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Matérias / Bizarro

De gatos vivos a caixas de madeira: O insano apetite do soldado Tarrare

A polifagia do soldado francês assusta até hoje pela falta de critérios quanto ao que ele era capaz de comer

Caio Tortamano Publicado em 19/04/2020, às 08h00

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Fragmento de obra Os Sete Pecados Capitais e as Quatro Últimas Coisas, de Hieronymus Bosch - Wikimedia Commons
Fragmento de obra Os Sete Pecados Capitais e as Quatro Últimas Coisas, de Hieronymus Bosch - Wikimedia Commons

Caixas de madeira, restos de comida, fígados de boi, gatos vivos e até fezes. A abrangente lista é apenas um exemplo de todas as coisas que Tarrare era capaz de comer.

Infância

Constantemente faminto, o francês vinha de uma família de fazendeiros que não tinham condições de manter a dieta insana do menino, que comia às vezes o próprio peso somente com refeições.

Depois de não terem condições de sustentar a fome do filho, Tarrare foi mandado embora de casa e passou a viajar o país com uma companhia de bandidos, roubando para se alimentar. Mas a vida de crime não era pra ele, e decidiu ganhar a vida fazendo performances na rua, algo muito comum para as pessoas com habilidades anormais.

O glutão

Capaz de engolir quase tudo, ele chamava a atenção das pessoas com sua aparência: era extremamente magro, mas sua pele era muito flexível e depois de se alimentar ele ficava inchado, com olhos e rosto avermelhados.

Jacques de Falaise, homem com polifagia que foi comparado com Tarrare por muito tempo / Crédito: Wikimedia Commons

Como era de se esperar, essa comida toda era eliminada devido ao seu problema crônico de diarreia, e nada conseguia saciar o desagradável francês, tido como extremamente fedido, especialmente depois que comia.

Dono de macios cabelos claros, ele não aparentava ter nenhum tipo de doença mental e nem comportamentos incomuns (excluindo o apetite, claro), mas era muitas vezes apático, e quando não comia se sentia fraco e não era possuidor de fortes ideais.

Tarrare vai à guerra

Porém, o pagamento dos serviços militares era bom no Exército Revolucionário Francês na guerra da Primeira Coalizão e Tarrare decidiu se alistar ao grupo.

Por mais que o pagamento fosse agradável, a comida para ele era pouca, e o esfomeado fazia tarefas em troca de comida para outros soldados e muitas vezes procurava em montes de esterco por restos de comida.

Como os alimentos eram mais escassos, sofreu de extrema exaustão e foi mandado para o hospital militar de Soultz-Haut-Rhin. Lá ele recebia quatro rações ao invés de uma, mas continuava com fome, fazendo o paciente buscar comida nos lixos hospitalares.

Os médicos se espantaram com a voracidade do soldado, e os doutores Courville e Didier usaram Tarrare para experimentos fisiológicos, e decidiram testar a capacidade de alimentação do homem.

Ele comeu com facilidade uma refeição que deveria servir 15 trabalhadores, comendo duas tortas de carne, quatro litros de leite, pratos de gordura e sal, entre outras coisas. Logo depois, ele dormiu pesadamente, ficando com a barriga (antes flácida e pequena) tensa e inflada, se assemelhando a um balão.

Certa vez, os doutores deram pra ele um gato vivo, que ele se prontificou a comer ainda vivo, deixando pra trás seus ossos e vomitando pelos e pele do animal. Depois dessa “impressionante” exibição, começaram a dar outros animais pra ele, como cobras, lagartos, cachorros e uma enguia (a qual ele engoliu).

A Serviço Secreto de Sua Majestade

O general francês Alexandre de Beauharnais quis que Tarrare usasse suas habilidades como um mensageiro secreto dos militares. Pra isso, o soldado teria que simplesmente engolir as mensagens e depois entrega-las para seus destinos finais.

Alexandre de Beauharnais, general francês que viu grande potencial em Tarrare / Crédito: Wikimedia Commons

A primeira missão do glutão era se infiltrar como um camponês prussiano, se infiltrar nas linhas inimigas e entregar uma mensagem secreta para um coronel francês que havia sido capturado. A informação estava dentro de uma caixa de madeira que Tarrare engoliu sem dificuldade nenhuma.

Porém, sua aparência magra e seu terrível odor chamaram atenção dos inimigos, que descobriram que o suposto camponês não sabia sequer uma palavra de alemão. Após ser revistado, torturado e chicoteado, ele confessou que a mensagem secreta estava em seu estômago.

Com isso, foi preso à uma latrina e esperaram a natureza fazer sua parte para que pudessem ter em mãos a tal da mensagem supersecreta, que nada mais era um bilhete perguntando para o remetente se a entrega foi bem sucedida, não passando tudo de um teste para Tarrare.

Irado com a ousadia dos franceses, o general prussiano ordenou que o espião fosse enforcado, mas acabou ficando com pena do estranho homem, e mandou ele de volta para as linhas francesas.

Seu macabro fim

De volta à França, Tarrare pediu pra nunca mais ser enviado como espião em missão. Descontente com a própria condição, o glutão pediu ao doutor Didier para que desse um fim em seu apetite desconsolável.

O doutor aceitou o desafio tratando o homem com láudano, vinagre de vinho e pílulas de tabaco.

Nenhuma dessas tentativas deu certo, e sua fome só piorou. Frequentemente ele fugia do hospital a procura de comida, brigando com cachorros da rua, roubando o lixo de açougues. No hospital ele bebia o sangue de pacientes e tentava comer os corpos no mortuário.

Diagnosticado já como doente mental, depois do desaparecimento de um bebê de pouco mais de um ano ele foi indicado como o principal suspeito. Sua presença já havia virado um perigo para as outras pessoas, e foi mandado embora do hospital.

Quatro anos depois ele contraiu uma severa tuberculose, que acabou o levando a morte. Seu corpo apodreceu rapidamente, e os médicos se recusavam a dissecá-lo para estudos.

Porém, com a insistência de um certo doutor Tessier, o glutão foi aberto e descobriram que o esôfago de Tarrare era muito mais largo que o normal, ele tinha um largo canal no estômago e era coberto de úlceras. Sua mandíbula era maior que o normal, e seu corpo era cheio de pus.


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