A Tragédia dos Andes foi um dos mais assombrosos acidentes aéreos da América do Sul, que inspirou o novo filme 'A Sociedade da Neve', de Juan Antonio Bayona
Éric Moreira Publicado em 08/01/2024, às 16h25 - Atualizado em 15/01/2024, às 11h53
Chegou ao catálogo da Netflix o filme 'A Sociedade da Neve', do cineasta espanhol Juan Antonio Bayona. Desde sua estreia, o filme vem dado o que falar, sendo uma produção elogiável sobre um dos eventos mais assombrosos da história da América do Sul: a Tragédia dos Andes.
A história mostrada no filme é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito em 2008 por Pablo Vierci, jornalista e colega de alguns dos sobreviventes do evento, que conta com detalhes e relatos o que aconteceu no acidente.
+ A Sociedade da Neve: Veja como é a verdadeira história por trás do filme
Em 13 de outubro de 1972, a América do Sul parou e voltou sua atenção ao que ficaria conhecido como um dos maiores e mais chocantes acidentes aéreos do continente. Na ocasião, o Voo Força Aérea Uruguaia 571, que levava 45 pessoas, caiu na Cordilheira dos Andes em um voo que partiu de Montevidéu, no Uruguai, com destino a Santiago, no Chile.
A bordo do Força Aérea Uruguaia 571 estavam, além dos pilotos e funcionários responsáveis pela própria viagem, o time de rugby Old Christians Club e mais alguns amigos e familiares dos jogadores. Todos viajavam com destino a uma competição que ocorria no Chile, em que jogariam contra uma equipe inglesa.
Viajando em péssimas condições climáticas, a aeronave caiu no Vale das Lágrimas, nos Andes, após os pilotos iniciarem a descida antes do devido. Com autorização do controle aéreo, eles imaginaram que estavam mais próximos do aeroporto de Pudahuel, no Chile, do que realmente estavam. De todas as 45 pessoas a bordo, somente 33 pessoas sobrevivem — em um primeiro momento.
Isso porque a região em que os destroços do avião se espalharam também é bastante inóspita: localizada a uma altitude de quase 4 mil metros, apresentava temperaturas baixas, portanto, mesmo os feridos precisariam sobreviver ao clima extremo e à eventual fome, enquanto todos estavam presos e isolados do mundo.
Logo, com um clima e terreno não favoráveis à sobrevivência, com cada vez menos alimento e até avalanche, cada vez mais pessoas foram morrendo. E para lidar com um problema em comum, aqueles que sobreviveram ainda precisaram apelar a algo mais extremo: se alimentar daqueles que morriam. Isso se prolongou por mais de 70 dias.
Depois de exatos 72 dias em tais condições, dois dos sobreviventes que ainda restavam — Nando Parrado e Roberto Canessa — decidiram partir em busca de ajuda. Após 10 dias vagando pela neve, encontraram um grupo de agricultores chilenos e assim finalmente obtiveram socorro e resgate para seus outros companheiros. Ao todo, 16 pessoas sobreviveram.
Entre os sobreviventes, além dos próprios Parrado e Canessa, também estão Gustavo Zerbino, Eduardo Strauch, Álvaro Mangino, Antonio "Tintim" Vizintín, Pedro Algorta, Alfredo “Pancho” Delgado, Roy Harley, José "Coche" Luis Inciarte, Ramón "Moncho" Sabella, Javier Methol, Carlos “Carlitos” Páez, Roberto "Bobby" François, Daniel Fernández e Adolfo “Fito” Strauch. Confira a seguir o que aconteceu depois com cinco das pessoas que sobreviveram à Tragédia dos Andes:
Para iniciar a lista, vale mencionar um dos responsáveis pela sobrevivência da maioria: Roberto Canessa. Interpretado por Matías Recalt em 'A Sociedade da Neve', atualmente tem 70 anos e, ao longo de sua vida, tornou-se cardiologista pediátrico e palestrante motivacional.
De acordo com o Screen Rant, Canessa já era estudante de medicina quando o avião caiu, e ofereceu ajuda aos sobreviventes após o acidente. Anos depois, ele chegou a lecionar na pós-graduação da Universidade da República, em Montevidéu, e até mesmo concorreu à presidência do Uruguai em 1994 — mas não venceu; quem se elegeu foi Julio María Sanguinetti.
+ Roberto Canessa, um dos sobreviventes da Tragédia nos Andes
Interpretado por Agustín Padrella em 'A Sociedade da Neve', Fernando Parrado hoje tem 74 anos e vive em Montevidéu, capital uruguaia. Hoje, é apresentador de TV, empresário e palestrante motivacional, além de ter co-escrito o livro 'Milagre nos Andes: 72 dias na montanha e minha longa jornada para casa', com Vince Rause, publicado em 2006.
Além disso, não deixaria de ser lembrado como um dos sobreviventes da Tragédia dos Andes. Ao longo dos anos, ele apareceu em vários documentários de televisão e cinema que retrataram o evento.
Uma história curiosa relacionada à produção de 'A Sociedade da Neve' é que um dos sobreviventes, Carlos Páez, é interpretado no longa por "Carlitos" Páez, seu filho na vida real. Vale mencionar que o Carlos "pai" é filho de um famoso artista uruguaio: Carlos Páez Vilaró.
Depois do acidente que mudaria sua vida, ele teve uma carreira de sucesso na área da publicidade, abrindo, eventualmente, sua própria agência, a Rating Publicidad. Posteriormente, ele também foi diretor da Bates Uruguai Publicidad, e atualmente dirige sua própria empresa de Consultoria de Comunicação e Relações Públicas, segundo o Screen Rant.
Hoje com 76 anos, Eduardo Strauch — interpretado por Rafael Federman — é um arquiteto e pintor que, anos antes da tragédia, em 1968, abriu um ateliê de arquitetura com seu melhor amigo de infância, Marcelo Pérez. Casado com Laura Braga, tem cinco filhos.
Depois do acidente, ele fez seu próprio relato sobre a Tragédia dos Andes: em 2019, escreveu o livro 'Fora do silêncio: depois do crash', ao lado da premiada escritora argentina-uruguaia Mireya Soriano.
Outro sobrevivente da Tragédia dos Andes é Gustavo Zerbino, interpretado por Tomás Wolf em 'A Sociedade da Neve'. Depois do acidente, tornou-se palestrante motivacional e especialista em áreas de gestão de adversidades, liderança e motivação, já tendo falado sobre sua própria experiência em universidades de todo o mundo.
Além disso, eventualmente tornou-se diretor e CEO da Federação Uruguaia de Rugby — título este que detém até hoje —, além de ser presidente da Câmara de Formulações Proprietárias do Uruguai, uma organização que reúne laboratórios multinacionais.
