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Matérias / Curiosidades

O Terminal: O que aconteceu com o refugiado que inspirou o filme?

Famoso filme de Steven Spielberg com Tom Hanks, 'O Terminal' é inspirado na verdadeira história do refugiado iraniano Mehran Karimi Nasseri

Éric Moreira Publicado em 13/03/2024, às 16h47

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Mehran Karimi Nasseri (à esqu.) e cena de O Terminal (à dir.) - Reprodução/Vídeo/YouTube/@trtworld e Divulgação
Mehran Karimi Nasseri (à esqu.) e cena de O Terminal (à dir.) - Reprodução/Vídeo/YouTube/@trtworld e Divulgação

Em 2004, foi lançado nos cinemas americanos o filme 'O Terminal', uma cativante história sobre um homem chamado Viktor Navorski, interpretado por Tom Hanks, que fica preso por meses no Aeroporto Kennedy, em Nova York, nos Estados Unidos, depois que se torna apátrida em meio a uma viagem, quando seu país natal, o fictício Krakozhia, entra em guerra civil.

Dirigido pelo cineasta Steven Spielberg, o filme, embora pareça apenas uma história bastante inusitada, é inspirado em uma pessoa real: Mehran Karimi Nasseri.

Em vez de um aeroporto nos Estados Unidos, como o personagem de Tom Hanks fica no filme, Mehran Nasseri, na verdade, ficou preso no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, na França. Porém, o que mais impressiona é o tempo: ao contrário de Viktor Navorski que fica alguns meses por lá, este homem viveu no local durante 18 anos. 

+ O Terminal: Veja diferenças entre o filme e a história real

Mehran Karimi Nasseri durante entrevista / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube/@APArchive

Sem pátria

Mehran Karimi Nasseri, segundo o The New York Times, nasceu em 1945 — não se sabe a data exata — na cidade de Masjid-i-Sulaiman, no Irã. Em 1973, quando tinha 28 anos, passou a viver no Reino Unido, para estudar na Universidade de Bradford.

Porém, enquanto vivia fora de seu país, em 1977, ainda estudante, envolveu-se em manifestações contrárias ao controverso governo do xá Mohammed Reza Pahlavi. Por conta disso, em 1977 ele já não era mais bem-vindo sua terra natal, por "atividades antigovernamentais". Quando retornou foi preso e, pouco depois, exilado.

Neste cenário, ele passou os anos seguintes percorrendo a Europa, sem um país específico onde pudesse viver; até que em 1981 chegou à Bélgica, onde conseguiu status oficial de refugiado.

Então, viajou para a Grã-Bretanha e França tranquilamente nos anos que se seguiram, até que, em 1988, enfrentou um infortúnio que marcaria sua vida para sempre.

O aeroporto

Neste ano, quando ao Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, carregava consigo apenas uma passagem só de ida para Londres, algumas roupas, cerca de US$ 500 e, para seu azar, nenhum documento.

Na época, ele disse às autoridades que seus documentos foram roubados em uma estação ferroviária — embora alguns acreditem que ele tenha se desfeito dos documentos de propósito.

Apesar da situação complicada, as autoridades francesas ainda o permitiram voar para o Aeroporto de Heathrow, em Londres, contrariando as regras habituais de segurança. Porém, quando chegou lá, os funcionários da imigração britânica o impediram de entrar no país, e ele foi enviado de volta à França.

Sem conseguir provar quem era, Nasseri foi para a área de espera do aeroporto, onde costumavam ficar viajantes sem documentos. Lá, permaneceu por dias, semanas, meses... E seguiu nessa penumbra judicial — afinal, ele não poderia ser deportado para o Irã — por anos.

'Casa'

Ao todo, Nasseri viveu no aeroporto francês durante 18 anos, tornando-se eventualmente uma presença peculiar, mas conhecida, por ali. Ele "morava" entre uma pizzaria e uma loja de produtos eletrônicos, com um banco de plástico vermelho e uma mesinha de centro.

Mehran Karimi Nasseri em fotografia de 2005 / Crédito: Foto por Saint Martin pelo Wikimedia Commons

Embora não pareça muito viável a vida em um aeroporto, ele obteve ajuda dos funcionários, com os quais ficou familiarizado com o tempo. Eles lhe davam vales-refeição e produtos de higiene pessoal que sobravam dos voos de primeira classe, que usava para se lavar nos banheiros dos passageiros; ele também lavava suas roupas na lavanderia do local.

Com a eventual fama, viajantes que conheciam sua história e passavam pelo Charles de Gaulle também conversavam com Nasseri, e até lhe davam presentes. Alguns enviaram-lhe dinheiro pelo correio; e certa vez, um viajante lhe deu um saco de dormir e um colchão de acampamento.

O aeroporto não é ruim", disse Mehran Karimi Nasseri ao The Times em 1999. "É muito ativo e funciona todos os dias. Vejo passageiros diferentes todas as semanas de todo o mundo."

Opção

Após mais de uma década vivendo sob estas condições, não surpreende que o iraniano tenha se acostumado. Tanto que, em 1999, ele obteve permissão para deixar o aeroporto e finalmente ir para onde quisesse na Europa — porém, sentia "medo de deixar este mundo de bolha", nas palavras do diretor médico do aeroporto ao The Times naquele ano, ele preferiu permanecer no local.

Finalmente conseguir os papéis foi um grande choque para ele, como se tivesse acabado de cair do cavalo", disse Philippe Bargain, o diretor médico em questão, ao The New York Times. "Quando você espera 11 anos por algo e de repente em poucos minutos você assina alguns papéis e pronto — imagine que choque isso é."

Porém, Nasseri precisaria, inevitavelmente, deixar o aeroporto em 2006. Isso porque em julho daquele ano, ele precisou ser transferido para um hospital — por razões que nunca foram exatamente especificadas.

Mehran Karimi Nasseri / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube/@France24_en

Retorno para o fim

Um ano após ser levado ao hospital, Nasseri foi convidado a viver em um abrigo para moradores de rua em Paris, e vagou de abrigo em abrigo ao longo de mais alguns anos. Então, em setembro de 2022, ele decidiu que voltaria ao Charles de Gaulle, onde certamente passou alguns dos anos mais memoráveis de sua vida.

Porém, apenas algumas semanas após voltar ao local, ele faleceu no terminal 2F do aeroporto, no dia 12 de novembro de 2022. Como já mencionado, não se sabe exatamente a data de seu nascimento, então ele tinha 76 ou 77 anos quando sofreu o ataque cardíaco, conforme divulgado pelo The New York Times na época.