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Matérias / Curiosidades

O enigma do paradoxo do navio de Teseu

Intrigante enigma ocupa a mente de filósofos desde os clássicos gregos; confira!

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 04/06/2023, às 08h00 - Atualizado em 29/08/2023, às 19h22

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Escultura do herói grego Teseu derrotando o Minotauro - Foto por Cat Lee Ball pelo Wikimedia Commons
Escultura do herói grego Teseu derrotando o Minotauro - Foto por Cat Lee Ball pelo Wikimedia Commons

Uma das civilizações mais intrigantes da história humana é a dos antigos gregos. Embora tenham sido posteriormente dominados e tiveram vários de seus elementos culturais e tradicionais incorporados aos romanos, são os gregos considerados, até hoje, os predecessores da filosofia, da democracia, além de terem descoberto diversos avanços na matemática.

Entretanto, um fato curioso sobre essa civilização, que inclusive é o que atrai grande parte das pessoas fascinadas por ela, é o fato de possuírem lendas incorporadas em seu dia a dia para tentar, de fato, encontrar explicações para fenômenos até então inexplicáveis. E como pais da filosofia, por que os filósofos gregos também não usariam alegorias para explicar dilemas e criar paradoxos?

Esse é o caso do conhecido paradoxo do navio de Teseu. Compartilhando o título de herói e semi-deus com outras importantes figuras — como Hércules, Aquiles, Odisseu e Perseu —, Teseu era, segundo as lendas, fruto de uma relação dupla entre Etra, Egeu (rei de Atenas) e Poseidon, o deus dos mares.

Entre seus maiores feitos, o que mais se destaca é ter sido o responsável pela libertação de Atenas do domínio do tirano rei Minos, de Creta. Para isso, precisou derrotar o minotauro, que era alimentado todos os anos com sete moças e sete rapazes, sendo essa a maneira como o rei obteve a paz naquela nação.

Tondo representando Teseu mostrando sua vitória contra o Minotauro à deusa Atena
Tondo representando Teseu mostrando sua vitória contra o Minotauro à deusa Atena / Crédito: Foto por Museo Arqueológico Nacional de España pelo Wikimedia Commons

Conhecendo um pouco do herói grego, confira a seguir o que é o paradoxo do navio de Teseu:

Pergunta antiga

Plutarco, um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, propõe em uma de suas obras, 'Vidas Paralelas', o seguinte contexto: imagine que Teseu parte, a navio, de um ponto A até um ponto B.

Até aí, a história parece simples, porém, ao longo da viagem — que durou cerca de 50 anos —, peças da embarcação vão sendo substituídas conforme se desgastam e, eventualmente, todas as partes teriam sido trocadas. Fica então o questionamento: o navio que chegou em B seria o mesmo que partira de A, ou já poderia ser considerado outro?

De acordo com a Super Interessante, desde a criação desse enigma, muitos filósofos tentaram se aventurar em respondê-lo. Um nome famoso, certamente estudado por muita gente no Ensino Médio, é o de Heráclito, que comparou o navio e suas peças a um rio: por mais que as águas sempre corressem e fossem substituídas, o rio seria sempre o mesmo.

Aristóteles, um dos mais conhecidos e aclamados filósofos gregos e um dos pensadores mais influentes da história da civilização ocidental, estabeleceu em sua linha de reflexão que as coisas podem ser definidas por quatro causas: a formal, a material, a final e a eficiente. Para ele, como o navio só alterava sua causa material entre os pontos A e B, ele permaneceria sendo o mesmo.

Debate milenar

Por mais que o paradoxo do navio de Teseu tenha sido proposto ainda no berço da filosofia, a Grécia Antiga, a questão seguiu intrigando pensadores até os tempos modernos, que também deram seus próprios palpites.

Gottfried Wilhelm Leibniz, um filósofo e polímata alemão, utilizou-se de uma lógica curiosa: "X é o mesmo que Y se, e apenas se, X e Y têm as mesmas propriedades e relações e tudo que for verdade para X também é para Y". Ele concluiu que, dessa forma, o barco que chegasse no ponto B não seria o mesmo que partira de A.

Gottfried Wilhelm Leibniz
Gottfried Wilhelm Leibniz / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Já o filósofo e teórico político Thomas Hobbes — autor de 'Leviatã' (1651) e 'Do Cidadão' (1642) — não se arriscou em dar uma resposta, colocando em pauta outra dúvida: caso um segundo barco fosse construído com os restos descartados do barco inicial, qual deles seria de fato considerado o navio de Teseu?

Uma resposta constituída por, na verdade, uma nova dúvida, não foi exclusiva de Hobbes. Até mesmo o 'pai do liberalismo', John Locke, pensou de forma parecida, e se questionou: se o buraco de uma meia furada for remendado, ela continuaria sendo a mesma meia?

Essa pergunta, por sua vez, motivou outras reflexões: caso o teletransporte seja inventado, de maneira a fragmentar uma pessoa molecularmente em um ponto A, e então reconstruí-la em outro ponto B, ela ainda poderia ser considerada a mesma?

Como um verdadeiro paradoxo, até hoje não existe qualquer tipo de consenso para responder à dúvida levantada por Plutarco, nem mesmo algumas outras provenientes desta. Por isso, felizmente ainda é possível pensar e debater mais sobre essa questão, que intriga filósofos há milênios.