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Curiosidades / Tecnologia

A piada que mudou a história da internet em 1988

A piada dividiu opiniões, sendo alvo de banimento e de um dos primeiros abaixo-assinados da história da rede mundial de computadores

Thomas Pappon* Publicado em 26/02/2023, às 17h00

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Brad Templeton em montagem com imagem poética de tela de computador antigo - Divulgação / Brad Templeton
Brad Templeton em montagem com imagem poética de tela de computador antigo - Divulgação / Brad Templeton

Na década de 1980, a troca on-line de ideias se dava em plataformas como a Usenet, usadas por pessoas com acesso a computadores em instituições acadêmicas e tecnológicas. Gente como Brad Templeton, que usava o computador da Universidade de Waterloo, no Canadá, para alimentar um quadro de mensagens dedicado ao humor – e que rapidamente estaria no centro da primeira grande polêmica sobre liberdade de expressão (e o primeiro ‘cancelamento’) da incipiente internet.

Tudo começou com uma piada. “Era assim: um escocês e um judeu estão jantando juntos em um restaurante”, contou Templeton no podcast As Estranhas Origens das Guerras Culturais, “e na hora que chega a conta, há uma certa surpresa quando o escocês diz, ‘eu pago’. E daí ele paga. No dia seguinte, sai no jornal uma notícia dizendo que um ventríloquo judeu foi encontrado estrangulado num beco”.

Um estudante judeu do Massachusetts Institute of Technology (MIT), chamado Jonathan Richmond, se sentiu ofendido pela piada e reclamou na comunidade Usenet dizendo que não podia tolerar humor preconceituoso associado a perseguição e assassinato. Mas ele foi chamado de “nerd” incapaz de “rir de si mesmo” e quase ninguém ficou do lado dele.

Inconformado, Richmond contatou um jornal da cidade da universidade, o Waterloo Region Record, que publicou um artigo: “Sistema de computador da Universidade de Waterloo é usado para enviar piadas racistas”. Imediatamente, a universidade anunciou que não toleraria a difusão de “material ofensivo” e suspendeu a conta de Templeton.

O caso reverberou e chegou à Universidade de Stanford, na Califórnia, que, nos anos 1980, estava formando vários dos líderes empresariais do Vale do Silício. Stanford também deveria banir o site? A decisão ficou para John Sack, diretor do Centro Computacional da universidade, que sabia que a emergente geração de engenheiros de computação – os arquitetos da internet – estava de olho.

Decisão polêmica

Após semanas de deliberação, foi anunciado que a página também seria banida na universidade, porque “o amor de Stanford pela liberdade de expressão” importava menos que “a busca coletiva por uma maneira melhor de reconhecer cada pessoa como um indivíduo, não uma caricatura”.

A decisão indignou um professor de Stanford, John McCarthy, tido como um dos maiores nomes da computação na época. Horrorizado com a ideia de normas regulando a expressão na internet, McCarthy publicou uma crítica feroz e lançou um abaixo-assinado on-line – um dos primeiros na história. O banimento da página de piadas de Templeton foi rapidamente revertido.

E foi assim, como uma utopia de engenheiros libertários, que a liberdade de expressão floresce sem amarras, sem considerar os perigos que isso poderia causar à sociedade, que a internet se espalharia mundo afora nas décadas seguintes. E os perigos vieram à tona: não apenas os discursos ofensivos, mas também a desinformação e a ferocidade com a qual cada guerra cultural seria enfrentada dali em diante

Sobre o autor

Thomas Pappon é jornalista da BBC News Brasil. Texto adaptado do podcast ‘As Estranhas Origens das Guerras Culturais’. Escute o episódio completo abaixo!