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Matérias / Futebol

A trajetória do bisneto de Mussolini no time mais fascista da Itália

Com 20 anos, Floriano Mussolini possui contrato assinado com a equipe profissional da Lazio até 2024

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 17/05/2023, às 17h21

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Floriani Mussolini, bisneto de Benito Mussolini - Getty Images
Floriani Mussolini, bisneto de Benito Mussolini - Getty Images

Embora ainda tenha uma carreira curta no futebol, o lateral-direito Romano Floriani vem chamando a atenção na Itália. Com 20 anos, o atleta, que atualmente atua pela Lazio, já assinou contrato profissional até 2024, mas foi relacionado poucas vezes para o time principal.

Mas o que chama a atenção em Floriani, até o momento, não é sua habilidade com a bola nos pés, mas sim o passado de sua família e o quanto ela foi influente na Itália. Afinal, como o próprio nome completo do defensor sugere, Romano Benito Floriani Mussolini é descendente do ditador fascista Benito Mussolini

+ Fascismo: Afinal, é de direita ou de esquerda?

Mussolini no futebol

Nascido em Roma, em 27 de janeiro de 2003, Romano Benito Floriani Mussolini é o terceiro filho de Mauro Floriani e Alessandra Mussolini (neta de Benito Mussolini e ex-membro do Parlamento Europeu pelo partido Forza Italia). 

Floriani Mussolini fez as categorias de base na AS Roma até os 13 anos, quando se mudou para a Lazio, recorda matéria do Sky Sports. Os dois clubes da capital possuem uma das maiores rivalidades do país.

Do Biancocelesti, o defensor foi emprestado para a equipe amadora do Vigor Perconti em 2018. A transferência aconteceu, pois Floriani tinha poucas participações pela Lazio nos últimos dois anos e precisava manter o ritmo de jogo. 

Na sua volta, acabou conquistando espaço e chegou a estrear pela equipe sub-17 da Lazio. Mas Floriani Mussolini ganhou destaque mesmo em 2021; em relações que pouco tem ligação com seu desempenho dentro das quatro linhas. 

Conforme recorda o The Times, a torcida da Lazio é conhecida por sua associação ao fascismo — algo que será explicado mais abaixo —, e Floriani foi usado para inflar os adeptos da ideologia supremacista

Quando questionado se o sobrenome do jogador limitaria seu tempo de jogo, o técnico de juniores da Lazio, Mauro Bianchessi, afirmou: "O sobrenome pesado? Nunca falei com seus pais e a única coisa que importa é se um jogador merece jogar. Nada mais", repercutiu o The Guardian. 

Retrato de Mussolini/ Crédito: Domínio Público

Em entrevista ao jornal Il Messaggero, Floriani Mussolini declarou que gostaria de ser lembrado por seu desempenho em campo e não por seu sobrenome. "Aqui na Lazio, eu espero ser julgado apenas pelo futebol que apresento, e não porque meu sobrenome é Mussolini"

Em março daquele mesmo ano, Romano Benito Floriani Mussolini assinou seu primeiro contrato profissional com a equipe Biancocelesti até 2024. Em 24 de outubro, ele foi relacionado pela primeira vez para um jogo da Série A contra o Hellas Verona, mas não entrou em campo. 

Atualmente, porém, ele defende a equipe sub-19 da Lazio e, na temporada 2022/23, segundo o Transfermarket, site de estatística de futebol, entrou em campo em 21 jogos, possuindo seis assistências para gols e sendo expulso em uma partida. 

A Lazio e o fascismo 

Embora Benito Mussolini fosse torcedor do Bologna, Il Duce adotou a Lazio como seu segundo clube. O ditador fascista, ao contrário do que acontece com outros déspotas, realmente tinha um apreço pelo futebol e sabia usar o esporte como ferramente política — um exemplo disso foi a Copa do Mundo de 1934, disputada na Itália e vencida pelo país sede. 

Desde então, a Lazio virou um símbolo do neonazismo na terra da bota. Até hoje, seus aficionados protestam contra a contratação de jogadores negros ou de origem judaica, recorda matéria do UOL Esportes. A proibição da presença feminina nas arquibancadas mais próximas ao gramado também se tornou cultura entre os Biancocelesti

Na Itália há também o fenômeno dos Ultras, nome dado as torcidas organizadas que possuem um histórico de violência fora das arquibancadas — mais ou menos como eram os hooligans na Inglaterra

Os Irriducibili, como os Ultras da Lazio são chamados, despertam a antipatia de muitos ao ocuparem a Curva Nord do Estádio Olímpico, mas, ao mesmo tempo, se tornaram referência pelo país. 

Segundo matéria da ESPN, a grife Irriducibili possui mais de dez lojas espalhadas pela capital, onde se vendem camisas, agasalhos e bonés da organizada. O valor arrecadado também é usado para propagar discursos políticos. 

Um exemplo das atrocidades dos Irriducibili aconteceu na temporada 1998/1999, quando os Ultras da Lazio estenderam uma frase com a frase "Auschwitz vossa Pátria, os fornos nossa casa" em uma partida contra a Roma.

Já em 2005, o ex-atacante Paolo di Canio, que sempre foi assumido admirador das ideologias nazifascistas, comemorou um gol da vitória fazendo o Saluto Romano, gesto feito pelos fascistas em sinal de respeito a Benito

Segundo a Agência EFE, em 2017, 16 torcedores da Ultra Irriducibili foram identificados por usarem fotos de Anne Frank com a camisa da Roma e com insultos antissemitas em partida contra o Cagliari

Um dos episódios mais recentes aconteceu em 2021, quando o lateral albanês Hysaj foi contratado pela equipe. Acontece que em seu vídeo de apresentação, ele apareceu cantado Bella Ciao, hino da resistência antifascista do país. Como represália, a torcida estendeu faixas com os dizeres: "Hysaj Verme. A Lazio é fascista".