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Matérias / Ciência

O curioso caso da planta chinesa que evoluiu para esconder-se de humanos

Estudo de novembro de 2020 descobriu algo curioso sobre a Fritillaria delavayi

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 06/05/2021, às 09h44

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Montagem mostrando planta em uma área em que ela não é predada pelos humanos, e em uma área em que ela é - Divulgação / Yang Niu
Montagem mostrando planta em uma área em que ela não é predada pelos humanos, e em uma área em que ela é - Divulgação / Yang Niu

Um estudo publicado pela revista científica Current Biology em novembro de 2020 descobriu um comportamento curioso sendo exibido por um planta chinesa da espécie Fritillaria delavayi, que nasce nas montanhas Hengduan, na porção sudoeste da China

O bulbo dessa planta possui grande importância nas tradições medicinais do país asiático, tendo sido usada por sua população na composição de remédios naturais há mais de 2 mil anos. 

Em geral, sua utilização está relacionada a doenças respiratórias, de forma que os tratamentos produzidos são direcionados para curar quadros de tosse, asma, bronquite e até de tuberculose. 

Durante os primeiros cinco anos de vida da planta na qual os especialistas focaram, ela não apresenta flores, apenas folhas que podem ter as cores cinza, verde ou marrom, e depois desse período passa a gerar uma flor por ano, que costuma ter a mesma cor das folhas.

O que descobriu a equipe de cientistas do Instituto Kunming de Botânica e da Universidade de Exeter, que ficam respectivamente na China e Inglaterra, foi que esses hábitos de coleta milenares acabaram interferindo na evolução da Fritillaria delavayi, fazendo com que o vegetal se adaptasse de forma a esconder-se dos olhos humanos, assim salvando-se de ser colhido. 

Fritillaria delavayi em zonas em que ela precisa se camuflar / Crédito: Divulgação / Yang Niu

Adaptação inusitada 

“É notável como os humanos têm um impacto tão direto e dramático na coloração de organismos selvagens. Muitas plantas parecem usar a camuflagem para se esconder de [animais] herbívoros que podem comê-las, mas aqui vemos a camuflagem evoluindo em resposta aos coletores humanos”, explicou em uma nota o professor Martin Stevens, que esteve envolvido no estudo, segundo as informações repercutidas pela Revista Galileu. 

Inclusive, como foi também esclarecido pelo cientista, a princípio o grupo pensou que a variação vista nos vegetais era resultado de predadores animais, e foi só mais tarde que se deram conta da ameaça que os humanos da região ofereciam à essa planta de propriedade medicinal, coletada portanto para objetivos comerciais. 

Após fazerem perguntas à população local, os autores do estudo puderam determinar em que períodos do ano as coletas ocorriam, e também em que partes das montanhas era  mais e menos intensa, podendo observar posteriormente que os espécimes de Fritillaria delavayi que cresciam nas áreas das montanhas onde haviam mais buscas possuíam tonalidades menos vibrantes que aquelas de outras partes do terreno. 

Fritillaria delavayi em zonas em que ela não precisa se camuflar / Crédito: Divulgação / Yang Niu

Dessa forma, pôde-se constatar como a coloração dessa planta de fato estava variando de acordo com a ameaça de ser arrancada por humanos, empregando para tanto técnicas de camuflagem que as tornavam menos perceptíveis para o olhar humano. 

Potencial científico 

A equipe de cientistas sugeriu ainda em seu estudo que poderia haver mais casos como esses: “É possível que humanos tenham estimulado a evolução de estratégias de defesa de outras espécies de plantas, mas surpreendentemente poucas pesquisas analisaram isso”, apontou Martin Stevens, também de acordo com o que foi repercutido pela Galileu. 

Dessa forma, essa descoberta inaugura todo um nicho que ainda pode ser amplamente explorado por pesquisas futuras, uma vez que existem diversas plantas que são também predadas por humanos por uma quantidade considerável de tempo.