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Curiosidades / Monarquia

O inesperado significado dos penteados excêntricos de Maria Antonieta

A princesa que se tornou rainha consorte da França e ícone de moda deu o que falar ao aparecer de visual novo diante da corte

Vanessa Centamori Publicado em 24/12/2020, às 10h00 - Atualizado em 02/01/2022, às 10h00

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Maria Antonieta e seu famoso penteado - Wikimedia Commons - Divulgação/Columbia Pictures
Maria Antonieta e seu famoso penteado - Wikimedia Commons - Divulgação/Columbia Pictures

Por conta de pressões sociais, as mulheres são obrigadas a convencer a sociedade de sua capacidade e valor há tempos. A princesa austríaca, Maria Antonieta, por exemplo, passou a ser alvo escancarado dessa exigência já no século 18 — e ela tinha apenas 14 anos. Não importava a idade, vossa alteza teve que se casar com um desajeitado príncipe francês de 15 anos, chamado Luís Augusto

O casamento foi um acordo político, em decorrência do Tratado de Versalhes, para acabar com uma rixa de longa data entre a Áustria e a França. Com isso, o matrimônio foi consagrado por procuração e depois oficialmente entrelaçado em 16 de maio de 1770. Conforme eram feitos os arranjos da união, a princesa austríaca teve que seguir uma grande exigência: tornar-se o mais francesa possível. 

Ela não só recebeu educação importada da França, como também sua identidade e corpo também tiveram que se adequar à exigências públicas cruéis. O símbolo supremo desse papel performativo da princesa foi um insólito e extravagante penteado, que logo virou sua marca registrada: os enormes poufs, que ligaram a monarca à moda dos franceses. E mais que isso — o cabelo virou um ato político. 

Maria Antonieta /Crédito: Wikimedia Commons 

Visual excêntrico

A primeira vez que a princesa apareceu com seu penteado excepcional foi quando virou rainha consorte da França, na coroação do marido, que se tornava agora rei Luís XVI. Isso ocorreu em 11 de junho de 1775. 

A historiadora Caroline Weber descreveu os cabelos da rainha, que alcançavam até 1 metro de altura, como “eriçados muito alto acima da testa, pesadamente empoados e encimados por um feixe de oscilantes penas brancas”. Aquele penteado bem incomum surpreendeu a todos, encantando pela ousadia, mas também causando comentários maldosos. 

Um dos autores das agitações contrárias foi o duque de Croy, segundo o que Weber diz no livro Rainha da moda: Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução (2008). O duque teria achado o penteado da soberana absurdo. Com ironia, "fingiu-se curioso de saber como ela e suas damas, penteadas de maneira semelhante, haviam todas conseguido crescer tanto desde a última vez que as vira…”, escreveu a historiadora. 

Ilustração do enorme penteado de Maria Antonieta/Crédito: Divulgação/Victoria and Albert Museum

Um inimigo a cada fio

O estilo capilar de Maria Antonieta era de autoria do cabelereiro Leonard Autie, que lucrava muito ao criar esculturas em cabelos acrescentando penas e objetos ao estilo requintado. Logo, o penteado de sua cliente mais famosa passou a ser reproduzido por toda a França e ele passou por um estrondoso sucesso. 

Os poufs ganhavam adereços de todo tipo: flores, frutas, legumes, pássaros e até mesmo jardins e barcos em miniatura. Eram objetos de arte. No entanto, a rainha começou a ser alvo de críticas. Em panfletos inflamatórios que circulavam naquele ano de 1775 e acusavam a majestade de promiscuidade. Diziam que a monarca estava falindo os franceses — financeiramente e moralmente. 

Sob o ponto de vista moral, mães e maridos brigavam com filhas e esposas por não gostarem dos penteados de fama promíscua. Já pelo lado do dinheiro, os adereços custavam muito caro, destruindo as finanças das moças francesas emperiquitadas. Todavia, o item que demandava um grande gasto era a farinha, usada no pó que segurava as madeixas. 

Cabelo no estilo pouf, assim como era o de Maria Antonieta /Crédito: Divulgação 

Vaidosa, Maria Antonieta era afinal uma rainha e tinha poder para arcar com os custos. Mas a questão era que, principalmente no fim da década de 1780, as colheitas de grãos foram um fracasso na França e grande parte da população não podia bancar o penteado.

O custo da farinha era exorbitante e o estilo opulento de vida da monarca foi alvo de críticas, enquanto a fome apertava a barriga dos súditos. Além disso, era um motivo a mais para a Revolução Francesa, que lutaria para derrubar os abusos do absolutismo dos monarcas. 

Posições políticas 

No entanto, a rainha consorte da França não era a maior déspota de Versalhes. Ela não podia fazer muito envolvendo política, já que Luís XVI não lhe dava participação nos assuntos do governo. A monarca consorte então expressou opiniões políticas por meio dos penteados, nos quais fazia caricaturas e homenagens. 

Uma das obras capilares, chamada pouf da inoculação, fazia alusão aos avanços científicos da época. Era composto por um Sol, uma oliveira com azeitonas; uma cobra e uma flor. Era um modo peculiar de retratar o triunfo do conhecimento, vencendo a ignorância.

Enquanto ilustrava ousadamente teorias em seus cabelos, a rainha também era acusada pela corte francesa de estar muito a favor dos austríacos, influenciado demais o rei Luís XVI na direção de sua terra natal. Maria Antonieta foi muito odiada pela mesma corte, que a apelidava de modo pejorativo sob a expressão L’Autrichienne ( algo como "cadela austríaca"). 

O cabeleleiro Leonard, de Maria Antonieta /Crédito: Wikimedia Commons 

Fim do penteado e início da Revolução Francesa 

Maria Antonieta deu à luz seu primeiro herdeiro e começou a ter perda de cabelo. O cabelereiro, Leonard, perdia sua fortuna à medida que a rainha ia enfrentando a calvície. As damas francesas não seguiram mais o pouf, mas por um tempo aderiram ao corte novo de cabelo de Antonieta, que agora tinha poucos fios. 

A Revolução Francesa começava em 1789, com a Invasão da Bastilha, que libertou os presos do Regime Absolutista. Uma tentativa de Luís XVI de montar um exército contrarrevolucionário caiu por terra. No início de 1793, então, o rei foi condenado à guilhotina

A rainha sofreria muito na manhã fria do dia 16 de outubro daquele mesmo ano. Seu cabelereiro leal, Leonard Autié, estava exilado na Alemanha. O carrasco chegou à cela de Maria Antonieta de tesoura na mão, e o estrago foi grande. Ele agarrou a mulher e cortou o que restava de sua cabeleira icônica. Desmembrada pela guilhotina, os restos da rainha encontraram as multidões.


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