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Matérias / Brasil

Torturada na frente dos próprios filhos, Amelinha Telles deu fim a impunidade de Carlos Brilhante Ustra

Após passar por atrocidades no DOI-CODI, Telles relatou os horrores vividos durante a ditadura militar brasileira

André Nogueira Publicado em 11/12/2019, às 11h02 - Atualizado às 11h03

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Amélia presta depoimento na Comissão Nacional da Verdade - Divulgação/Youtube
Amélia presta depoimento na Comissão Nacional da Verdade - Divulgação/Youtube

Muitos jovens e inocentes caíram nas mãos do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra durante a ditadura militar, e, felizmente, alguns sobreviveram para denunciar as atrocidades do torturador do DOI-CODI.

Um desses nomes foi Amelinha, que se comprometeu a expor Ustra e auxiliar famílias de desaparecidos através da Comissão da Verdade e outros órgãos.

Maria Amélia de Almeida Teles é, ainda hoje, militante e escritora dedicada à liberdade e à democracia. Durante a ditadura, participou da guerrilha do Araguaia e integrou o PCdoB na época radical do partido. Tinha 27 quando foi presa e torturada.

Na época, ela vivia clandestinamente, operando uma gráfica e colaborando com a luta armada junto ao marido, Carlos Nicolau Danielli. Em 1972, quando foi anunciada a prisão do casal, passou a sofrer sessões de tortura por alguns dias, até que Ustra, no comando da operação, ordenou que invadissem sua casa e trouxessem membros de sua família. A polícia retornou ao local com os filhos Edson (2 anos) e Janaína (5), e com sua irmã Crimeia, grávida de 8 meses na época.

Crédito: Domínio Público

Crimeia foi torturada e as crianças foram obrigadas a assistir às sessões pelas quais a mãe passou. Além disso, ela também foi estuprada, afirmando depois à CNV que essa era uma política sistemática. Impedida de ver os filhos, Amelinha passou um ano e meio presa no DOI-CODI por suas relações com o Partido Comunista do Brasil.

O único contato que passou a ter foi com a irmã Crimeia, com a qual se comunicava por cartas. Ela, por sua vez, foi torturada e presa, entrando em trabalho de parto na cela da cadeia. Foi solta antes de Amélia, e passou a ser sua fonte de informações do lado de fora da prisão. Carlos Nicolau, por sua vez, não teve a mesma sorte: torturado junto com Amélia, foi assassinado na sua frente.  

Com o fim da ditadura militar, Amelinha passou a auxiliar famílias na busca por entes desaparecidos na mão da repressão. Ainda ativa, trabalha em instituições que buscam por justiça depois das atrocidades do Estado Brasileiro. Também liderou a União de Mulheres de São Paulo, e coordenou o Projeto Promotoras Legais Populares; além de integrar a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo.

Ustra na CNV / Crédito: Wikimedia Commons

Em busca de justiça, Amélia Teles foi a primeira vítima na História do Brasil a ter sua reivindicação declaratória contra um criminoso político, fazendo com que Ustra se tornasse o primeiro (e único) militar a ser declarado oficialmente como torturador, em 2008.


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