cada movimento que ela fazia nos filmes, ele mandava fotos de si mesmo e implorava a ela por um retrato autografado em troca. "Oh, querido, as cartas dele eram tão pegajosas, tão doces e na verdade tão tocantes. Ele obviamente amou o que viu na tela: eu." 

A queridinha do Duce 

"Ele gostou dos filmes primeiro, depois de mim. Ou talvez minha aparição nos filmes o tenha feito querer assisti-los em primeiro lugar. Meu cabelo parecia ser uma grande coisa. Pode ter parecido bagunçado, mas era esse o visual. Ele até queria uma mecha", relembra. "[...] Minha mãe e meu pai tiveram que vir e colocar minhas fotos em envelopes, sabe, as pessoas queriam ter uma parte de mim. Eu era grande!”. 

Até certo ponto, a MGM era tolerante com as aventuras de Anita. Entretanto, o vice-presidente do estúdio, Irving Thalberg, era apaixonado pela atriz, deixando, em diversas ocasiões, transparecer seus sentimentos. "Ele gostava que o chamasse de papai", diz ela. "Nada aconteceu. Eu disse a Irving: 'Admire-me de longe, querido, e isso será ótimo para nós dois’”. 

Anita Page posando para uma revista em 1929 / Crédito: Wikimedia Commons

Quando o estúdio soube que estavam chegando pilhas de cartas de Mussolini endereçadas à ‘estrela de cinema Anita Page, MGM Hollywood’, eles começaram a ficar nervosos. Entretanto, Page remete isso a obsessão de Thalberg. “Irving tinha ciúme de qualquer atenção. Disso estou certa”. 

O chefe do estúdio, Louis B. Mayer, pensou que seria um erro vazar informações sobre as cartas de amor de Mussolini. Com medo de um escândalo, Mayer ordenou que Page não respondesse. Até mesmo o envio de um retrato assinado foi estritamente proibido. Porém, a mãe da jovem atriz não obedeceu. 

Dona Pomares disse que fã é fã e sua filha nunca disse não a um pedido, principalmente de um estrangeiro tão importante. Ele também mandou presentes — ela se lembra de um perfume e um pacote de comida —, mas a MGM os enviara de volta com notas datilografadas dizendo: “obrigado, mas não, obrigado”. 

A relação não concretizada  

"Ela foi muito aberta sobre dizer a todos que Mussolini estava apaixonado por ela. Basicamente, não acho que ela percebeu quem ele era”, explica o ator David Rollins, contemporâneo de Anita na MGM. 

“Até 1933, poucas pessoas realmente sabiam quem ele era nos Estados Unidos. Mas Anita sabia que ele era importante o suficiente para fazer um grande alarido por causa da correspondência dos fãs”, explica. 

Depois que Anita deixou a MGM, em 1932, ela fez uma série de testes para a Fox. Ao que tudo indicava, as duas partes pareciam querer fechar um contrato. Porém, mais tarde, soube que o chefe da Fox almoçou com Mayer no dia em que ela foi chamada para assinar um contrato. Assim, o desejo nunca se materializou.  

Depois de deixar a MGM, Anita pensou que Mussolini havia desistido dela também. Porém, acabou descobrindo que, ao longo de um período de quatro anos, sua mãe o havia enviado mais de 20 fotos autografadas. "Nunca conheci Mussolini", diz ela, "embora com certeza gostaria”. Porém, ela faz um adendo. “Não estou dizendo que teria me casado com ele." 

"Mussolini pode ter gostado de mim e eu sei que fiquei muito satisfeita com toda a atenção, mas realmente acho que ele era um porco. Afinal, seu povo não tinha liberdade. As pessoas deveriam ser capazes de falar o que pensam. Se ele escrevesse para mim hoje, eu diria a ele que as pessoas deveriam ver filmes. A prática abre sua mente e faz você pensar. Eles lhe dão inspiração. Espero ter entretido e inspirado alguém” conclui. 

O líder fascista Benito Mussolini / Crédito: Getty Images

Anita Page morreu em 6 de setembro de 2008, aos 98 anos, enquanto dormia em sua casa, em Los Angeles. A atriz foi enterrada em San Diego. Por sua contribuição na indústria do cinema, ela recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, no Hollywood Boulevard 6116.


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