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Matérias / Oppenheimer

Oppenheimer: O pai da bomba atômica se arrependeu da criação?

Oppenheimer, fisíco que entrou para a História como o 'pai da bomba atômica', terá sua trajetória contada em filme

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 19/06/2023, às 17h24 - Atualizado em 22/07/2023, às 11h10

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J. Robert Oppenheimer - the Los Alamos National Laboratory, New Mexico
J. Robert Oppenheimer - the Los Alamos National Laboratory, New Mexico

Oppenheimer é um dos filmes mais esperados do ano. Dirigido por Christopher Nolan, aclamado pela trilogia de Batman e por Interstelar, o longa sobre o pai da bomba atômica, o físico norte-americano J. Robert Oppenheimer, já pode ser conferido nos cinemas brasileiros.

+ Como Interestelar transformou Christopher Nolan em um fazendeiro de verdade

Oppenheimer, que foi diretor do Projeto Manhattan, apesar de seu sucesso, se arrependeu amargamente do desenvolvimento da bomba atômica no auge da Segunda Guerra Mundial. Essa dor lhe acompanhou até o fim de sua vida.

Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos", declarou certa vez, usando palavras do texto sagrado hindu Bhagavad Gita.

Mas o que levou o pai da bomba atômica a isso? Entenda como tal frustração perseguiu Oppenheimer até seu trágico fim em 18 de fevereiro de 1967, quando o físico norte-americano tinha apenas 62 anos.

A explosão 

O dia 16 de julho de 1945 é um dos dias que ficará marcado para sempre dentro do contexto da Segunda Guerra Mundial. Na data em questão, a operação 'Trinity' conseguiu explodir com um sucesso uma bomba no deserto do Novo México, nos Estados Unidos. Era o último passo que o país precisava dar para o sucesso na corrida da bomba atômica.

Uma das poucas fotografias a cores da explosão "Trinity"/ Crédito: Jack W. Aeby via Wikimedia Commons

Em 2 de agosto de 1939, semanas antes do início da Segunda Guerra Mundial, o físico nuclear Leó Szilárd escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos na época, Franklin D. Roosevelt.

A missiva, assinada por Albert Einstein, alertava que a Alemanha poderia desenvolver bombas atômicas. O documento, conhecido como carta Einstein-Szilárd, pedia para que Roosevelt intervisse em relação ao assunto. O Projeto Manhattan surgiu em 13 de agosto de 1942.

Até aquela altura, Oppenheimer dedicara sua vida aos estudos dos processos energéticos das partículas subatômicas. No entanto, a pressa para impedir que os nazistas se tornassem os pioneiros no sucesso da tecnologia o fizeram ser 'convocado' para liderar o Projeto Manhattan — onde passou a estudar o processo de separação de urânio-265 do urânio natural. Além de definir a massa crítica necessária para a fabricação da bomba.

Os físicos Albert Einstein e Robert Oppenheimer reunidos
Os físicos Albert Einstein e Robert Oppenheimer reunidos / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Segundo o historiador especialista em armas nucleares Alex Wellerstein, em entrevista à BBC Mundo, Oppenheimer ocupou um cargo de "imensa responsabilidade" e foi levado "ao seu limite".

Ele se envolveu em decisões fundamentais sobre o projeto das bombas atômicas e esteve pessoalmente relacionado com as decisões sobre como essas bombas seriam utilizadas. Ele pleiteou que elas fossem usadas contra cidades e estava no comitê que decidiu onde exatamente as bombas seriam lançadas", continua.

Assim, cerca de três semanas após o sucesso da operação Trinity, as bombas contra Hiroshima e Nagasaki foram lançadas pelos Estados Unidos contra o Japão. Estima-se que entre 150 mil e 250 mil pessoas morreram com as explosões entre os dias 6 e 9 de agosto.

Oppenheimer passou a lamentar as mortes causadas por sua 'criação'. Dois meses depois, ele renunciaria ao cargo. Entre 1947 e 1952, se tornou assessor da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, onde passou a defender o controle internacional para o uso da tecnologia nuclear.

No período, a corrida armamentista entre Estados Unidos e União Soviética estava a todo vapor. O conflito entre as nações ainda provocariam momentos críticos ao longo da Guerra Fria, como a Crise dos Mísseis em Cuba, em 1962.

Inimigo do Estado

Apesar de sua reputação cada vez maior, J. Robert Oppenheimer, que se tornara um ferrenho opositor ao desenvolvimento da bomba de hidrogênio, também passou a ser inimigo do governo de seu país.

Acusado pelo FBI de ser secretamente um comunista, Oppenheimer perdeu não só sua influência política como também teve cassada suas credenciais de segurança. Em abril de 1954, o físico passou por uma audiência secreta de segurança para falar sobre sua associação com o Partido Comunista — as investigações, porém, descobriram posteriormente que ele não tinha laços com os soviéticos.

+ O que aconteceu com Oppenheimer após o Projeto Manhattan?

No final da década de 1950 e no início dos anos 1960, Oppenheimer estava muito amargurado e lamentava muitas coisas", explicou Wellerstein.

"A razão do seu arrependimento sempre se concentrou nesses fracassos do pós-guerra. Ele lamentou não ter tido sucesso nas suas ambições de controle de armas e ter sido incapaz de frear o aumento dos grandes arsenais de vários megatons", prossegue o especialista.

J. Robert Oppenheimer, pai da bomba atômica/ Crédito: Domínio público

O sentimento de culpa por sua criação letal acompanhou Oppenheimer até seus dias finais, assim como sua má-reputação causada pelas acusações já citadas. Embora desmentidas, vale ressaltar que Oppenheimer só foi inocentado em dezembro de 2022, conforme noticiou o The Guardian.

Com sua reputação manchada, J. Robert Oppenheimer se mudou para as Ilhas Virgens Americanas com sua família, onde continuou seus escritos. O físico foi diagnosticado com câncer na garganta em 1965, quando já vivia em Princeton, em Nova Jersey.

Apesar dos tratamentos cirúrgicos e da quimioterapia, o câncer causou grandes estragos em Oppenheimer, um fumante inveterado durante grande parte de sua vida. Ele morreu em 18 de fevereiro de 1967, apenas três dias após entrar em coma por conta da doença. O pai da bomba atômica tinha apenas 62 anos.