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Matérias / Monteiro Lobato

Como o petróleo brasileiro se tornou uma causa para Monteiro Lobato

Na década de 1930, Monteiro Lobato se tornou amigo de um engenheiro suíço e, em cartas, falavam sobre poder, literatura e petróleo

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 04/03/2023, às 16h00

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Fotografia antiga de Monteiro Lobato, um dos mais famosos escritores brasileiros - Domínio Público via Wikimedia Commons
Fotografia antiga de Monteiro Lobato, um dos mais famosos escritores brasileiros - Domínio Público via Wikimedia Commons

Monteiro Lobato é, hoje, não só considerado um dos maiores nomes da literatura nacional, como também uma figura muito contraditória — com problemáticas em suas obras relacionadas principalmente a racismo. Porém, um fato que nem todos sabem sobre o criador da turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo, é que ele também era, na época em que estava vivo, um grande entusiasta do petróleo brasileiro.

Entre os anos de 1934 e 1937, de acordo com o site da Unicamp, Monteiro Lobato e o engenheiro do petróleoKarl Werner Frankie — um suíço que viera ao Brasil em 1920, mudando seu nome para "Charley Frankie" — tiveram uma longa e intensa troca de cartas, que, eventualmente, fez deles bons amigos. Porém, o que se espera de uma conversa com um dos principais escritores do Brasil, na época?

Surpreendentemente, a 'bolha' do escritor foi ultrapassada nas 147 cartas que chegaram às mãos da professora e pesquisadora Kátia Chiaradia, uma grande fã das obras de Lobato, que as recebeu de um de seus alunos, uma grande coincidência, visto que ele era descendente do tal engenheiro suíço. Nos escritos, os dois homens falavam muito sobre três temas, sendo o terceiro o mais curioso: poder, literatura e, por fim, petróleo.

Das cartas, 91 eram de Lobato para Frankie, e outras 39 do engenheiro para o escritor; haviam ainda alguns documentos técnicos sobre a exploração do petróleo no território brasileiro. "Nessas cartas, Lobato, além de se familiarizar com alguns termos técnicos-geológicos da exploração petrolífera, faz críticas contundentes ao Código de Minas de 1934 e ao ‘atraso brasileiro’, protagonizando a história das primeiras companhias petrolíferas do Brasil", explica a Chiaradia.

E Monteiro Lobato de fato teve importância para todo o movimento de exploração petrolífera do Brasil, de forma que o famoso slogan "o petróleo é nosso", teria sido dito pelo escritor em uma de suas últimas entrevistas, à rádio, pouco antes de morrer.

Trabalho nas pesquisas

Ao contrário do que muitas pessoas podem presumir, Monteiro Lobato não foi apenas um ativista da causa do petróleo nacional, incentivando sua exploração, como também trabalho efetivamente nas pesquisas pela busca do chamado "ouro negro".

Entre 1932 e 1937, o escritor se filiou a três diferentes empresas: Cia Petróleos do Brasil, Cia de Petróleo Nacional e Cia Mattogrossense de Petróleo; além disso, ainda se associou à pesquisa da petrolífera Alliança Mineração e Petroleos LTD (AMEP), um departamento da Companhia de Petróleo Nacional.

Logo, o escritor não só descobriu que havia petróleo em diversas áreas do solo nacional, como também percebeu que o Brasil, com a descoberta, poderia se tornar tão rico quanto os Estados Unidos, de forma que esses dados foram divulgados e até mesmo serviram de inspiração para algumas de suas obras: 'O Escândalo do Petróleo' (1936), 'A Luta pelo Petróleo' (1935) e inclusive o infantil 'O Poço do Visconde' (1937).

Os livros 'A Luta pelo Petróleo' (1935), 'O Escândalo do Petróleo' (1936) e 'O Poço do Visconde' (1937), respectivamente
Os livros 'A Luta pelo Petróleo' (1935), 'O Escândalo do Petróleo' (1936) e 'O Poço do Visconde' (1937), respectivamente / Crédito: Reprodução/Unicamp

Preocupação

Na disputa pelo petróleo, havia se tornado uma grande preocupação para Monteiro Lobato e Charley Frankie o fato de engenheiros norte-americanos da empresa Standart Oil afirmarem ao governo brasileiro que, no país, não tinha petróleo. "Lobato ficou conhecido como o ‘pai’ da Petrobrás, porque sempre foi contra a pesquisa americana no Brasil", aponta Kátia em tese.

Ele era a favor da iniciativa privada e tinha intenção de fazer uma parceria com a empresa alemã ELBOF à qual Frankie também era ligado, como representante técnico."

Lobato acreditava que a Standart Oil tinha o comportamento "de um polvo", nessas palavras, disfarçando-se até que, quando fosse conveniente, prendesse sua vítima — no caso, os petroleiros brasileiros —, assunto esse tratado em 'O Escândalo do Petróleo', mas com devido cuidado para não deixar óbvio a quem se referia.

Como já mencionado, todo o interesse pelo petróleo nacional levou Lobato a escrever três livros. Porém, como não era a favor da estatização das pesquisas do petróleo, e sim da iniciativa privada, sua atuação divergia dos interesses do então presidente, Getúlio Vargas. O resultado? Bom, Lobato acabou preso.

Morri um bom pedaço na alma", desabafou o escritor taubateano em 1941, depois de seis meses preso na ditadura do Estado Novo. 

Bastidores do petróleo

"Lobato dedicava-se visceralmente aos ‘bastidores do petróleo’, por meio de intensa troca de cartas, buscando os mais diversos arranjos políticos e comerciais. O que não está claro nos livros, mas conseguimos perceber pela leitura das cartas, é como Lobato fazia parte do cenário político da época, como era ouvido, como era alguém que estava em todos os ambientes, tinha ‘ouvidos’ em todos os ambientes e como usava a literatura porque ele era conhecido não por ser um perfurador, mas por ser um grande escritor", aponta Kátia, conforme portal da Unicamp.

O escritor Monteiro Lobato
O escritor Monteiro Lobato / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons