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Matérias / Europa

A eugenia promovida por um pesquisador famoso na Suécia

Herman Bernhard Lundborg, um cientista sueco, tinha visões eugenistas que impressionaram os nazistas

Paola Orlovas, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/02/2022, às 09h00

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Herman Bernhard Lundborg, famoso eugenista sueco - Wikimedia Commons
Herman Bernhard Lundborg, famoso eugenista sueco - Wikimedia Commons

O primeiro diretor do Instituto sueco para o estudo de Biologia Racial, localizado em Uppsala, Herman Bernhard Lundborg, compartilhava de um pensamento comum na época, no início do século vinte.

Lundborg, assim como muitos de seus colegas estudiosos, classificou os nórdicos como parte de uma raça superior, e por isso enxergava a miscigenação, independente de com qualquer raça que fosse, prejudicial.

Entre as raças inferiores para o primeiro diretor do instituto, nascido em 1868, estavam o povo indígena Sami, os ciganos, os judeus, os finlandeses e outras minorias. Para ele, as outras raças poderiam enfraquecer os povos escandinavos, que idolatrava antes mesmo de tomar contato com a ideologia nazista e os estudos de Josef Mengele.

Maja Hagerman, uma jornalista sueca, que fez um livro e documentário sobre os experimentos de Lundborg, falou um pouco sobre o lugar que a Suécia ocupava dentro da ideologia eugenista no mundo em uma entrevista ao site Público.

Estudiosos da Alemanha, que depois iriam se tornar especialistas influentes dentro do campo racial e dar sentenças de morte dentro do Terceiro Reich, tinham inveja da Suécia, onde estava localizado o primeiro instituto para se estudar raça no mundo”, explicou a cineasta.

O Instituto sueco para o estudo de Biologia Racial, fundado em 1922, teve um papel importante na disseminação de teorias eugenistas na Alemanha, nos Estados Unidos e até mesmo em outros países escandinavos.

'Superiores' ou 'inferiores'

Herman Bernhard Lundborg, que foi seu primeiro diretor, contribuiu bastante para isso, tendo começado a medir crânios de nativos e tirar fotos de pessoas peladas anos antes, em 1913.

O pesquisador eugenista usou de diversos fatores fisiológicos para apoiar seus preconceitos, estudando fisionomias, analisando pelos pubianos, e, por fim, classificando as pessoas que usava nos estudos como “superiores” ou “inferiores”. Grande parte de suas viagens foram, de início, para terras de povos indígenas dentro da própria Escandinávia, indo para Lapland, por exemplo.

"O processo de 'suecificação' dos indígenas foi muito difícil", explicou Stefan Mikaelson, o presidente do parlamento Sami, que foi repercutido pelo Público . "A discriminação institucional estrutural é baseada no racismo. Os indígenas eram vistos como menos valiosos em comparação com os povos da sociedade dominante."

Para alimentar o mito da superioridade nórdica, ele buscou tentar demonstrar que os crânios da população indígena eram menores, e que eles, portanto, eram braquicefálicos. Enquanto isso, os escandinavos, de acordo com Lundborg, teriam crânios mais longos, e então eram dolicocéfalos.

O eugenista usava essas afirmações para dizer que um povo possuía mais morais do que o outro, que era definido como selvagem. Influenciado por nazistas, que o parabenizaram por suas “habilidades” antropológicas, o cientista criou seu próprio instituto, que chamou de Instituto de Antropologia Kaiser Wilhelm.

Como animais

Herman Bernhard Lundborg tratava os Sami, povo indígena natural das terras nórdicas, como animais que poderia categorizar e estudar. O eugenista fez inúmeras fotografias deles, e elas acabaram sendo encontradas anos depois de sua morte.

Estavam acompanhadas de livros volumosos empilhados dentro do Instituto sueco para o estudo de Biologia Racial em Uppsala. Ninguém sabia que esses registros estavam ali até eles serem encontrados e investigados, levantando discussões sobre racismo. 

O próprio nome que havia sido dado pelos suecos aos Samis, Lapp, era racista, sendo um exônimo que também poderia significar 'idiota' ou 'vagabundo'. Lundborg não seria o primeiro dos eugenistas suecos, mas ele usaria do preconceito da sociedade do país para fazer pesquisas absurdas.

O eugenista, inclusive, foi aproveitado por pessoas dentro do governo sueco e dentro de companhias de mineração, que tomaram terras dos Sami. 

Os estudos de Herman Bernhard Lundborg também foram utilizados para justificar campanhas de esterilização daqueles que não eram “desejados” pelos racistas, como os próprios Sami, mas também judeus, finlandeses, ciganos e outras minorias dentro do país, que ocorreram, segundo o Público, até a metade dos anos 1990.