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Matérias / Vênus de Milo

Antes de perder os braços: O que a Vênus de Milo segurava?

Pesquisadores tentam imaginar como estavam os braços da icônica escultura antes de serem quebrados

Redação Publicado em 20/08/2022, às 19h00 - Atualizado em 16/02/2023, às 20h04

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A escultura Vênus de Milo - Divulgação/Pixabay/NakNakNak
A escultura Vênus de Milo - Divulgação/Pixabay/NakNakNak

Uma das esculturas mais enigmáticas da história da arte, ainda é difícil dizer ao certo o que representa a Vênus de Milo. Encontrada em 8 de abril de 1820, a peça conta com muitas histórias a seu respeito e pesquisas se contradizem até mesmo sobre quem ela é.

Sua descoberta pode ser comprovada por documentos históricos, que apontam o responsável como Yorgos Kentrotas, um camponês da ilha de Milos, situada entre a Grécia continental e Creta, batizando a estátua.

De acordo com Marianne Hamiaux, do Departamento de Antiguidades Gregas, Etruscas e Romanas do Museu do Louvre, na França, o homem estava escavando o local para encontrar pedras quando se deparou com a obra.

Perfil da Vênus de Milo / Domínio Público/Wikimedia Commons

Mas o camponês — por sorte — não estava sozinho na região quando fez a descoberta. Olivier Voutier, um cadete naval francês, passava por ali quando viu a estátua surgir do chão e, como era entusiasta de arqueologia, pediu que o outro continuasse cavando.

Vendo-o parar e olhar para o fundo do buraco, fui até ele”, narrou, de acordo com registros da época. “Havia desenterrado a parte superior de uma estátua em muito boas condições. Ofereci-lhe pagamento para que continuasse a escavação.”

As escavações continuaram sob ordens do vice-cônsul da França em Milos, Louis Brest, o que permitiu que outros fragmentos fossem retirados do solo. Ainda assim, a escultura nunca foi encontrada na íntegra como acredita-se que um dia tenha estado.

Sem braços

Ainda que o fato de não contar com os dois braços inteiros provavelmente seja o que a torna preciosa nos dias de hoje, pesquisadores fazem extensas investigações para tentar entender como a escultura poderia ter sido no passado antes de quebrar.

Feita de mármore, a peça que conhecemos hoje um dia já teve os dois braços, o que não deixa especialistas dormirem, pensando em teorias para o que ela poderia estar segurando ou tocando com as mãos.

Vênus de Milo imaginada originalmente pelo arqueólogo e historiador de arte Adolf Furtwängler em 1916 /

Domínio Público/Wikimedia Commons

À revista Slate, a escritora Virginia Postrel ressalta como a Vênus já foi “foi imaginada ao lado de um guerreiro – Marte ou Teseu – com a mão esquerda roçando o ombro dele”, também tendo sido “retratada segurando um espelho, uma maçã ou coroas de louros, às vezes com um pedestal para apoiar o braço esquerdo”.

Outra representação para a estátua foi a de “uma mãe segurando um bebê”, mas outros foram ainda mais longe, sugerindo que ela não seria Vênus, e sim Vitória, “sustentando um escudo na coxa esquerda e gravando os nomes dos heróis nele com a mão direita”.

Teorias que focavam mais na ideia de a estátua representar a deusa da beleza indicavam que ela poderia ter segurado um escudo como espelho em sua mão perdida, para admirar o seu reflexo.

Uma hipótese em particular chamou a atenção de Elizabeth Wayland Barber, professora emérita do Occidental College, nos Estados Unidos, autora da obra “Women's Work: The First 20,000 Years” (1995).

Para a pesquisadora, Vênus poderia estar trabalhando com  fios, já que na Grécia Antiga a fiação era geralmente associada à fertilidade e ao sexo — algo que se encaixaria bem com a deusa Vênus.

Modelo 3D

Pensando nisso, Virginia Postrel chamou o designer e artista de San Diego Cosmo Wenman para digitalizar a escultura e realizar uma impressão digital em 3D capaz de revelar como os braços da estátua de mármore estavam posicionados no passado.

Segundo apontou a revista SmithSonian, o resultado mostra Vênus com um dos braços erguido, enquanto o outro, à frente, segura uma roca, como é chamada uma ferramenta que segura as fibras não fiadas. A mão de cima segura o fio puxado para baixo.

A autora destaca que o modelo fornece evidências para a tese de uma “Vênus giratória”, já defendida pelo arqueólogo Elmer G. Suhr nas décadas de 1950 e 1960, quando identificou várias esculturas com poses sugestivas de fiação, no entanto, sem nenhum implemento.

Para onde foram as ferramentas? Suhr argumentou que ‘o equipamento de um fiandeiro deve ter sido um elemento perturbador para o artista’, que simplesmente dispensou as rocas e fusos, assumindo que ‘todos nos tempos antigos estavam suficientemente familiarizados com o processo’ para reconhecer a postura e os gestos”, explicou Postrel.

Agora, a recriação de Vênus sugere que “ as ferramentas eram acessórios separados feitos de materiais perecíveis ou metais preciosos e simplesmente foram perdidos ou roubados”. Elas não poderiam ser feitas de mármore, pois colocariam muito peso sobre os braços.

Embora não seja uma resposta definitiva, nem capaz de decifrar de fato o que a Vênus de Milo segurava com seus braços agora quebrados, o modelo em 3D é uma forma de reimaginar obras de arte e a hipótese ajuda a pensar a história da escultura.