Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Coreia do Norte

O lado menos lembrado: As pessoas que fugiram para a Coreia do Norte

O soldado norte-americano Travis King não foi o único militar dos EUA a fugir para o país de Kim Jong-un; confira!

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 02/09/2023, às 21h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Larry Allen Abshier e Charles Robert Jenkins, dois membros do Exército americano que fugiram para a Coreia do Norte - Domínio Público via Wikimedia Commons
Larry Allen Abshier e Charles Robert Jenkins, dois membros do Exército americano que fugiram para a Coreia do Norte - Domínio Público via Wikimedia Commons

Há pouco mais de um mês, no último dia 18 de julho, uma notícia chamou bastante a atenção de parte do mundo, em especial de internautas norte-americanos: um soldado dos Estados Unidos, chamado Travis King, teria fugido para a Coreia do Norte. Isso espanta não só pelo grande histórico de inimizade entre estadunidenses e norte-coreanos, como também é comum ver casos de pessoas que tentam fugir do país governado por Kim Jong-un.

No entanto, ao contrário do que muita gente acredita, Travis King não foi a primeira pessoa a fugir em direção ao considerado "país mais fechado do mundo". Na verdade, ele não foi nem mesmo o primeiro soldado estadunidense a fazê-lo, tendo sido o sétimo conhecido na história — o último caso, porém, é antigo: aconteceu há quase 40 anos.

O soldado americano Travis King
O soldado americano Travis King / Crédito: Arquivo Pessoal

Sabendo disso, confira a seguir outros soldados dos Estados Unidos conhecidos que tentaram abrigo no país de Kim Jong-un.

Larry Allen Abshier

A primeira fuga conhecida de um soldado norte-americano para a Coreia do Norte foi a do soldado Larry Allen Abshier, em maio de 1962, quando tinha 19 anos. Na época, ele era membro de um esquadrão de reconhecimento na fronteira das Coreias.

Antiga fotografia de Larry Allen Abshier
Antiga fotografia de Larry Allen Abshier / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

De acordo com o UOL, no ano anterior à derradeira fuga, Larry estava na Coreia do Sul, e enfrentava um processo disciplinar por fumar maconha em serviço. Sua fuga, no caso, foi a primeira de três em um período de menos de um ano.

Uma vez na Coreia do Norte, Larry Abshier se tornou ator em uma série de guerra no país, chamada 'Heróis Sem Nome'. Por fim, também foi informado que ele faleceu anos depois, em 1983, após sofrer um ataque cardíaco em Pyongyang, capital norte-coreana.

James Joseph Dresnok

Seguindo a sequência, o segundo a fugir para a Coreia do Norte foi o soldado James Joseph Dresnok, em agosto de 1962. Na época com 21 anos e recém-divorciado, ele ocupava postos de segurança na Zona Desmilitarizada na fronteira entre as Coreias (DMZ), e enfrentaria uma corte marcial por suspeita de falsificar a assinatura de um superior para que visitasse uma mulher.

James Joseph Dresnok
James Joseph Dresnok / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Da mesma forma como Larry Abshier, ele participou da série 'Heróis sem Nome', além de uma série de outros filmes produzidos por Kim Jong-il, então líder-supremo da Coreia do Norte. Além disso, também trabalhou como professor de inglês no país asiático, e traduziu alguns textos do chefe de Estado norte-coreano

Eventualmente, Dresnok casou-se no país, com uma cidadã romena, com quem teve dois filhos. Ele relatou toda a sua história a Daniel Gordon e Nicholas Bonner, no documentário 'Crossing the line' (2006); e, em 2016, ele faleceu.

Jerry Wayne Parrish

Em 1963, menos de um ano depois da fuga de Abshier, o cabo do exército dos Estados Unidos Jerry Wayne Parrish decidiu cruzar a fronteira das Coreias enquanto patrulhava a DMZ. Na ocasião, deixou seu rifle para trás, acompanhado por um bilhete endereçado à mãe, alegando que um dia voltaria.

Jerry Wayne Parrish
Jerry Wayne Parrish / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Se casou com uma mulher libanesa, com quem teve três filhos. Além disso, também é dito que se tornou um dos mais proeminentes atores da indústria de entretenimento norte-coreana.

No caso dele, não é clara a razão para a fuga, visto não enfrentar nenhum inquérito assim como os outros. Por fim, a data exata de sua morte é incerta, com fontes variando entre os anos de 1996 e 1998, devido a problemas de saúde.

Charles Robert Jenkins

Foi na madrugada entre 4 e 5 de janeiro de 1965 que ocorreu a provável fuga mais famosa em direção à Coreia do Norte: a do sargento Charles Robert Jenkins. Aos 24 anos e temendo uma convocação para a Guerra do Vietnã — além de motivado pelo álcool e uma forte depressão —, ele abandonou seu posto de vigia e, então, atravessou a fronteira entre as Coreias.

Charles Robert Jenkins quando mais jovem e em fotografia em 2004
Charles Robert Jenkins quando mais jovem e em fotografia em 2004 / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons / Getty Images

Em sua primeira década no país, revelou posteriormente que se arrependeu da decisão, tendo sofrido violência física e sofrido a remoção forçada de um de seus testículos. Além disso, também foi obrigado a ensinar inglês a espiões, e foi mais um a se tornar estrela de cinema.

Lá, casou-se com uma cidadã japonesa raptada pelo regime norte-coreano, Hitomi Soga, e, em 2004, conseguiu escapar para o Japão em meio a um degelo nas relações entre os dois países. Nessa época, a esposa já havia sido repatriada, um ano antes, e eles tinham duas filhas.

Na cidade natal de sua esposa, Sado, Charles Jenkins viveu até sua morte, em 2017. Nesse meio tempo, escreveu um livro relatando suas experiências, chamado 'O Comunista Relutante' (2007).

Roy Chung

A próxima fuga de soldado norte-americano à Coreia do Norte só ocorreria quase 15 anos depois de Jenkins, em junho de 1979. Na ocasião, o soldado Roy Chung — de uma família de imigrantes sul-coreanos — desapareceu em serviço na cidade de Bayreuth (da Alemanha Ocidental, aliada aos Estados Unidos na Guerra Fria), mas um mês depois foi declarado como desertor.

Documento de ausência não-autorizada do Exército dos Estados Unidos de Roy Chung
Documento de ausência não-autorizada do Exército dos Estados Unidos de Roy Chung / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Foi só dois meses depois do desaparecimento, que a imprensa estatal norte-coreana anunciou que o homem havia desertado e estava em seu território. No entanto, este caso não foi bem investigado, e sua família passou os anos que se seguiram alegando que ele teria sido sequestrado. Por fim, acredita-se que ele tenha falecido em 2004, de causas naturais.

Joseph T. White

O último caso anterior ao de Travis King, Joseph T. White foi um soldado de infantaria quando, em 1982, fugiu para um posto de guarda da Coreia do Norte na cidade de Kaesong, próxima à fronteira, munindo de documentos militares roubados.

Fotografia de Joseph T. White
Fotografia de Joseph T. White / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Neste caso, aparentemente o regime do país se demonstrou consideravelmente rigoroso e não permitiu o contato entre representantes do Comando das Nações Unidas e White para o esclarecimento dos motivos para a fuga. Em vez disso, o que a Coreia do Norte fez foi o envio de um vídeo dele criticando o governo estadunidense e o envio de tropas à Coreia do Sul.

Por fim, uma carta enviada aos mais de Joseph T. White em 1985 contava que o homem teria falecido naquele ano, aos 23 anos de idade, após ter se afogado enquanto nadava em um rio.