Nova série da Netflix sobre Griselda Blanco mostra que os três maridos da narcotraficante foram mortos a mando dela; mas realmente foi assim? Confira!
Éric Moreira e Isabelly de Lima Publicado em 02/02/2024, às 13h00 - Atualizado em 04/02/2024, às 11h09
Entre as séries mais assistidas da Netflix pelos brasileiros na última semana, está a nova produção inspirada na história real de uma das maiores e mais brutais narcotraficantes que já viveu: 'Griselda', baseada na "rainha da cocaína" e "madrinha do Cartel de Medellín".
A produção conta com a presença ilustre de Sofía Vergara no elenco, dando vida à personagem principal: Griselda Blanco. Além dela, outras figuras conhecidas também compõem o corpo de atuação, como a cantora colombiana Karol G e a atriz americana Vanessa Ferlito.
"Inspirado em eventos reais, este drama fictício retrata a jornada de Griselda Blanco desde Medelín até se tornar a 'Madrinha' do império do tráfico de drogas de Miami", destaca a sinopse da Netflix.
Ao longo de sua vida, Griselda Blanco seria conhecida não só pelo sucesso no mundo do tráfico de cocaína, como também pela brutalidade com inimigos ou ameaças.
Inclusive, Blanco se tornou suspeita de matar seus três maridos: Carlos Trujillo, pai de seus três primeiros filhos, Alberto Bravo e Darío Sepúlveda.
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Primeiro marido de Griselda Blanco, Carlos Trujillo não chega nem mesmo a aparecer na série da Netflix, embora sua importância para a vida da narcotraficante tenha sido significativa. Quando os eventos da produção se iniciam, ele já está morto, com Griselda fugindo da Colômbia após a morte do segundo marido.
Na história real, Trujillo e Griselda casaram-se quando ela ainda era adolescente. De acordo com a Business Insider, o homem era um falsificador de documentos e cafetão em Medellín, na Colômbia, e os dois se conheceram quando Griselda tinha apenas 13 anos.
No final da década de 1960, porém, os dois se divorciaram, já com três filhos: Uber, Dixon e Osvaldo (também chamado de Ozzy). No entanto, Blanco acabou suspeita de ter orquestrado a morte do companheiro por conta de uma "disputa comercial" — ela nunca foi acusada pelo crime.
Alberto Bravo, segundo marido de Griselda, tem uma relevância maior para a ascensão dela no narcotráfico nos Estados Unidos. Juntos, construíram as bases de seu império de drogas em Nova York.
Griselda e Bravo se conheceram pouco depois da morte de Trujillo, e ele traficava drogas em Medellín. Juntos, mudaram-se para o Queens, em Nova York, onde começaram a construir seu próprio cartel; eventualmente, também importariam pequenas quantidades de cocaína e, ainda, movimentariam muito dinheiro em drogas todos os meses.
Vale mencionar que, a princípio, o cartel era conhecido como "organização Alberto Bravo", e Griselda chamava menos atenção, de forma que seu nome sequer foi mencionado em um artigo do New York Times da época sobre as atividades do cartel.
Eventualmente as autoridades conseguiram progresso nas investigações, e conseguiram prender não só o casal, como mais de 30 subordinados em 1975, todos acusados de conspirar para fabricar, importar para os Estados Unidos e distribuir cocaína.
Após conseguirem fugir das acusações em Nova York, porém, Griselda e Alberto confrontaram-se no estacionamento de uma boate em Bogotá, o que acabou provocando a morte do homem.
Na série, o homem teria pedido que Griselda dormisse com seu irmão para apartar uma dívida do tráfico de drogas, o que ela obedeceu, e contribuíra para sua fúria.
No entanto, na vida real, o assassinato teria sido motivado por um desentendimento comercial: Griselda suspeitava que Bravo estivesse envolvido no roubo de milhões de dólares que faltava no 'caixa'.
Segundo Max Mermelstein, um antigo associado de Blanco, em entrevista ao South Florida Sun Sentinel em 1989, a narcotraficante teria "matado pessoalmente" Bravo, sofrendo um ferimento à bala no estômago na troca de tiros.
