Realizando reformas e quebrando tradições, Matilde e Johann Struensee escandalizaram o povo
Caio Tortamano Publicado em 10/05/2020, às 08h00
O retorno de viagem de Christian VII, rei da Dinamarca, foi um dos eventos mais importantes do reino em 1769. Ao seu lado, o novo médico foi apresentado para a realeza, era Johann Friedrich Struensee que havia conhecido o rei no começo da excursão que fizera em outras partes da Europa.
A importância de Struensee deu-se principalmente porque ele seria um dos únicos que poderiam lidar com a instabilidade do monarca. Isso passava não somente confiança para os conselheiros da coroa, bem como para o próprio rei, que desenvolveu um grande afeto pelo homem.
Passaram a ser tão amigos, que em 1769, o físico incentivou que o rei tivesse um caso extraconjugal com uma nobre dinamarquesa chamada Birgitte Sofie Gabel. Afirmava que se ele se relacionasse com uma mulher inteligente, se tornaria mentalmente equilibrado. No entanto, o bizarro plano falhou, e levou a Rainha Caroline Matilde, mulher do rei, a ter uma péssima visão do profissional.
Com o objetivo de melhorar a reputação e se aproximar de Caroline, o físico aconselhou que o monarca melhorasse a relação entre o casal. Christian, seguindo o que Struensee indicava, se empolgou e preparou uma festa de aniversário para sua mulher, que duraria três dias.
A rainha gostou da tentativa, mas percebeu que a ideia tinha vindo, na realidade, do profissional e não de seu marido. Automaticamente, a rainha esqueceu-se do episódio anterior.
No verão de 1769, Caroline teve uma retenção de líquido em sua perna. Depois da insistência do seu marido, optou por se consultar com Struensee. O físico recomendou que a monarca se exercitasse. Era uma das melhores soluções para o problema. Assim seguiu. Feliz com a recomendação anterior, deixou nas mãos do médico o tratamento de varíola de seu filho. Mas a aproximação iria além.
Naquele momento, Johann tornou-se uma figura querida pelos monarcas, e ganhou um aposento oficial no Palácio de Christianborg, residência oficial da realeza. Além disso, a saúde de Christian VII estava cada vez pior, fazendo com que ele se afastasse das obrigações reais. O monarca passou a contar com a ajuda de Struensee para que os deveres não fossem interrompidos.
Carolina, portanto, ficou mais poderosa, e por ter subido ao poder também com o amante Struensee passou a se tornar conselheiro privado da corte, por determinação do próprio rei. Com a piora drástica da saúde de Christian, o físico e médico se tornou governante absoluto da Dinamarca.
Era de Struensee
Esse período, conhecido como Era de Struensee, foi de grande mudança na sociedade dinamarquesa, que não encarou tão bem as inúmeras reformas que o antigo médico promovia. Os opositores acreditavam que Johann tinha uma imprudente afeição por reformas, que poderiam prejudicar a coroa.
Além disso, a relação entre Struensee e a rainha — embora nunca confirmada—, escandalizou a sociedade. A rápida adaptação dela ao lado de um estrangeiro (o governante era alemão) e os novos costumes ofenderam os súditos dinamarqueses.
A rainha quebrava as tradições numa notável frequência, como quando ia cavalgar pela cidade usando calças e trajes militares ou diante da aprovação de uma reforma onde era permitido que a burguesia realizasse refeições junto com a família real. Também fez inúmeras amizades fora do círculo nobre da sociedade. Todavia, as coisas ficariam ainda piores.
Depois de ter tido um filho com Struensee, a pequena princesa Luísa Augusta, Matilde sofreu com rumores de que ela e seu amante queriam aprisionar o rei, totalmente debilitado, para que fosse declarada a regente. As acusações realmente não procediam, já que a vida do rei era uma garantia de que os amantes poderiam continuar juntos.
Decadência
A preocupação com um possível golpe começou a preocupar os pombinhos. Na mesma época, o governador teve uma de suas ações mais drásticas durante o poder ao dar fim à liberdade de imprensa. Foi o suficiente para a população que já estava enfurecida diante de tantos absurdos.
Prisão
Na noite de 16 de janeiro de 1772, depois de um baile de máscaras, Struensee e Carolina foram presos. A rainha esperou seu julgamento no Castelo de Kronborg, onde pôde gozar da companhia de sua filha, enquanto o seu filho estava junto ao pai.
Já Struensee foi pressionado pelas autoridades para que confessasse o caso amoroso com a rainha. Ele negou qualquer envolvimento durante os primeiros dias. Mas, foi em vão.
Diante de outros testemunhos, ficou claro que os dois tinham uma relação maior que uma simples amizade. Depois de ter sido condenado, o antigo governador foi condenado a execução em praça pública, em abril de 1772.
Neste mesmo mês, o casamento entre Carolina e Christian foi anulado, e a antiga rainha teve que se mudar forçadamente para um exílio na Alemanha. E mesmo diante de toda a situação insólita, o antigo marido acreditava que Struensee era um grande homem, independente de qualquer veredito.
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