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Da ganância a redenção: Quem foi Oskar Schindler?

Eternizado nos cinemas por uma das melhores produções de Steven Spielberg, A Lista de Schindler, o homem que operou milagres no Holocausto não era exatamente um herói convencional

Daniel Bydlowski, cineasta Publicado em 16/10/2021, às 09h00 - Atualizado em 27/04/2023, às 19h33

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Cena do filme 'A Lista de Schindler' (1993) - Divulgação/ Amblin Entertainment
Cena do filme 'A Lista de Schindler' (1993) - Divulgação/ Amblin Entertainment

No dia 8 de outubro, o mundo despedia-se de seu herói menos convencional, Oskar Schindler, o industrial aliado aos nazistas, responsável por salvar 1.200 judeus na Polônia durante o Holocausto. Sua façanha ficou conhecida por meio de uma das melhores produções da sétima arte e do diretor, Steven Spielberg, A Lista de Schindler.

Longe das fórmulas de ficção, o longa de 184 minutos, lançado em 1993, escrito para o cinema por Steven Zaillian, conseguiu trazer a sensação de magnitude do Holocausto. Gravar as cenas nos locais reais onde aquelas pessoas viveram ou deram seu último suspiro foi certamente impactante para os atores, sentimento que eles conseguiram passar para o público.

Crédito: Divulgação/ Amblin Entertainment

Embora, Schindler tenha recebido a honra oferecida aos não judeus por salvar vidas durante a Guerra, o prêmio de Justos entre as Nações do Yad Vashem, Memorial do Holocausto em Israel, ele foi alguém contraditório. Sua esposa chegou a comentar em sua biografia, que nem em sonhos se casaria novamente com ele.

Interpretado no longa por Liam Nesson, Oskar Schindler, natural da Morávia, estava longe de seguir pelos caminhos morais. Com um estilo de vida bastante extravagante, era jogador, mulherengo e grande fã da bebida e do dinheiro. Foi levado ao local e momento certo para o grande feito de sua vida por pura ganância.

Amigo dos nazistas e espião do Abwehr, o serviço de informações alemão, tinha grande influência dentro do partido, o qual era membro formal, e assim conseguiu facilmente uma autorização para administrar uma fábrica de metais, utensílios domésticos e cerâmica esmaltada na Cracóvia ocupada, Polônia, em 1939.

Com o pensamento focado no lucro, viu nos judeus, principalmente os do Gueto da Cracóvia, um dos cinco principais criados pela Alemanha nazista na ocupação da Polônia, e do Campo de concentração de Plaszow uma mão de obra barata durante a Guerra.

Ao longo dos anos, presenciar a perseguição sem sentido e brutal contra a população judaica o fez mudar de ideia. Com a ajuda daquele que seria um grande aliado em seu propósito e que o ajudou a construir sua fortuna, Itzhak Stern, o contador judeu de sua fábrica, interpretado por Bem Kingsley no filme, ele não só dedicou todas as suas finanças, como arriscou sua vida para salvar aquelas pessoas do extermínio alemão.

Com sua influência no alto escalão, logo a enorme fábrica de esmaltados também se tornou um empreendimento para munições, empregando centenas de homens e mulheres marginalizados e perseguidos.

E embora suas atitudes correspondessem a de outros empresários alemães como escalar judeus sob o controle dos nazistas para trabalhar, o empresário os favorecia ao falsificar registros para listar donas de casas e crianças como metalúrgicos ou mecânicos especializados.

Com o avanço dos russos em 1944, Schindler recebeu a ordem de encerrar seus negócios, mas conseguiu autorização para continuar a produção em uma fábrica que ele e sua mulher, Emilie tinham em Brünnlitz, na Morávia.

Com a desculpa de que precisava de todos os seus funcionários na nova localização, Schindler fez uma lista com os nomes de centenas de prisioneiros judeus que viriam a ser salvos.

Encontrada em uma biblioteca de Sidney na Austrália, a lista com 13 páginas amareladas, estava entre os materiais de pesquisa do escritor australiano Thomas Keneally, comprados em 1996. Keneally é autor do romance, A arca de Schindler de 1982, que baseou o filme de Steven Spielberg.

Embora Schindler não tenha medido esforços para salvar todos, muitos foram enviados aos campos de concentração de Gross-Rosen e Auschwitz. Posteriormente, Schindler conseguiu negociar a libertação de diversos homens e mulheres, com a promessa de pagamento direto aos nazistas pela sua força de trabalho.

Este foi um dos maiores casos registrados em que tantas pessoas conseguiram sair vivas de um campo enquanto as câmaras de gás estavam ativas.

Schindler usou muito bem suas características como negociador e manipulador. Ao parar um trem que carregava judeus, sem água ou comida, para o campo de extermínio, conseguiu convencer comandantes nazistas de que precisava daquelas pessoas em sua fábrica.

A cena retratada no filme inesquecível de Spielberg, demonstra como Oskar era capaz de ser persuasivo. Enquanto os oficiais nazistas se esbaldavam com o sofrimento dos judeus, morrendo de fome e sede, Schindler finge zombar da situação ao jogar água com uma mangueira nos vagões para aliviá-los do calor e sede.

Emilie, sua esposa, além de ter grande participação nos resgates, também compartilhava do respeito que eles deveriam ter, ao organizar junto ao marido, enterros com ritos judaicos para os corpos encontrados.

Schindler investiu toda a sua fortuna para salvar os judeus, precisando mais tarde de ajuda de organizações de assistência e grupos de sobreviventes judaicos para viver em Buenos Aires, Argentina, local para onde ele e sua esposa emigraram.

Separado de Emilie, passou a viver entre Israel e Alemanha, falecendo em Hildesheim em 1974. Como homenagem aos seus feitos, alguns judeus resgatados por ele, levaram seus restos mortais para serem enterrados no Cemitério Católico de Jerusalém, em Israel.

Uma curiosidade do filme de Spielberg é a menina de vermelho, que se destaca na fotografia em preto e branco na famosa cena em que Schindler observa uma invasão nazista a um dos guetos judeus. Simbolicamente ela representa o momento de confronto com a realidade para Schindler, a virada que o levou a se tornar um herói.


Sobre o cineasta

O cineasta brasileiro Daniel Bydlowski é membro do Directors Guild of America e artista de realidade virtual. Faz parte do júri de festivais internacionais de cinema e pesquisa temas relacionados às novas tecnologias de mídia, como a realidade virtual e o future do cinema. Daniel também tenta conscientizar as pessoas com questões sociais ligadas à saúde, educação e bullying nas escolas. É mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor faculdade de cinema dos Estados Unidos. Atualmente, cursa doutorado na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. Recentemente, seu filme Bullies foi premiado em NewPort Beach como melhor curta infantil, no Comic-Con recebeu 2 prêmios: melhor filme fantasia e prêmio especial do júri. O Ticket for Success, também do cineasta, foi selecionado no Animamundi e ganhou de melhor curta internacional pelo Moondance International Film Festival.


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