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Matérias / Sequestro

Natascha Kampusch: Os relatos da jovem que viveu mais de 8 anos em cativeiro

Ela foi raptada com 10 anos e viveu um verdadeiro pesadelo até conseguir uma oportunidade de escapar, aos 18

Redação Publicado em 21/10/2023, às 10h00

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Fotografia de Natascha Kampusch - Getty Images
Fotografia de Natascha Kampusch - Getty Images

Em uma manhã de março de 1999, a pequena Natascha Kampusch, de apenas 10 anos, foi raptada por um estranho em uma van branca enquanto fazia uma caminhada de cinco minutos até a escola. Ela passou os próximos oito anos e meio vivendo no porão de seu captor, Wolfgang Priklopil.

A jovem foi mantida isolada do restante do mundo, além de ser abusada sexualmente, agredida e forçada a realizar tarefas domésticas. Ela apenas conseguiu uma oportunidade de escapar aos 18, durante um momento de distração de seu sequestrador — que cometeu suicídio após perceber que ela havia fugido

O caso se deu na Áustria, porém acabou repercutindo através do mundo inteiro devido à brutalidade da situação, que é o pesadelo de qualquer um, em particular de pais com filhos pequenos. 

Kampusch passou metade de sua juventude em cativeiro, e, mesmo depois de recuperar sua liberdade, levou muito tempo para estabelecer uma vida próxima da normalidade devido aos traumas que precisava processar e à estranha "fama" que acabou adquirindo após ter sobrevivido a um crime tão chocante. 

Durante algum tempo, a austríaca evitou a imprensa, mas a certo ponto decidiu começar a compartilhar suas experiências, e chegou a escrever alguns livros a respeito de sua jornada. O primeiro deles se chama "3096 dias" em referência ao período que ela passou no porão de Priklopil.

Fotografia de Natasha na infância / Crédito: Divulgação

Tortura 

Diversas passagens perturbadoras do diário que Natascha mantinha em catividade foram incluídas em seu livro de memórias. Abaixo está um trecho repercutido pela revista Veja em 2011:

"23 de agosto de 2005: Pelo menos 60 tapas no rosto. 10-15 socos na cabeça que me deixaram com náusea, um soco com toda a força na orelha direita e na mandíbula. Minha orelha ficou preta. Estrangulamento, soco no queixo, fazendo a mandíbula estalar. Socos no cóccix e na coluna, na costela e entre os seios. Golpes com uma vassoura no cotovelo esquerdo e braço (hematoma preto-amarronzado) e no pulso esquerdo. Quatro socos no olho que me fizeram ver luzes azuis. E muito mais", anotou ela. 

Wolfgang também deixava a garota sem comida com frequência, a obrigava a limpar sua casa enquanto estava seminua, e a trancava sem luz durante horas. 

Um detalhe importante é que, com o passar dos anos, Kampusch foi capaz de ganhar a confiança dele, a ponto dele levá-la para saírem em público em algumas ocasiões. Ela sempre estava, contudo, muito apavorada para tentar escapar

Foi só em 2006 que ela encontrou a oportunidade perfeita: seu captor saiu de perto dela para atender um telefonema enquanto eles lavavam seu carro no quintal. Na ponta dos pés, ela andou até o portão, e o descobriu destrancado, ao que saiu correndo pela vizinhança. 

Eu mal conseguia respirar. Senti-me solidificado, como se meus braços e pernas estivessem paralisados. Imagens confusas passaram por mim", relatou a austríaca mais tarde, conforme repercutiu o All That is Interesting. 
Fotografia da casa em que Wolfgang Priklopil morava / Crédito: Getty Images 

Os desafios da liberdade 

Infelizmente, mesmo depois de liberta, Natascha Kampusch ainda precisou superar muitos obstáculos, incluindo o bullying: devido ao surgimento de teorias conspiratórias e outras fontes de desinformação a respeito de sua história, houve pessoas que lhe enviaram cartas com mensagens de ódio e até gritaram com ela na rua. 

"Não estou com raiva. Costumava estar, mas percebi que você pode conseguir muito mais sendo estoico. Pessoas como essas simplesmente não mudam, não importa como eu me comporte com elas", afirmou a sobrevivente em uma entrevista à AFP em 2016, dez anos após sua fuga do porão de Wolfgang Priklopil

Talvez eu provoque muitas agressões porque o crime provoca muitas agressões e porque sou a única pessoa por perto. Sou eu quem suporta o peso, não o perpetrador como deveria ser", especulou Natascha

Ela ainda dividiu uma reflexão a respeito de por que sua história despertava tanta curiosidade: segundo a austríaca, a sociedade precisa de "supostos monstros como Wolfgang Priklopil para dar um rosto ao mal que vive neles". Existe também muita violência, porém, "escondida atrás de (...) fachadas e quintais bem cuidados", alertou ela.