Ela me disse que estava parada na janela aberta do carro estacionado de Bravo e ele disse algo que a deixou furiosa. Então, ela estendeu a mão e enfiou o cano da arma na boca dele e puxou o gatilho. Simples assim. E eu acredito nela", conta Mermelstein.
A esta altura, Griselda já controlava um grande império das drogas e era conhecida por sua brutalidade, sendo conhecida também como "Viúva Negra". Vale mencionar que ela nunca foi acusada da morte de Bravo.
Outra figura importante na trajetória de Blanco é Darío Sepúlveda, com quem ela vive um relacionamento tumultuado. Os dois também tiveram um filho — o único vivo até hoje —, Michael Corleone Blanco, em 1978, mesmo ano em que se casaram.
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Não se sabe exatamente quando ou como os dois se conheceram. Ao contrário do que sugere o segundo episódio de 'Griselda', não há indicativos de que ele tenha sido realmente contratado para assassinar Blanco antes de se rebelar e matar, no lugar, seu então chefe, o irmão de Alberto Bravo, Fernando.
O relacionamento de Blanco e Sepúlvena chegou ao fim depois que ela o confrontou sobre uma suposta infidelidade, também contou Mermelstein ao Sun Sentinel, além de eles terem uma discussão sobre o desejo do homem de enviar o filho, Michael, à escola. Após a separação, Sepúlveda voltou para a Colômbia com o garoto, onde pensava que poderia mantê-lo protegido da mãe.
No entanto, Griselda era extremamente poderosa e influente. Tanto que, em 1983, Michael — então com apenas cinco anos — e Sepúlveda foram abordados por homens vestidos de policiais em Medellín, que mataram Darío a tiros.
Os policiais pediram a Darío que saísse do carro. Ele saiu e o algemaram, mas ele começou a correr. Os policiais abriram fogo e atiraram em Darío bem na frente do garoto", disse Max Mermelstein. "O pequeno Michael estava gritando e correu para abraçar o pai, mas quando chegou Darío estava morto. A execução foi feita por ordem da mãe de Michael."
Após isso, Michael foi devolvido à custódia de Griselda, com quem viveu até que ela fosse presa, em 1985, em Irvine, na Califórnia. E assim como nos outros casos, a mulher não foi acusada e sentenciada por essa morte.
Apesar do que tudo que se sabe sobre as relações conturbadas de Blanco, nem tudo teria acontecido dessa maneira. A 'rainha da cocaína', inclusive, não chegou a ser acusada formalmente ou presa pelas mortes.
José Guarnizo, jornalista e autor de "La Patrona De Pablo Escobar - Vida y Muerte De Griselda" ("A Patroa de Pablo Escobar - Vida e Morte de Griselda", em tradução livre) relatou detalhes sobre a participação de Blanco nessas ocasiões.
De acordo com ele, em entrevista à BBC, existem diferentes versões acerca da morte de Trujillo, o primeiro marido da viúva-negra do tráfico.
"Em vários livros dizem que ela mandou matá-lo, mas isso não é verdade. Pude confirmar que ele morreu em Nova York, que tinha cirrose e que tiveram que repatriar o corpo", relata Guarnizo.
Em relação ao segundo marido de Griselda, Alberto, o escritor explica que ele teria prometido uma noite com a esposa para o irmão, como citado anteriormente, mas que não há nenhuma evidência desse acontecimento, indicando até que ele teria morrido nas mãos de outra pessoa.
Há muitos testemunhos e documentos que indicam que Alberto Bravo foi morto em Bogotá e por uma ala do cartel de Medellín em que estavam vários dos traficantes que aparecem na série”, disse o biógrafo.
Já sobre Darío Sepúlveda, o último marido de Blanco, a série indica que ele morreu assassinado por questões familiares entre ele e a esposa. E é exatamente isso que Guarnizo acredita.
"Há vários indícios de que Griselda teve a ver com o assassinato de Sepúlveda porque ele levou o filho deles para a Colômbia. Inclusive ela, em uma entrevista a um produtor norte-americano, que eu transcrevo no livro, aceita que ele levou o menino", explicou o jornalista a BBC.
Assim, é possível que Griselda tenha sido responsável pela morte de um dos seus três maridos, contradizendo a crença anterior que sugeria seu envolvimento na morte de todos eles.
