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Matérias / Personagem

Genie Wiley: A melancólica história da menina que passou anos trancada

Fruto de anos de maus tratos, a garota chamou atenção da comunidade científica dos Estados Unidos após sua mãe levá-la para o convívio social

Caio Tortamano Publicado em 02/04/2020, às 06h00

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A reclusa garota Genie Wiley - Divulgação
A reclusa garota Genie Wiley - Divulgação

Até seus 13 anos de idade, Genie Wiley não tinha a menor noção do que era o convívio em sociedade. A decisão foi do pai dela, Clark, que descobriu quando ela tinha apenas 20 meses de vida que ela tinha uma pequena deficiência de aprendizagem — o que, para ele, representava um grande problema.

Assim que soube da notícia, o homem fez questão de banir a filha de qualquer contato que pudesse a constranger ou mesmo constranger outras pessoas. Por isso, ninguém poderia fazer qualquer contato com Genie, que ficava o dia todo trancada em um quarto escuro e amarrada em um pinico, como se fosse uma espécie de camisa de força.

Clark reprimia a garota em qualquer infração que ela viesse a cometer — o que, essencialmente, incluía em emitir qualquer tipo de som. O pai dela reproduzia o som de um rosnado toda vez que ele achava que a garota fazia algo errado dentro do cômodo onde ela vivia, e, possivelmente, ela sofria de abusos sexuais devido ao comportamento sexual inapropriado que mantinha em locais públicos.

Descoberta

Depois de 13 anos, sua mãe Irine, que era cega — por isso dizia não conseguir interferir nas ações do pai — conseguiu criar coragem para ir atrás do serviço social e, em 1970, aos 14 anos, Genie parecia uma criança de 8, tamanha sua falta de desenvolvimento.

O caso de abuso infantil foi logo aberto — contra ambos os pais — pouco depois da mãe ter ido procurar o serviço social. Clark não chegou a ser culpado de nada, uma vez que se matou pouco antes do julgamento, deixando para trás uma nota que dizia “o mundo não iria entender”.

Cuidados

Tendo sua guarda tomada pelo Estado da Califórnia, Genie sabia pouquíssimas palavras quando foi levada para o Hospital Infantil da Universidade de Los Angeles. Os profissionais do local diziam que ela era a criança mais profundamente danificada que eles já tinham visto.

O caso logo tomou grandes proporções, tanto que Genie não é nem sequer o nome verdadeiro da garota, mas uma identidade inventada para proteger a criança da exposição e cobertura midiática.

A menina passou a viver sob cuidados médicos / Crédito: Divulgação

Para os cientistas, o caso era um grande marco na história das pesquisas linguísticas, e uma equipe foi formada e financiada pelo governo californiano para que dessem continuidade às pesquisas com a Menina Selvagem — como seria chamada genericamente.

Genie seria a chave para esses pesquisadores descobrirem como o cérebro humano se desenvolve, e se as chamadas idades críticas — períodos em que certas habilidades humanas seriam restritas — eram realmente verdadeiras. Por exemplo, se ela conseguiria aprender a andar ou falar e se comunicar com as pessoas.

A menina provou que era mentira a crença de que a linguagem não poderia ser aprendida depois da puberdade, uma vez que ela mostrou grande avanço no conhecimento de palavras e na ampliação de seu vocabulário.

Susie Curtiss foi uma das pesquisadoras que mais se envolveu com Genie durante os anos de pesquisa. Ela afirmou que “ela era inteligente” e listou algumas das complexas tarefas que uma menina privada de convivência conseguia realizar: “Ela conseguia ordenar uma série de imagens para que compusessem uma história, além de formar estruturas com gravetos. Ela tinha outros sinais de inteligência”.

Apesar disso, ela não conseguia formular frases completas, e expressava seus pensamentos com palavras soltas que juntas faziam algum sentido. O caso de Genie ajudou a mostrar que existe um limite linguístico em aprender um idioma se você não fala fluentemente alguma outra língua.

Conflitos científicos

Porém, nem só de eurecas viveram os cientistas que cuidaram da garota, já que diversos membros da equipe se acusaram de estarem abusando de suas posições nas pesquisas para com a jovem.

Apesar dos avanços, Genie não compreendia totalmente o mundo a sua volta / Crédito: Dibulgação

Em 1971, a professora de linguística Jean Butler a levou para sua casa para que pudesse observar a capacidade de socialização da garota, percebendo que ela estava entrando em sua puberdade e que tinha um fascínio por baldes e outros reservatórios de líquido.

Porém, depois que Butler afirmou que a menina tinha pego rubéola, a professora afirmou que Wiley precisava ficar em quarentena com a garota. O que era para ser algumas semanas se tornou um tempo indeterminado, depois que Jean se candidatou para ser o lar adotivo de Genie.

Os outros cientistas acusaram Butler de estar conspirando para ganhar notoriedade no campo científico. Não durou muito tempo o período em que a cientista ficou com a garota, logo depois ela passou aos cuidados da família do terapeuta David Rigler, também do grupo de pesquisa de Genie.

Rigler parecia ser um bom hospedeiro para que a garota se desenvolvesse em paz e com segurança, sem outros interesses envolvidos. Além do que, David era muito mais aberto ao grupo de pesquisa de frequentar sua residência do que era Butler, ajudando nas análises.

Regresso

Quando atingiu a maioridade, porém, sua mãe entrou com um pedido na justiça para que a custódia da garota voltasse a suas mãos, já que o grande problema era com o falecido pai — Irine, afirmou, também, que os cientistas estavam explorando-a para próprio reconhecimento.

Um tempo depois, tendo dificuldade em criar uma pessoa que tinha claras diferenças ao comportamento normal de uma pessoa criada em sociedade, sua mãe colocou a garota novamente para ser adotada. Genie passou por alguns lares, dos quais inúmeros eram abusivos com a menina.

Certa vez, em um desses locais, ela vomitou e foi espancada por tê-lo feito sem querer. Desde então, Wiley ficava com medo de abrir a boca e parou de se comunicar ou mesmo de comer. Com isso, seus progressos foram regredindo cada vez mais e muitas das conquistas foram minimizadas.

Dias atuais

Seu paradeiro é pouco preciso, uma vez que nenhum grupo de pesquisa pode acompanhar sua vida depois da sua mãe ter ganho a proteção dela na justiça. Sua mãe morreu em 2003, e seu irmão John — que também sofreu com os abusos do pai, mas não chegou perto da situação de sua irmã — faleceu em 2011.

O último relato obtido dela foi a de um jornalista, Russ Rymer, que a visitou no seu aniversário de 27 anos e conta que: “O que eu vi foi uma grande e balbuciante mulher, com a expressão facial de uma vaca incompreendida, seus olhos mal focavam o bolo de aniversário. Seu escuro cabelo foi arrancado do topo de sua testa, dando a ela um ar de paciente de hospital psiquiátrico.”.

Se ela está nessa situação até hoje, não se sabe, e não foi por falta dos pesquisadores que se preocupavam com ela, como Curtiss, que afirma ter tentado contato de todas as maneiras possíveis, mas que foi proibida em todas suas tentativas. Em 2008, Wiley estava sob cuidados em um asilo em Los Angeles.


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