Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Religião

Krishna e Cristo: Irmãos, referências ou cópias?

As duas figuras religiosas são corriqueiramente relacionados como seres equivalentes. Porém, quando se trata de história antiga, há outras complexidades sobre o assunto

André Nogueira Publicado em 08/03/2020, às 08h30

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Krishna e Jesus - Wikimedia Commons
Krishna e Jesus - Wikimedia Commons

Um é tido como Suprema Personalidade de Deus, avatar personificado em matéria de sua versão cósmica responsável pela sustentação o Universo. O outro se intitula filho de deus, versão de carne da divindade universal que é e sabe tudo.

Filhos de carpinteiros, ambos trouxeram importantes mensagens sobre como viver, de maneiras diferentes. É assim que se percebe uma estranha proximidade entre Jesus, a figura central do cristianismo, e Krishna, a principal deidade hindu.

O avatar de Vishnu possui várias características compartilhadas com Cristo. Além das parábolas explicativas, comuns tanto no Novo Testamento quanto na conversa do deus com Arjuna no Bhagavad-Gita, aspectos simbólicos da forma da deidade são parecidos: ambos nasceram no equivalente ao dia 25 de dezembro, a Estrela Dalva, três reis magos  e a perseguição do estado têm seus equivalentes no mito de Krishna também.

Representação de Krishna / Crédito: Wikimedia Commons

A maioria dos argumentos que relacionam os dois seres místicos envolvem correlações alusivas que interpretam aspectos paralelos. Por exemplo: operadores de milagres, ambos clamavam o amor e se transfiguraram diante dos discípulos. Além disso tudo, há ainda uma valor de posição dentro da cosmologia religiosa que os relacionam: entre o Pai, Filho e Espirito Santo e Brahma, Vishnu e Shiiva, ambos pertencem ao segundo aspecto da trindade divina.

Porém, o elemento principal que tenta relacionar esses dois seres divinos encarnados (e carregadores da palavra do amor) é, no mínimo, polêmico e, exige uma discussão bastante complexa: a suposta crucificação de Krishna. Não há citação direta nenhuma sobre o fato em nenhum texto do cânone hinduísta, mas muitos pesquisadores de Índia Antiga relatam possíveis interpretações que podem mudar essa história.

Em primeiro lugar, é importante citar que, como em qualquer religião, existem várias versões da biografia dos deuses no mundo hindu. As variações regionais e estilísticas do conto de Krishna carregam formas diferentes de pensar sua morte, e compilações contemporâneas (destaca-se a Bíblia na Índia, obra de Louis Jalliot) trazem ainda mais informações sobre isso.

Representação de Cristo Crucificado / Crédito: Wikimedia Commons

Seguindo esse livro, as bases do mito mais padrão em questão (proveniente dos elogios a Vishnu nas Puranas) tem fundamentos nas tradições do Bhagavad-Gita e da literatura bramânica, e que em suas versões alternativas, a morte por tiro de flecha do deus se altera e Krishna é acertado mais de uma vez e, logo depois disso, seu assassino o ergue nos galhos de uma árvore, o expondo para os abutres.

Segundo essa proposta, a crucificação de Krishna não é um fato constatado verbalmente no texto religioso, mas uma tradição hindu que carregou significado a essas versões menos canônicas. É o que afirma o cético religioso John Remsburg no livro The Christ: “Há uma tradição, embora não seja encontrada nas escrituras hindus, de que Krishna, como Cristo, foi crucificado.”

Nessa interpretação, quando o corpo do deus é erguido na árvore, há uma referência à crucificação: “O Purana a Vishnu fala de Krishna sendo baleado no pé com uma flecha e afirma que essa foi a causa de sua morte. Outras contas, no entanto, afirmam que ele foi suspenso em uma árvore ou, em outras palavras, crucificado”, afirma Thomas William Daone em Bible Myths and Their Parallels in Other Religions.

Figuração de Krishna crucificado / Crédito: Wikimedia Commons

O ponto principal nesse tema é a reflexão importante no estudo da antiguidade de que as religiões não se formam de maneira isolada, mas sim em uma rede de fluxos de conhecimentos que geram um tecido mítico repleto de referências indiretas. Além disso, a própria formação dos mitos religiosos envolvem estruturas mentais que são compartilhadas. A Bíblia, que não é uma cópia, possui aspectos encontrados na mitologia hindu (4.000 a.C.), no Épico de Gilgamesh (2500 a.C.) e em diverso outros textos vizinhos.


+ Saiba mais sobre o hinduísmo pelas obras abaixo:

Filosofia e Teologia da Bhagavad-Gita - Hinduísmo e Vaishnavismo de Caitanya, de Ithamar Theodor Ricardo Sousa Silvestre (2015) - https://amzn.to/2ImNszt

Hinduísmo, Cybelle Shattuck (2008) - https://amzn.to/2xgGzxj

Deuses e Deusas Hindus, de Sunita Pant Bansal (2008) - https://amzn.to/2wyBi3S

Mahabharata, de Krishna Dharma (2017) - https://amzn.to/2IsbJ74

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, assinantes Amazon Prime recebem os produtos com mais rapidez e frete grátis, e a revista Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.