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Matérias / Carnaval

O carnaval que quase teve um carro alegórico do Holocausto

Alegoria contaria com representação dos judeus mortos na 2ª Guerra e um destaque vestido de Adolf Hitler

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 19/02/2023, às 00h00

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Registro de Auschwitz - Pixabay
Registro de Auschwitz - Pixabay

Na noite de hoje, 19, o desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro começam com a Império Serrano. A festa vai até a madrugada entre segunda e terça, 20 e 21, quando a Unidos do Viradouro será a última escola a cruzar a Marquês de Sapucaí

A escola, em 2023, apostará na homenagem à Rosa Maria Egipcíaca. Nascida em Benim, em 1719, Rosa Maria foi trazida ao Brasil por um navio negreiro quando tinha apenas seis anos. 

Ela é apontada como a primeira afro-brasileira a escrever um livro no Brasil. Escravizada, prostituta, beata e feiticeira, Rosa Maria Egipcíaca viveu no Rio de Janeiro e nas cidades históricas do estado de Minas Gerais.

Rosa Maria Egipcíaca será homenageada pela Viradouro/ Crédito: Divulgação

Segundo Rosely Santos Guimarães em tese da UFMG intitulada ‘Corpo negro: entre a história e a ficção. O caso de Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz’, Rosa Maria foi tida como herege e falsa santa pela Igreja Católica. 

Assim, acabou sendo presa nos Cárceres do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa. Rosa Maria Egípcia morreu, de causas naturais, em 12 de outubro de 1771, aos 52 anos, ainda sob cárcere. 

Polêmicas passadas

Em 2008, a Viradouro também foi a escola a fechar a noite de desfiles, desta vez do domingo. Na ocasião, a escola apostou no samba-enredo "É de arrepiar". Com o intuito justamente de causar arrepios nos foliões, a escola mirou nos mais diversos ‘sentimentos’. 

Segundo recorda o G1, a Viradouro levou à avenida uma pista de esqui, um gigante boneco recém-nascido logo após o parto, o personagem Edward mãos-de-tesoura, posições do Kama Sutra e até cenas do filme ‘O Exorcista’

Desfile da Viradouro em 2008/ Crédito: Regina Santelli via Wikimedia Commons

Mas a grande polêmica ficou por conta do quinto carro alegórico, que seria responsável por causar o “arrepio da execução”, segundo o carnavalesco Paulo Barros. Acontece que a alegoria decidiu retratar o Holocausto. O carro teria a representação de cadáveres que seriam uma representação dos judeus mortos na Segunda Guerra e ainda teria um destaque vestido de Adolf Hitler

Porém, ao saber disso, a Federação Israelita entrou com ação na Justiça. A Viradouro foi proibida de entrar com o carro na avenida a menos de 48 horas do desfile. O que fez com que o carro fosse reformulado, repercutiu o Estadão na época. 

A solução encontrada por Paulo Barros foi transformar a alegoria num protesto a favor da 'liberdade de expressão'. O carro, com diversos componentes vestidos de branco e usando uma mordaça, apresentou a figura de Tiradentes enforcado. 

A alegoria ainda carregava duas faixas onde era possível ler "Liberdade Ainda que Tardia" e "Não se Constrói Futuro Enterrando a História". O carro original, aponta o G1, havia custado cerca de 400 mil reais. 

Desfile da Viradouro em 2008/ Crédito: Regina Santelli via Wikimedia Commons

"Nem os algozes, nem as vítimas da trágica história da humanidade têm o direito de ocultar os fatos, entorpecer a memória. A proibição sumária da expressão artística é o primeiro passo em direção ao precipício: queimar livros, censurar filmes, destruir alegorias. Por trás de toda arbitrariedade, se esconde a mediocridade, a impossibilidade de vencer a força das ideias, e o que resta é dizimá-las", declarou Barros em um comunicado oficial. 

A quinta alegoria da Viradouro passará na Sapucaí representando um protesto contra todo o tipo de extermínio da vida e da liberdade. Não se conta a verdadeira história do homem só com poesia e prazer. As cicatrizes da alma são a melhor forma de proteção contra novas feridas", continuou.