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Matérias / Arqueologia

Maldições em tábuas romanas podem ter influenciado 'Apocalipse' na Bíblia

Novos estudos indicam que antigas tábuas de maldições romanas possuem semelhanças com último livro do Novo Testamento

Éric Moreira, sob supervisão de Ingredi Brunato Publicado em 14/02/2023, às 12h01

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Antiga tábua de chumbo romana com oração de vingança inscrita em latim - Reprodução/LEIZA/René Müller
Antiga tábua de chumbo romana com oração de vingança inscrita em latim - Reprodução/LEIZA/René Müller

Recentemente, um novo estudo traçou possíveis relações entre antigas tábuas de chumbo romanas que supostamente continham maldições e a passagem 'Apocalipse', último livro do Novo Testamento da Bíblia. Segundo os pesquisadores, ambos os textos apresentam não só descrições, como também frases e terminologias semelhantes.

Os resultados da pesquisa foram divulgados no dia 8 de fevereiro, como parte do projeto de pesquisa 'Rituais Desencantados', desenvolvido na Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, na Alemanha, e liderado por Michael Hölscher.

Em comunicado, o pesquisador explica que as maldições podem ter sido uma forma de "expressão indireta da necessidade de segregação e da tentativa de autopreservação de uma comunidade cristã primitiva muitas vezes ameaçada."

No livro 'Apocalipse', como apresenta a Revista Galileu, é possível encontrar palavras e até mesmo frases muito semelhantes às presentes nas antigas tábuas de chumbo de maldições descobertas emoutros períodos.

Na Bíblia, por exemplo, um anjo atira uma enorme pedra ao mar e diz "assim, com violência, será derrubada aquela grande cidade de Babilônia, e nunca mais será encontrada". A fala pode ser, segundo o estudo, uma maldição associada a uma antiga tabuleta de chumbo.

Além do mais, no livro bíblico é possível observar retratações do domínio romano e do culto ao imperador como fenômenos demoníacos e satânicos. "O livro do Apocalipse contribui para o processo de autodescoberta, a busca de uma identidade distinta por parte de uma minoria cristã em um mundo dominado por uma maioria romana pagã que prestava homenagens rotineiras não apenas ao imperador, mas também aos principais deuses romanos", explica Michael Hölscher.

Ainda, é possível que "aqueles que leram ou ouviram as palavras do 'Apocalipse' de João tenham visto passagens inteiras, frases únicas ou conceitos à luz de feitiços de maldição", o que seria um forte indício da influência da cultura das tábuas de feitiços pagãos na tradição cristã.

Tabuleta romana de chumbo com antigas maldições pagãs
Tabuleta romana de chumbo com antigas maldições pagãs / Crédito: Reprodução/LEIZA/René Müller

Antigas maldições

Conforme a Revista Galileu, rituais de maldição eram comuns no dia a dia do Império Romano, lançando encantamentos que eram, muitas vezes, inscritos ou esculpidos em finas folhas de chumbo, quando se pensava em causar danos a alguém. O uso das tábuas era tão comum que evidências semelhantes desse período já foram identificadas até mesmo em locais como o Egito e a Grã-Bretanha.

Até hoje, cerca de 1,7 mil feitiços em folhas de chumbo já foram compilados por pesquisadores, sendo muitos deles datados dos anos entre 500 a.C. e 500 d.C. Muitas destas maldições eram utilizadas até mesmo em situações simples, como entre lados opostos de processos judiciais, adversários esportivos e inclusive rivais em casos amorosos.

Frequentemente, essas tabuletas também eram depositadas em sepulturas, para que espíritos do submundo garantissem a eficácia dos feitiços.

O ritual de maldição como um todo não se restringia simplesmente à redação do feitiço como tal, mas também envolvia o ato de escrevê-lo, a perfuração das tábuas ou seu enterro em locais deliberadamente selecionados", explica Hölscher.