Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
StandWithUs Brasil / Pearl Harbor

O ataque a Pearl Harbor e a “solução final”

Ataque a Pearl Harbor e a entrada dos EUA na guerra também foram argumentos utilizados por Hitler para justificar a intensificação da violência contra os judeus

Melanie Grun* Publicado em 07/12/2023, às 18h19

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Registro de Hitler (à esqu.) e do ataque a Pearl Harbor (à dir.) - Bundesarchiv, Bild 183-S33882 e Domínio Público
Registro de Hitler (à esqu.) e do ataque a Pearl Harbor (à dir.) - Bundesarchiv, Bild 183-S33882 e Domínio Público

“Uma data que viverá na infâmia”, assim o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt definiu o dia 7 de dezembro de 1941, data do ataque japonês a Pearl Harbor. Nesse mesmo discurso, proferido no Congresso Nacional dos EUA, em 8 de dezembro, Roosevelt refere-se ao ataque como uma “ofensiva surpresa” e “uma forma de traição” para, na sequência, declarar os Estados Unidos em estado de guerra com o Japão.

Apesar da insistência do primeiro-ministro britânico Winston Churchill para a entrada norte-americana na guerra, os EUA vinham relutando em participar de um conflito que consideravam um problema europeu. A opinião pública parecia não ver sentido em mobilizar a economia e cidadãos norte-americanos para enfrentar uma guerra que não dizia respeito a eles. O ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, contudo, inflamou os americanos. Para eles, o ataque surpresa havia sido uma traição e uma infâmia. O assassinato de 2403 cidadãos americanos e a destruição de 19 navios e 328 aviões pedia uma resposta à altura.

Quatro dias depois da declaração americana de guerra ao Japão, a Alemanha declarou guerra aos Estados Unidos e, dessa forma, essa potência ingressava na Segunda Grande Guerra.

Vamos vencer!

Ao saber do ataque japonês a Pearl Harbor, Hitler teria dito: “Não podemos de forma nenhuma perder a guerra. Temos agora um aliado que jamais foi conquistado em 3 mil anos.”. (KERSHAW, 2010, p. 693). O ditador acreditava que a guerra no Pacífico desgastaria americanos e ingleses, facilitando a vitória nazista na Europa. Joseph Goebbels, ministro de propaganda da Alemanha nazista, pensava o mesmo: “Os Estados Unidos não serão mais tão precipitadamente capazes de fornecer aviões, armas e espaço de transporte para a Inglaterra, pois precisarão de tudo isso para sua guerra contra o Japão.” (Ibid.)

Curioso é que o primeiro-ministro britânico Winston Churchill conta que naquela noite de 7 de dezembro, ao se deitar, pensou: “No final das contas nós vencemos.”. Para ele, a participação dos EUA, com todo seu poderio econômico e militar, na guerra ao lado dos Aliados desequilibraria o conflito e seria determinante para a derrota alemã.

Ambos, Eixo e Aliados, pareciam confiar que o ataque japonês a Pearl Harbor havia trazido uma nova dinâmica à guerra, favorável ao seu lado do conflito.

Solução final: a derrota

Certo estava Churchill. Mas a vitória dos aliados naquele dezembro de 1941 estava distante e os horrores da guerra ainda iriam se intensificar.

Ian Kershaw, autor da biografia sobre Hitler, conta que, até aquele momento, a guerra não era denominada um conflito mundial, “termo até então usado quase que exclusivamente para a devastação de 1914-18” (Ibid., p.729), mas a partir do ingresso dos EUA a dimensão e a denominação do conflito mudaram.

O ataque a Pearl Harbor e a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial também foram utilizados por Hitler para justificar a intensificação da violência contra os judeus. Em 12 de dezembro de 1941, Hitler discursou para o alto escalão do Partido Nazista e para os chefes de distrito do Reich. Além de falar sobre as consequências de Pearl Harbor, dos conflitos no leste e das perspectivas positivas para o futuro alemão, o ditador nazista falou sobre os judeus e referiu-se ao que chamava de “profecia” feita em 30 de janeiro de 1939.

