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Matérias / Dama de gelo

O que matou a 'Dama de gelo', uma das mais famosas múmias do mundo

Preservada pelo gelo, múmia siberiana tinha tatuagens e usava maconha para lidar com doença

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 05/02/2023, às 10h00

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Fotografia de múmia siberiana - Domínio Público via Wikimedia Commons
Fotografia de múmia siberiana - Domínio Público via Wikimedia Commons

Quando se fala em múmias, muita gente pensa diretamente nas famosas múmias egípcias, muitas delas descobertas até os dias de hoje em espantoso estado de preservação, graças às avançadas técnicas empregadas para tal. No entanto, tendo em vista que múmias nada mais são do que cadáveres em ótimo estado de preservação, pode-se dizer que, em outros lugares do mundo, diversas delas já foram encontradas.

Em 1993, em uma câmara mortuária subterrânea descoberta na Sibéria, foi encontrada uma múmia que viria a ser conhecida por todo o mundo de duas formas: 'Dama de Gelo' ou 'Princesa de Ukok', em referência ao nome da região em que foi achada. Pertencente à antiga cultura Pazyryk, o que mais chamou atenção nela foram todos os artefatos utilizados em seu funeral, que demonstrava que ela seria, possivelmente, uma figura importante para o grupo.

No entanto, investigações e análises modernas apontaram alguns fatos curiosos sobre o cadáver, como a causa de sua morte e a sua relevância naquela sociedade. 

Múmia da 'Princesa de Ukok', encontrada em 1993 na Sibéria
Múmia da 'Princesa de Ukok', encontrada em 1993 na Sibéria / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Descoberta

Quando a 'Princesa de Ukok' foi encontrada, uma das características que chamou a atenção dos pesquisadores foi que ela possuía tatuagens em sua pele, o que não era comum para todos os membros daquela sociedade. Além disso, seu túmulo fora localizado em um local aberto visível, e não em uma linha pertencente a uma família.

Isso indicava que ela seria uma parente de todos os Pazyryks que viviam na região, a 2.500 metros acima do nível do mar, sem contar que dentro havia também três cavalos — em um enterro comum para eles, um desses animais seria suficiente.

Os pesquisadores também se depararam com joias de madeira cobertas de ouro — ou seja, não era da melhor qualidade para o período, mas também apontava certa relevância — e um estranho e único espelho de origem chinesa em uma moldura de madeira. Sem contar sementes de coentro e um recipiente de cannabis.

Túmulo da 'Princesa de Ukok'
Túmulo da 'Princesa de Ukok' / Crédito: Foto por TatyanaPenn pelo Wikimedia Commons

Causa da morte

Foi só em 2014 que cientistas siberianos, que analisavam a múmia da chamada 'princesa de Ukok', conseguiram discernir a possível causa da morte dela, além da razão para sua importância naquela sociedade.

Após uma ressonância magnética, realizada em Novosibirsk pelos acadêmicos Andrey Letyagin, do Instituto de Fisiologia e Medicina Fundamental, e Andrey Savelov, associado do laboratório de tomografia por ressonância magnética do Centro Internacional de Tomografia, ambos da Seção Siberiana da Academia Russa de Ciências Médicas, foi determinado que ela sofria de osteomielite, uma infecção do osso ou da medula óssea, desde a infância ou adolescência.

Embora a condição provavelmente tenha causado dores terríveis por toda a vida, esta não foi a pior doença que ela contraiu, antes de sua morte aos 25 anos. "Quando ela tinha pouco mais de 20 anos, ela adoeceu com outra doença grave: câncer de mama. Isso a destruiu dolorosamente" ao longo de cerca de cinco anos, segundo resumo das descobertas publicado na revista Science First Hand, repercutido pelo The Siberian Times em 2014. Além disso, também é descrito que ela teria sofrido uma terrível queda de cavalo antes de sua morte, que a machucara gravemente.

"Quando chegou ao acampamento de inverno em Ukok em outubro, ela tinha o quarto estágio do câncer de mama", escreveu a arqueóloga Natalia Polosmak, que encontrou pela primeira vez a múmia em 1993, em publicação da revista. "Ela teve fortes dores e a intoxicação mais forte, o que causou a perda de força física", acrescentou em 2014.

Isso, segundo ela, poderia ter sido a causa para a queda dela do cavalo. "Ela obviamente caiu do lado direito, atingiu a têmpora direita, o ombro direito e o quadril direito. Sua mão direita não estava machucada, pois estava pressionada contra o corpo, provavelmente a essa altura a mão já estava inativa. Embora ela estivesse viva após a queda, porque são vistos edemas, que se desenvolveram devido aos ferimentos", explica.

Importância social

Quando chegou ao acampamento, ela teria ficado de cama e, para lidar com as dores que sentia, fazia não só o uso da cannabis, mas também de outras substâncias, como vinho, haxixe, ópio, meimendro, um extrato de mandrágora, acônito e cânhamo indiano. E isso pode, também, se relacionar a sua importância entre os Pazyryks: ela teria servido como uma espécie de xamã nos seus últimos momentos de vida.

"Provavelmente para esta mulher doente, cheirar cannabis era uma necessidade forçada", explica Polosmak. "E ela estava frequentemente em estado mental alterado. Podemos sugerir que através dela podiam falar os espíritos e deuses ancestrais. Suas visões extáticas com toda a probabilidade permitiram que ela fosse considerada um ser escolhido, necessário e crucial para o benefício da sociedade. Ela pode ser vista como a queridinha dos espíritos e querida até seu último suspiro."

Tatuagem no ombro da múmia suberiana / Crédito: Divulgação/Pinterest

Vale lembrar que, para os Pazyryks, os xamãs muitas vezes podiam assumir seus poderes após uma doença significativa: uma mulher pode estar fisicamente enfraquecida, mas capaz de desenvolver seus poderes de concentração e meditação.

Isso explicaria o cuidado que seu povo teve em cuidar dela e não deixá-la morrer, ou apressar sua morte, além de ajudar a entender a maneira como seu enterro foi conduzido em um estilo parcialmente semelhante ao da realeza.