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Matérias / Múmia sereia

Enigma da estranha “múmia sereia” do Japão é solucionado

Pesquisadores desvendaram o mistério sobre o suposto animal, que lembra um híbrido de peixe e macaco

Eduardo Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 15/02/2023, às 16h46 - Atualizado em 16/03/2023, às 17h36

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A "múmia sereia" que é cultuada no Japão - Divulgação / Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki
A "múmia sereia" que é cultuada no Japão - Divulgação / Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki

Durante séculos, fiéis se dirigiram até o templo Enjuin, que fica em Asaguchi, no sul do Japão, para observar um estranho e diferenciado artefato que chamou atenção não só aos locais, mas a pesquisadores e curiosos do mundo todo. O que muitos acreditavam ser a “múmia de sereia” era exposta no santuário e fazia parte do templo, mesmo que ninguém soubesse, de fato, o que ela era.

O enigma da identidade do animal mumificado permaneceu até recentemente. Pesquisadores da Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki, que fica na província japonesa de Okayama, estudaram a curiosa múmia de 30 centímetros que parecia um híbrido de macaco com peixe e, segundo a revista Vice, descobriram seu mistério.

História da múmia

Entre os anos de 1736 e 1741, um pescador disse ter capturado um espécime estranho e nunca antes visto em uma região desconhecida do Japão. A "múmia de sereia" tinha 30,5 centímetros e vendida a uma família abastada. Essas informações estão registradas em uma nota dentro da própria caixa que a guarda.

Anos depois, de uma maneira que ninguém sabe muito bem como, a múmia foi parar no templo Enjuin, onde está até hoje. Kozen Kuida, sacerdote-chefe do templo, explicou ao jornal Asahi Shimbun que uma crença de séculos relaciona a múmia de sereia a propriedades curativas e medicinais, como um presságio de boa saúde.

É provável que a múmia misteriosa seja associada à boa saúde e à longevidade devido a lendas japonesas que tratam do assunto. No folclore do Japão, existem dois tipos de sereias: os Amabies, que teriam bicos no lugar da boca e três nadadeiras, e os Ningyos, que seriam criaturas similares aos peixes, mas com cabeça de ser humano.

Uma lenda famosa na ‘Terra do Sol Nascente’ é a de “Yao Bikuni”, uma mulher que teria comido a carne de uma sereia Ningyo acidentalmente e vivido 800 anos.

Pesquisando a múmia

Hiroshi Kinoshita, um membro do Okayama Folklore Society, se deparou com a múmia em uma enciclopédia de criaturas míticas. Ao compartilhar o achado, arqueólogos e paleontólogos liderados por Takafumi Kato começaram a pesquisar o artefato, depois de muito trabalho de Kinoshita para convencer o templo a permitir que o artefato fosse estudado.

A múmia, com torso de macaco, cauda de peixe e cabelos e unhas humanas costuradas, representava um enigma aos pesquisadores, que não sabiam de quais animais vinham as partes do fóssil e como ele foi criado.

Para iniciar a pesquisa, os cientistas submeteram o fóssil a uma tomografia computadorizada em que os ossos foram fotografados em detalhes. Esse procedimento ocorreu no início de 2022, e foi a primeira parte da pesquisa.

Depois, o estudo incluiu a coleta de informações de DNA dos diferentes ossos das espécies unidas na mesma múmia

Do que é a múmia?

Os pesquisadores da Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki perceberam que a “múmia de sereia” não era, realmente, composta dos restos mortais de um animal, mas sim um objeto criado por seres humanos.

Com base em nossa análise e na história da criação da múmia no Japão, só podemos concluir que a 'múmia de sereia' provavelmente foi feita pelo homem”, disse o paleontólogo Takafumi Kato
Reconstrução em 3D de como seria a aparência da "múmia de sereia" - Divulgação / Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki 

A “múmia” era feita não de animais, mas de papel, tecido e algodão. Algumas das imagens de raio-X da sereia mumificada mostram que faltavam ossos importantes do crânio e do esqueleto à criatura. A parte inferior do corpo, porém, tinha verdadeiros ossos de peixe. Os dentes da “múmia” eram de um peixe carnívoro, enquanto seus braços, ombros e bochechas eram cobertos por pele de baiacu.

Por meio da técnica de datação por radiocarbono, os pesquisadores descobriram que a “múmia” foi provavelmente feita no final do século 19. Os pesquisadores não conseguiram encontrar o responsável pela fabricação da “múmia de sereia”, mas desconfiam de ligações com o “povo do mar”, que data do século 8. Esses artefatos são fabricados desde o período Edo (1603 - 1868).

Um vídeo de YouTube mostra o processo de exame e pesquisa do objeto. Assista abaixo: