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Matérias / Arte

O detalhe que pode passar despercebido na Mona Lisa

Uma das pinturas mais famosas e importantes da História da Arte, Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é razão para surpresas e descobertas até hoje

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 19/08/2023, às 19h00 - Atualizado em 21/08/2023, às 14h00

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Recorte do quadro 'Mona Lisa', de Leonardo da Vinci - Domínio Público via Wikimedia Commons
Recorte do quadro 'Mona Lisa', de Leonardo da Vinci - Domínio Público via Wikimedia Commons

Ao longo da História da Arte, diversas pinturas e esculturas ficaram bastante famosas, se tornando muitas vezes uma espécie de marco ou representação para um determinado período. Certamente uma que marcou a humanidade foi 'Mona Lisa', obra-prima de Leonardo da Vinci, de 1503 — período do Renascimento.

Mesmo que à primeira vista o quadro se pareça uma obra bastante comum, sem impressionar tanto alguns dos que a visitam no Museu do Louvre, com seus singelos 77 x 53 cm, a 'Mona Lisa', na verdade, é muito mais que isso. Por alguma razão, a mera representação de uma mulher italiana de 20 e poucos anos, com um olhar que parece vivo, e um tímido e acalentador sorriso, entraria para os livros de História.

Assim, mesmo hoje, mais de 500 anos após sua concepção, a 'Mona Lisa' é um importante objeto de estudo para historiadores e especialistas em Leonardo da Vinci de todo o mundo, que impressionantemente realizam cada vez mais novas descobertas e apontando novos significados para elementos que, muitas vezes, são considerados secundários na obra, como as mãos, pálpebras, o próprio sorriso e, até mesmo, a quase secreta cadeira na qual a figura está sentada.

'Mona Lisa' (1503), de Leonardo da Vinci
'Mona Lisa' (1503), de Leonardo da Vinci / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

A cadeira

Um detalhe, este que pode sim passar mais despercebido na 'Mona Lisa', é a cadeira em que ela está sentada enquanto representada, conhecida popularmente na Itália da época como 'cadeira pozzetto', ou 'pequeno poço' em português; e mesmo isso não ficaria vazio de significado.

Compreendendo o poço como uma fonte de água comum na época, a partir da nova compreensão sobre a cadeira agora a 'Mona Lisa' não se encontra em um simples cenário repleto de águas ao fundo, que quase emolduram a mulher dentro da obra. Agora, é como se, na verdade, as águas fluíssem em direção ao móvel, transformando a dimensão do universo físico em que ela se insere, segundo a BBC.

"O artista não estava literalmente retratando o Arno pré-histórico ou o futuro", escreve Martin Kemp, historiador da arte e importante especialista em da Vinci, em estudo sobre o artista, "mas estava moldando a paisagem da 'Mona Lisa' com base no que havia aprendido sobre a mudança no 'corpo da Terra' para acompanhar as transformações implícitas no corpo da mulher como mundo menor ou microcosmo". Ou seja, ela não estava inserida na paisagem; ela era a própria paisagem.

O poço e a 'água viva'

Essa interpretação de que a 'Mona Lisa' estaria, de certa forma, emergindo do poço, revelando uma espécie de "buraco" na realidade, não era uma simples pista sobre o conhecido fascínio de Leonardo da Vinci pelas forças hidrológicas. Em vez disso, significaria algo mais complexo no sentido espiritual.

Isso porque, é importante lembrar, representações de mulheres próximas a um poço não eram incomuns durante o Renascimento e ainda antes dele. Em histórias do Antigo Testamento, por exemplo, vê-se Eliezer encontrando Rebecca em um poço, e Jacó com Raquel constantemente representados em poços. Além disso, no próprio Novo Testamento o arcanjo Gabriel informa à Virgem Maria que ela daria à luz a Cristo, segundo várias ilustrações, ao lado de uma fonte.

Outro exemplo de obra de contexto religioso retratando um poço é a pintura 'Cristo e a Samaritana', de Duccio di Buoninsegna
Outro exemplo de obra de contexto religioso retratando um poço é a pintura 'Cristo e a Samaritana', de Duccio di Buoninsegna / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Outro adendo é sobre o Evangelho de São João, onde Jesus estabelece uma relação entre a água que pode ser tirada de uma nascente natural, e a "água viva" da qual ele poderia oferecer. Enquanto a água do poço sustentaria somente o corpo físico, essa "água viva" saciaria o espírito eterno.

Então, retratando a 'Mona Lisa' dentro do poço, mesmo com seu sorriso "mais divino que humano", percebe-se uma espécie de fusão entre os reinos material e espiritual, em um novo ciclo eterno. Assim, para da Vinci, a própria mulher representada seria uma espécie de onda desta "água viva"; o que ela também sabe, e por isso sorri, de maneira contente e serena, em seu próprio, intenso e eterno infinito.