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Matérias / Você Decide

Você Decide: O programa que virou sensação na televisão

Com o sucesso de Linha Direta, será possível Você Decide voltar para a grade da Rede Globo?

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 20/05/2023, às 17h00 - Atualizado em 11/06/2023, às 23h44

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Você Decide apresentado por Tony Ramos - Divulgação / Rede Globo
Você Decide apresentado por Tony Ramos - Divulgação / Rede Globo

No início dos anos 1990, a Rede Globo revolucionou o jeito de se fazer teledramaturgia deixando o público de casa escolher o que acontecia com cada narrativa. Não à toa, Você Decide se tornou o segundo programa do gênero mais duradouro dentro da emissora — com nove temporadas, foram exibidos 323 episódios. 

A proposta do programa era simples, mas não menos controversa por conta disso. Cada episódio apresentaria um dilema presente na sociedade, e caberia ao público de casa votar para decidir como cada história terminaria. 

O mundo está cheio de histórias. Histórias reais, histórias imaginadas... Mas existem algumas histórias especialmente polêmicas, onde fica difícil separar entre o correto e o errado. Entre o belo e o maldito. É dessas histórias que trata o nosso programa. Histórias sempre contadas no limite entre o certo e o incerto. No final, você decide", descreveu Antônio Fagundes ao explicar a proposta de Você Decide em sua estreia. 

A possibilidade de interferir numa narrativa passou a cativar o público cada vez mais. Além disso, o fato das ligações serem gratuitas (0800) mexeu com a cabeça dos telespectadores. Segundo o Na Telinha, os programas inicias recebiam cerca de 25 mil ligações, mas em 1997, o programa chegou a computar mais de 150 mil chamadas

O logo de Você Decide/ Crédito: Rede Globo

"Calculamos que cerca de oito milhões de pessoas tentam ligar a cada semana. O problema é que, depois de 150 mil chamadas, geralmente já estamos perto do final e encerramos a votação", explicou Herval Rossano, diretor do núcleo responsável pelo Você Decide, em entrevista à Folha. 

A proposta

A ideia do programa era inovadora, embora bem simples. Cada episódio traria um dilema da vida considerado polêmico: incesto, traição, assédio sexual, aborto, questões éticas e morais. Assim, dois finais eram gravados, mas só um exibido. 

Entre cada bloco do "Você Decide", um apresentador, ao vivo dos estúdios da Globo, mostrava as parciais da votação e debatia o tema da vez. Além disso, o público conseguia emitir sua opinião por meio de entrevistas feitas pela equipe do Você Decide

Na bancada do programa passaram nomes como o já citado Antônio Fagundes, Tony Ramos, Lima Duarte, Raul Cortez, Walmor Chagas, Carolina Ferraz, Renata Ceribelli, Susana Werner, entre outros. 

Um fato curioso levantado por Rossano, ainda à Folha, é que cada vez menos o público que votava se mostrava menos conservador nas decisões. "O resultado é sempre inesperado, mas o final escolhido geralmente é o mais liberal". 

Episódios polêmicos

Uma das principais polêmicas envolvendo o Você Decide aconteceu justamente em seu quarto episódio, intitulado "Achados e Perdidos". A narrativa do programa era: um publicitário desempregado (Diogo Vilela) está passando por sérios problemas financeiros. 

Durante o voo, seu vizinho de assento tem um ataque cardíaco e acaba falecendo. Antes de morrer, a vítima pede para que o publicitário cuide da sua mala — que continha uma grande quantia de dinheiro que seria destinada a um orfanato. 

Cena do episódio Achados e Perdidos de Você Decide/ Crédito: Reprodução

O empresário deveria ficar com o dinheiro ou reservar o valor a seu destino original, mesmo que ele estivesse passando um grande problema econômico? O público de Você Decide optou pela primeira opção. No fim, porém, o personagem acabou tendo uma crise de consciência e realizou uma campanha criativa de graça para a instituição. 

Por conta disso, Marcílio Marques Moreira, então Ministro da Fazendo, fez uma declaração pública condenando o desfecho antiético do programa. De acordo com o Jornal do Brasil, "políticos de Brasília, em plena noite de votação do novo valor do salário mínimo, davam entrevistas indignadas contra a decisão popular". 

Em resposta, Paulo José, diretor do Você Decide, se manifestou a respeito do caso: "Não se pode exigir valores de um colégio suíço a uma pessoa que tem dificuldades de comprar pão e leite. Estamos vivendo em um estado selvagem, onde as necessidades primárias prevalecem", afirmou, conforme recorda o Estadão. 

Outros programas também indagaram questões controversas como: "Esse padre que ouviu uma confissão de assassinato deve denunciar o culpado?", ou "Essa mulher que foi estuprada deve denunciar o crime que sofreu, ainda que possa sofrer 'humilhações' em sua vida pessoal?". Para ambas as questões, porém, o público de casa escolheu pelas denúncias. 

A maior audiência do Você Decide se deu em 1996, aponta a Ilustrada, da Folha, quando um episódio abordou a morte de Paulo César Farias — chefe de campanha de Fernando Collor de Mello e nome envolvido no escândalo de corrupção que levou ao impeachment do presidente

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Já em 11 de março de 1999, o Você Decide foi marcado por um episódio um tanto quanto curioso: o episódio "Mulher 2000" teve seu desfecho exibido apenas nas regiões Norte e Nordeste, visto que o restante do país sofreu como o blecaute que afetou parte do Brasil e do Paraguai. 

A volta do Você Decide?

Muito se especula se o Você Decide não poderá voltar para a grade de programação da Globo. O revival do programa, porém, é algo debatido internamente na emissora desde 2014. 

Entretanto, o projeto parece ter sido engavetado e ainda não saiu do papel, aponta o Na Telinha. Em 2019, o roteirista responsável pelos novos episódio, João Falcão, disse que a atração poderia com um formato diferente do Você Decide que foi exibido pela última vez em 2000.

Está escrito e com vários episódios prontos, mas é muito complicado estruturalmente, pois é preciso gravar várias saídas. O formato, agora, será diferente do original. Antigamente, o público escolhia o fina, agora, as pessoas irão escolher por qual caminho a história irá. Então, a gente escreve para gravar várias versões", apontou.