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Matérias / Brasil

Muito além de um quartel: A real origem do Exército Brasileiro, o R2

A história dos militares está diretamente ligada com a participação do Brasil em uma das maiores guerras

Ricardo Lobato Publicado em 01/07/2020, às 14h00 - Atualizado em 27/09/2023, às 16h10

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Militares brasileiros que participaram da Primeira Guerra Mundial - Domínio Público
Militares brasileiros que participaram da Primeira Guerra Mundial - Domínio Público

Ao contrário do que se possa imaginar, a história dos oficiais da Reserva de Segunda Classe do Exército Brasileiro (R2) não começa num quartel do Rio de Janeiro, nem nas escaramuças do Exército pelo interior do Brasil. Muito menos em uma das tantas guerras de disputa fronteiriça do Prata.

A história desses militares começa em um conflito distante, do outro lado do Atlântico, numa guerra em que a participação brasileira foi praticamente inexistente. Sua história começa nas enlameadas trincheiras da “guerra para acabar com todas as guerras”, a Primeira Guerra Mundial.

Com o advento da Grande Guerra, o Exército brasileiro enviou observadores militares para acompanharem “a grande guerra moderna” europeia. Alguns participaram das Batalhas do Marne e Verdun. Entretanto, além das observações de que o Brasil estava despreparado para uma guerra em escala industrial — um dos motivos da vinda da Missão Militar Francesa em 1919 — , foi a lição de que não bastava mobilizar grandes reservas de soldados: era preciso oficiais para comandá-los.

A então Escola Militar do Realengo não seria capaz, em tempos de belicismo, de prover oficiais suficientes para o Exército. A solução encontrada para a rápida substituição de oficiais subalternos e intermediários estava no que faziam ingleses e norte-americanos: programas de formação de oficiais da reserva.

No Reino Unido, os University Officers’ Training Corps (UOTC) existem desde 1642, época da Guerra Civil Inglesa — a efeito de comparação, a Batalha de Guararapes, marco fundacional do Exército, foi em 1648. Nos EUA, os Reserve Officers Training Corps (ROTC) remontam ao ano de 1862, em plena Guerra da Secessão, apesar de terem sido formalizados só em 1915.

Ambos se mostraram um sucesso durante a Grande Guerra, sendo, diante das baixas colossais do conflito, os grandes responsáveis pela rápida capacidade de mobilização e substituição de efetivos dos países Aliados no conflito.

No caso brasileiro, apesar de o Exército reconhecer a formação de oficiais qualificados para a Reserva, não fosse pelos esforços do então Capitão Luiz Araújo Correia Lima, a ideia não teria saído do papel. Mesmo assim, além de o primeiro Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) ter sido inaugurado só em 1927 — ao contrário dos modelos bretão e estadunidense, em que é possível fazer carreira, alcançando o generalato — , no Brasil, o oficial podia alcançar no máximo o posto de Capitão. Hoje, apenas até Primeiro-Tenente.

As lições da Primeira Guerra e os esforços de Lima prepararam o país para a guerra seguinte. Quando Vargas declarou guerra ao Eixo, em agosto de 1942, dos 1070 Tenentes e Aspirantes que compunham a Força Expedicionária Brasileira (FEB), 433 eram R2, cerca de 40% do efetivo.

Com isso, mais CPORs e os primeiros Núcleos de Preparação de Oficiais da Reserva (NPORs) foram criados. Uma herança que persiste até hoje. Na Itália, esses oficiais se destacaram não apenas entre seus pares oriundos do Realengo, mas também entre seus superiores e com os demais militares das Forças Aliadas. Antes vistos com desconfiança pelos oficiais de carreira, os R2 são um exemplo de que, também nesse caso, a cobra fumou.


Ricardo Lobato é Sociólogo e Mestre em economia pela UNB, Oficial da Reserva do Exército brasileiro e Consultor-chefe de Política e estratégia da Equibrium — Consultoria, Assessoria e Pesquisa. 

**Esse texto não reflete necessariamente a opinião da Aventuras na História