Goebbels, em seu diário, anotou suas impressões sobre esse discurso: “No que diz respeito à questão judaica, o Führer está decidido a fazer uma clara varredura dela. Ele profetizou que, se eles provocassem outra guerra mundial, experimentariam sua aniquilação. Essas não foram palavras vazias. A guerra mundial está aqui. A aniquilação da judiaria deve ser a necessária consequência.”. (Ibid., p.729). Estava claro, Hitler responsabilizava mais uma vez os judeus por um grande conflito mundial, dizia que os havia avisado, em sua “profecia” de 1939, sobre quais seriam as consequências e que era chegada a hora dos judeus pagarem o preço por terem, segundo ele, novamente provocado destruição e guerra.

Tal posicionamento de Hitler fortaleceu um processo que havia se iniciado muito antes de Pearl Harbor: o programa nazista para exterminar todos os judeus da Europa, denominado a “solução final da questão judaica”. Desde a invasão alemã à URSS em meados de 1941, os nazistas planejavam remover todos os judeus para o leste e iniciaram também os Esquadrões Móveis de Extermínio (Einsatzgruppen), grupos responsáveis por assassinatos em massa de judeus em territórios soviéticos com métodos como fuzilamentos ou por asfixia nas chamadas “vans de gás”.

Na medida em que o conflito com a URSS perdurava e os planos de remoção dos judeus para o leste iam se mostrando inviáveis, os nazistas começaram a pensar não em deslocamento, mas em aniquilação do povo judeu. Em 3 de setembro de 1941, testaram pela primeira vez o assassinato em câmaras de gás em Auschwitz, quando 600 prisioneiros soviéticos e 250 pessoas debilitadas foram assassinados com o uso do gás Zyklon-B. Consideraram o uso desse gás para o extermínio em massa um sucesso.

A Conferência de Wannsee, marcada para 9 de dezembro de 1941, por conta do ataque japonês a Pearl Harbor e da declaração de guerra dos EUA, foi adiada para 20 de janeiro do ano seguinte. O evento no Pacífico adiou em mais de um mês a conferência em que Reinhard Heydrich, chefe do temido Gabinete Central de Segurança do Reich (RSHA, na sigla em alemão), reuniu oficiais da SS, representantes dos Ministérios do Exterior, do Interior, da Justiça e dos Territórios Orientais e chefes da administração nazista para tratar da “solução final da questão judaica.”.

Em 20 de janeiro, quando a conferência ocorreu, as lideranças nazistas sentiam-se completamente encorajadas pelos últimos discursos de Hitler, que mencionavam a “profecia” e a necessidade de punição dos judeus por conta da nova guerra mundial em que a Alemanha estava envolvida. Sobre o conteúdo dessa conferência, o oficial nazista Adolf Eichmann, quando julgado em Jerusalém em 1961, afirmou: "Lá se deliberou sobre os diversos métodos de matar.".

Entre dezembro de 1941 e o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, foram construídos seis campos de extermínio e cerca de três milhões de judeus, centenas de milhares de ciganos, além de negros, homossexuais, entre outras vítimas da perseguição nazista, foram assassinados. Se, por um lado, Churchill estava certo ao se deitar na noite de 7 de dezembro de 1941 vislumbrando a vitória dos Aliados, por outro, a extensão da guerra por mais de três anos foi responsável por uma das maiores derrotas da humanidade.  


*Melanie Grun é mestre em Humanidades (FFLCH/USP), pesquisadora de temas relacionados à identidade no refúgio e no exílio no CEPIM (Centro de Estudos de Proteção Internacional às Minorias)/USP, membro do Grupo de Pesquisa: Direitos Humanos e Vulnerabilidades (UniSantos) e voluntária da área de Acolhimento e Proteção a Refugiados no instituto ADUS em São Paulo.


Referência

KERSHAW, Ian. Hitler. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.