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Matérias / Civilizações

Sabotagem e ataque surpresa: como surgiram as decisivas guerrilhas

Uma das táticas militares mais antigas da história surgiu muito antes de aparecer o nome usado para definir essa forma de combate

Roberto Navarro Publicado em 12/12/2020, às 07h00

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Resistência da guerrilha espanhola perante invasão de Napoleão - Wikimedia Commons
Resistência da guerrilha espanhola perante invasão de Napoleão - Wikimedia Commons

A expressão “guerrilha” vem do espanhol e tem o significado de “guerra pequena”. O conceito já era conhecido na China há mais de 2 mil anos – o filósofo e estrategista militar Sun Tzu sugeria em seu livro A Arte da Guerra diversos procedimentos para derrotar forças numericamente superiores e mais bem armadas.

Por volta de 210 a.C., durante a Segunda Guerra Púnica, a República Romana realizou ações consideradas precursoras das táticas de guerrilha para enfraquecer as tropas do general cartaginês Aníbal, evitando enfrentá-las em batalhas de grandes proporções.

Por ironia, alguns anos mais tarde, as próprias legiões romanas sofreriam emboscadas de pequenos grupos que moviam esporádicas guerras de atrito em resistência ao invasor.

Anos depois

No século 19, as mesmas táticas foram usadas na região dos Bálcãs e na Europa Central por populações cristãs que combatiam os ocupantes muçulmanos do Império Otomano.

No mesmo século, as Guerras Napoleônicas marcaram o emprego intensivo de operações de guerrilha por forças que resistiam ao avanço das tropas francesas, e foi nessa época, durante a invasão da Espanha, que a palavra passou a ser usada comumente para denominar essa forma de combater.

No chamado “Levante de Janeiro”, que começou em 1863 e estendeu-se até 1865, militantes nacionalistas poloneses e lituanos usaram com sucesso táticas semelhantes para hostilizar as tropas tsaristas russas que ocupavam seu território.

Emiliano Zapata - Divulgação/Klimbim

Entre 1910 e 1920, no México, o líder camponês Emiliano Zapata fez amplo uso de guerrilheiros, disfarçados com roupas civis para misturar-se à população civil, além de empregar estratégias de terrorismo para disseminar o pânico, com seus agentes conhecidos como “rapazes-dinamite”, que lançavam latas repletas de explosivos contra quartéis e concentrações de tropas do inimigo.

No mundo

A luta de guerrilhas viria a disseminar-se pelo mundo naquele mesmo século, sendo empregada novamente na Europa a partir de 1916 pelo Exército Republicano Irlandês (IRA) em sua guerra urbana contra soldados e civis britânicos, em ações tanto na Irlanda como na própria Inglaterra.

O uso bem-sucedido de táticas de guerrilha iria marcar naquele mesmo ano a Revolta Árabe (1916-1918) contra o Império Otomano, e logo em seguida algumas campanhas da Primeira Guerra Mundial, especialmente no leste da África, onde unidades alemãs enfrentaram forças aliadas numericamente superiores e mais bem equipadas, utilizando recursos como sabotagens e ataques-surpresa, seguidos de retiradas rápidas antes que o inimigo pudesse reagir.

Durante a Segunda Guerra Mundial, várias organizações de resistência à ocupação nazista atuavam na Europa lançando mão de atividades de guerrilha para opor-se às tropas alemãs, mais bem treinadas e com armamento superior.

As mais famosas dessas operações foram os ataques organizados pela Resistência Francesa, que costumava ser abastecida com armas, munições e explosivos lançados de paraquedas por aviões aliados.

Esses grupos chegaram a desenvolver armamentos especiais, como uma pistola de um único tiro, fabricada em massa e distribuída aos guerrilheiros.

Eles também dependiam de transmissões com o uso de rádios de ondas curtas, feitas principalmente pela emissora britânica BBC, que divulgavam mensagens em código com ordens especiais e planos de ataques.

Os vietcongues

Após a Segunda Guerra, grupos guerrilheiros na Europa Oriental lançaram-se à luta contra a presença de tropas soviéticas na Lituânia, provocando um conflito intermitente que se estendeu por quase 40 anos e só acabou em 1986.

Mas um dos mais bem-sucedidos movimentos de guerrilha aconteceu no Sudeste Asiático na segunda metade do século 20.

Os vietcongues /Crédito - Divulgação-Doug Niven

Grupos comunistas que já haviam utilizado táticas semelhantes para derrotar as forças coloniais francesas na Indochina organizaram, a partir de 1965, um gigantesco esforço para infiltrar guerrilheiros e armas no Vietnã do Sul, utilizando rotas pelo meio da selva que faziam parte da Trilha Ho Chi Minh e se estendiam pelo território de países vizinhos, como o Laos e o Camboja.

Embora sua eficiência militar tenha sido discutível – muitos historiadores modernos argumentam que os guerrilheiros vietcongues, na realidade, sofreram sangrentas derrotas quando confrontados pelas tropas convencionais dos Estados Unidos –, o impacto político e psicológico de suas ações foi decisivo para convencer a opinião pública americana de que a Guerra do Vietnã não podia ser vencida.

Os americanos parecem ter aprendido com a lição da história. Na década de 1980, foram ações de guerrilha praticadas por muçulmanos afegãos, financiados e armados pelos Estados Unidos, que expulsaram os invasores soviéticos do país, abrindo caminho para uma nova ameaça guerrilheira, que dessa vez iria voltar-se contra Washington: a Al-Qaeda.

Embora não obedeçam ao figurino de uma organização guerrilheira tradicional, os seguidores de Osama bin Laden lançam mão de estratégias típicas dessa forma de combate, enfatizando ações psicológicas para espalhar o terror e manter o adversário na defensiva, sem nunca saber ao certo onde e como vai ser atacado.

Enfraquecer inimigos

As táticas utilizadas por movimentos guerrilheiros fundamentam-se, sobretudo, na coleta de informações sobre contingentes, movimentação e armamentos do inimigo para a montagem de ações de sabotagem e emboscadas, sempre num ambiente de conflito de baixa intensidade.

Os objetivos principais são enfraquecer forças mais poderosas e solapar a autoridade, estimulando sempre que possível a ocorrência de rebeliões entre a população civil.

A existência de ações de guerrilha fez aumentar os custos financeiros e humanos para manter uma força colonial em territórios estrangeiros até um ponto em que a relação custo/benefício deixa de ser vantajosa, levando à retirada das tropas de ocupação.

A principal ação guerrilheira é o ataque-surpresa contra centros de comando, rotas de transporte e reabastecimento com a finalidade de causar caos econômico e político.

No planejamento e na execução desses atentados é importante contar com apoio da população local – outro ponto fundamental para o sucesso dos movimentos guerrilheiros, fornecendo-lhes abrigo, suprimentos, informações, recrutamento e financiamento.