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Matérias / Nazismo

Noite das Facas Longas: Há 90 anos, Hitler promovia expurgo de 'traidores'

Temendo uma possível ameaça da Sturmabteilung (SA), nazistas criaram falsa narrativa para executar o líder Ernst Röhm e outros membros do alto-escalão do grupo

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 29/06/2024, às 08h00

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Ernst Rohm, homossexual e aliado de Hitler - Bundesarchiv via Wikimedia Commons
Ernst Rohm, homossexual e aliado de Hitler - Bundesarchiv via Wikimedia Commons

Em agosto de 1932, ou seja, meses antes de Adolf Hitler ser nomeado chanceler na Alemanha, em janeiro de 1933, a Sturmabteilung (SA, algo como Destacamento Tempestade), organização paramilitar ligada ao Partido Nazista, tinha aproximadamente 445 mil membros. 

Em junho de 1934, esse número já havia crescido para 4 milhões de membros, que eram liderados por Ernst Röhm. O fato, embora possa elucidar o aumento do domínio nazista, também gerava uma enorme preocupação para Adolf

Adolf Hitler saudando seus membros, cercado por símbolos nazistas/ Crédito: Getty Images

Afinal, Röhm apoiava abertamente a ideia de uma Segunda Revolução — que, sob seu comando, teria o objetivo de redistribuir a riqueza entre as várias camadas da população. Ernst também queria substituir a elite conservadora tradicional por nazistas; algo que Hitler e o resto da liderança do partido discordava. 

Outro fator importante dessa discussão é que Ernst Röhm não era muito nem quisto pela liderança nazistaHitler precisava agir, e assim o fez em 30 de junho de 1934.

Naquela data, os líderes da SA, incluindo Röhm, estavam em um hotel em Bad Wiesse, na Baviera. Quando Adolf chegou pessoalmente ao local, acompanhado por membros da Schutzstaffel (SS) e da Gestapo, ordenou a prisão de Ernst e dos outros membros do alto-escalão do grupo. 

Iniciava-se ali o expurgo da liderança da formação paramilitar nazista, que durou até 2 de julho do mesmo ano e exterminou pelo menos 85 filiados ao Partido Nazista considerados possíveis opositores no futuro. 

A 'Operação Beija-Flor' ficou conhecida 'Noite das Facas Longas' e serviu para consolidar um acordo entre o regime nazista e o exército alemão (Reichswehr); permitindo que Hitler se proclamasse Führer e reivindicar poder absoluto. Entenda!

Supremacia ameaçada

Embora Ernst Röhm fosse amigo de longa data de Hitler, a expansão da SA era considerada uma potencial ameaça pelo número de membros. Como recorda o United States Holocaust Memorial Museum (USHMM), com o fim da Primeira Guerra Mundial, aconteceu a assinatura do Tratado de Versalhes, que limitou o exército alemão para apenas 100  mil membros. A desvantagem era evidente. 

Depois de Adolf se tornar chanceler, muitos líderes políticos, incluindo o presidente Paul von Hindenburg e o vice-chanceler Franz von Papen, temeram que a SA tivesse se tornado demasiado poderosa. Àquela altura, a organização ainda prestava um apoio fundamental ao regime nazi. 

Mas, como já dito, Röhm ansiava por seguir a revolução, o que causava constrangimento e desconforto entre Hitler e as tradicionais elites nacionalistas alemãs — que o ajudaram a chegar ao poder. Adolf também entendia que precisava mantê-los como aliados e que a elite ainda seria muito necessária para ele se consolidar mais. 

Com toda essa intriga, Röhm e seus principais comandantes perderam a confiança de outros líderes nazistas importantes, como o primeiro-ministro prussiano Hermann Göring, o vice-chefe do Partido Nazista, Rudolf Hess, e a liderança da SS, Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich.

Ernst Rohm com Henrich Himmler / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Em abril daquele mesmo ano, Himmler e Heydrich passaram a conspirar com Göring para persuadir Hitler a acabar com Ernst. Em 24 de junho, eles falsificaram documentos que sugeriam que o líder da SA planejava um golpe para derrubarAdolf. A falsa retórica radical já havia reverberado.

Desta forma, o presidente von Hindenburg e parceiros conservadores da coalizão de Hitler emitiram um alerta: se os "elementos revolucionários" do regime nazista não fossem controlados, os líderes do exército ameaçaram derrubar o governo de Hitler e colocar o país sob lei marcial. Algo precisava ser feito!

O expurgo

Em 27 de junho, Adolf Hitler se reuniu com um grupo de operações especiais e planejou todos os passos do expurgo — que ficou sob incumbência de Himmler e da SS. No dia seguinte, o líder nazista ordenou que Röhm reunisse os principais líderes da SA num spa bávaro em Bad Wiessee. 

Conforme recorda o United States Holocaust Memorial Museum (USHMM), unidades SS, comandadas pelo comandante do campo de concentração de Dachau, Theodor Eicke, surpreenderam os líderes das SA logo nas primeiras horas de 30 de junho.

Grande parte dos chefes e soldados foram abordados enquanto dormiam, sendo retirados à pressa de suas camas. Já Röhm foi detido pelo próprio Hitler.

Os membros da organização paramilitar foram transportados para a prisão de Stadelheim, em Munique — onde a maioria deles foram executados de maneira sumária. Hitler, porém, ainda não sabia qual destino dar à Ernst

Ernst Röhm conversando com membros da SA - The Wiener Holocaust Library Collections

Em 1º de julho, Ernst Röhm foi abordado em sua cela e recebeu um revólver. Teria que escolher entre acabar com sua própria vida ou ser executado. "Se eu serei morto, deixe o Sr. Hitler fazer isso", esbravejou, conforme registrado na obra "The Rise and Fall of the Third Reich: A History of Nazi Germany", de William L. Shirer. Ao término do tempo, um oficial da SS lhe deu um tiro à queima-roupa. 

As SS assassinaram os principais líderes das SA tanto em Munique como em todo o país. O episódio também serviu para eliminar vários outros adversários políticos que eles tinham como alvo: como, principalmente, nacionalistas de direita, assim como ex-apoiadores que eles acreditavam terem traído os nazistas.