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Como Catarina, a Grande, desafiou a varíola e foi fundamental na implementação da vacina

A imperatriz da Rússia presava pelo avanço e viu no método de um médico inovador uma maneira de salvar a população

Isabelly de Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 28/09/2023, às 20h00

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A imperatriz russa Catarina, a Grande - Aleksey Antropov via Wikimedia Commons
A imperatriz russa Catarina, a Grande - Aleksey Antropov via Wikimedia Commons

Tente imaginar uma época em que muitas doenças — que hoje até já estão desaparecidas—apareciam em ondas epidêmicas e que não existia nenhum tipo de plano de saúde. Até os médicos que cuidavam do rei chegavam a acreditar que se você se enrolasse em um pano vermelho, ficaria curado da varíola.

Esse era um período em que a superstição e a cura eram aliadas nos conceitos de saúde, inclusive, a morte era democrática, sem fazer distinção de classes, já que todos lidavam com condições precárias para se cuidarem, um mais que outros, mas nada comparado aos nossos métodos de cura.

A epidemia da varíola foi uma das mais graves no mundo, resultando em cerca de 60 milhões de vítimas ao longo das décadas. O escritor e pesquisador Paulo Rezzutti explica em seu canal do Youtube, no quadro “A História não Contada”, que até mesmo alguns monarcas foram vítimas da doença, no entanto, uma imperatriz foi corajosa ao tentar modificar essa situação. Ela foi um exemplo vivo de uma das mais importantes criações da História: a vacina.

Catarina, a Grande, da Rússia, [...] foi uma das primeiras soberanas a se vacinar contra a varíola”, afirma Rezzutti.

Visão diferente

Paulo também conta que, ao contrário daqueles médicos que acreditavam na tradição de enrolar os pacientes em tecido vermelho para estimular a cura, surge neste cenário um médico inglês chamado de Thomas Dimsdale.

Ele estudou a doença e com seus resultados lançou um livro intitulado 'O método atual de inoculação para a varíola', que chamou a atenção da monarca.

Retrato de Thomas Dimsdale feito por William Ridley em 1802 - Wikimedia Commons / Domínio Público

Apesar de a relação entre os dois ser considerado algo íntimo, nada se relacionava à prática sexual e sim a uma questão de confiança, já que entregar sua chance de sobreviver para alguém é algo que demanda muita coragem.

Paulo explica que as informações foram tiradas do livro ‘A imperatriz e o médico inglês, como Catarina, a Grande, desafiou um vírus mortal’, de Lucy Ward, lançado no Brasil pela editora LeYa.

Ao longo do século 18, a varíola era a causa da morte de cerca de 400 mil pessoas na Europa por ano. A doença tinha vários estágios, sendo os iniciais semelhantes a uma gripe e os finais como as conhecidas fotos que aparecem em livros e na internet, com pessoas cheias de marcas no corpo inteiro. A infecção era rápida e a transmissão, ainda maior.

Novo método 

Enquanto isso, a China e o Oriente Médio encontraram uma solução para esse problema, que, até então, bastava injetar um pouco desse vírus nas crianças, a fim de imunizá-las (o que hoje, após muitos avanços tecnológicos, chamamos de vacinação).

Essa técnica curiosa chegou na Europa através das mãos de Mary Wortley Montagu, uma mulher da aristocracia inglesa. Durante a sua estadia na Turquia, Mary percebeu que apenas algumas mulheres apresentavam a marca de varíola no corpo. Para tentar entender como isso acontecia, descobriu o método de inoculação e ficou muito surpresa.

Essa técnica, na época, era feita de maneira diferente da que hoje conhecemos. No século 18, as pessoas pegavam pus de alguma ferida de varíola e aplicavam sobre pequenos cortes em crianças. A ideia era que o sistema imunológico entendesse como curar aquela doença, principalmente pela quantidade que era inserida no sangue, que era bem baixa.

Após voltar a Inglaterra, Mary convenceu a família real a testar essa possibilidade, o que foi bem aceito, até então. Mas foi aí que surgiram os obstáculos. Alguns religiosos não concordavam com a interferência humana no que eles entendiam como “plano de Deus”.

Muitos médicos também se sentiram amedrontados por aquela mulher e pela nova cura. Com isso, os debates sobre a inoculação aumentaram consideravelmente, principalmente em relação a qual seria a forma correta de fazê-la, bem como à recusa da população, já que muitas pessoas não acreditavam nesse método.

Ilustração de 1808 mostrando Thomas Dimsdale, junto de Edward Jenner e George Rose, afastando oponentes antivacinação - Crédito: Domínio Público

Tecnologia arriscada

Dimsdale, na Inglaterra, tentava aprimorar a técnica, enquanto na Rússia, a doença estava dizimando toda a população de maneira abrupta. A imperatrizCatarina, a Grande era apoiadora do Iluminismo,um movimento cultural e filosófico que buscava mudanças políticas, econômicas e sociais por meio da disseminação do conhecimento. A mudança do pensamento levaria à criação de novas técnicas, inclusive científicas, levando Catarina a ser uma apoiadora do que havia de mais de novo contra a varíola

Assim, Catarina ordenou que Thomas fosse até São Petesburgo para que pudesse testar seus estudos nos membros da família imperial, e assim, a residência real foi, aos poucos, se transformando num tipo de hospital.

Apesar da dificuldade com a linguagem, já que o médico só falava um pouco de francês e nada sabia de russo, Catarina tratou Thomas com bastante intimidade e atenção. Paulo Rezzutti ainda conta que “ela o recebia em seu quarto, onde normalmente estava um de seus amantes, e lá eles sentavam um ao lado do outro para conversarem sobre a técnica de inoculação”.

Então, em 12 de outubro de 1768, a imperatriz chamou o doutor Thomas para ele realizar a inoculação nela e em seu filho, Paulo. O pus de Alexander, que ainda tinha 6 anos, foi utilizado.

Pintura oficial de Catarina, a Grande - Crédito: Domínio Público

Todo esse processo foi acompanhado de perto pelo rei da Inglaterra, até porque, caso algo desse errado, ele teria nas mãos um grande problema diplomático. Como previsto, após realizar o processo, Catarina adoeceu. Ela teve dores no corpo, febre e outros sintomas durante duas semanas, tudo isso com apenas uma gota do líquido do pus.

Proliferação dos resultados

No entanto, o corpo da monarca venceu a batalha. Catarina até mesmo doou algumas gotas de seu pus para poder inocular outras pessoas. Seu filho que participaria do procedimento não pôde realizar o ato, pois, estava com catapora. Rezzutti ainda conta detalhes dos próximos passos do processo:

Para acabar com o boato de que quem doava o líquido morria, ela pagou um rublo por camponês pobre [...] para inocular diversos deles usando seu material”.

No entanto, alguns deles começaram a cobrar um pouco mais, chegando a até 2 rublos. Catarina, por ser imperatriz, tinha poder sob seu povo. Caso ela mandasse que fossem inoculados, teriam de aceitar, entretanto, segundo a monarca, ela queria que as pessoas fossem de forma “voluntária”.

Cerca de 140 pessoas da corte foram inoculadas, e esse passo foi muito importante para a história, pois daria início ao que hoje salva tantas vidas, as famosas vacinas.

Veja a história no vídeo de Paulo Rezzutti!