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Matérias / Titanic

Os músicos continuaram tocando enquanto o Titanic afundava?

Cena da orquestra tocando enquanto o Titanic afundava se tornou um clássico no filme de James Cameron. Mas o cenário era apenas uma licença poética do diretor?

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 25/02/2023, às 00h00 - Atualizado em 15/06/2023, às 15h36

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Cena do filme Titanic (1997) - Divulgação/20th Century Studios
Cena do filme Titanic (1997) - Divulgação/20th Century Studios

Estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, o clássico ‘Titanic’ (1997) é um dos principais filmes que narra o naufrágio do luxuoso transatlântico RMS Titanic — entre os dias 14 e 15 de abril de 1912.

Seja por suas icônicas cenas, como Jack e Rose se abraçando na proa da embarcação, ou pela eterna polêmica se os dois realmente cabiam na porta, a produção vencedora de 11 prêmios do Oscar também é responsável por um momento único e que ainda hoje gera dúvida: afinal, os músicos do Titanic continuaram tocando enquanto o navio afundava? 

Os músicos 

Antes de mais nada, é válido ressaltar que a cena não foi criação do diretor James Cameron. Conforme relembra matéria da BBC, o relato da imagem dos músicos tocando no convés enquanto o Titanic naufragava aparece em diversos outros livros e filmes sobre a tragédia. Portanto, isso não se trata de uma licença poética de Cameron

Cena do filme Titanic (1997)/ Crédito: Divulgação/20th Century Studios

A grande questão que gera a discussão não é se os músicos tocaram algo, mas o que eles tocavam? Indo além, qual o papel o ato heroico da orquestra teve nos passageiros durante a tragédia?

Sabe-se que após o Titanic atingir o iceberg, por volta das 23h40 do horário local, a orquestra continuou tocando por mais de duas horas. Tudo isso em meio ao caos e a luta dos passageiros em entrar nos botes salva-vidas. 

Para se ter uma noção da dimensão do episódio, 2.223 pessoas estavam a bordo do RMS Titanic naquela ocasião. Desse montante, 1.517 delas morreram — número já contando passageiros e tripulantes. 

+ ‘A criança desconhecida do Titanic’: A triste saga de uma vítima de 19 meses

Voltando ao assunto, enquanto o naufrágio acontecia, os músicos embalavam a última trilha sonora de muitos com valsas animadas e ragtimes — um genuíno gênero musical norte-americano que teve seu pico entre 1897 e 1918. As canções eram as mesmas executadas nas áreas de primeira classe do Titanic

Cena do filme Titanic (1997)/ Crédito: Divulgação/20th Century Studios

No mesmo ano que o naufrágio completou um século, ou seja, em 2012, o compositor Peter Young criou uma peça musical resgatando as músicas que a orquestra teria executado. “Teria sido uma coisa legal”, declarou à época em entrevista para a BBC londrina. 

Desde canções nas trincheiras até canções de ninar, a música tem um impacto direto nas emoções. Tenho certeza", continuou. 

Música e emoção 

Diversos estudos analisam o impacto que a música tem em nossas vidas, mas qual papel as canções podem desempenhar em uma situação de estresse tão extrema quanto o naufrágio do Titanic?

A psicóloga musical Nikki Dibben, da Universidade de Sheffield, relata que existem pesquisas que sugerem que a música pode ter um papel em reduzir a percepção de dor nos seres humanos. “Também há muitas pesquisas mostrando que as pessoas usam a música na vida cotidiana para regular humores específicos”.

Cena do filme Titanic (1997)/ Crédito: Divulgação/20th Century Studios

Seguindo essa linha, a profissional entende que existe um “potencial” de que as músicas tocadas pela orquestra influenciaram nos sentimentos dos passageiros que estavam encarando a morte; visto que as valsas e os ragtimes eram bem populares e conhecidos naquela época. 

As associações que a música tem para as pessoas podem afetar emoções e ragtimes e valsas sugerem dança e contextos sociais felizes”, aponta. 

Nikki entende que a banda pode ter ajudado os passageiros a se manterem mais calmos, além da música abafar ou bloquear barulhos que pudessem aumentar a carga de ansiedade. "Mascarar os sons das ondas, soluços, histeria pode ser realmente benéfico".

O último acorde

Mas se a banda tocou por mais de duas horas enquanto o RMS Titanic naufragava, qual foi a última música que eles tocaram? Nesta questão há respostas divergentes, mas que ainda assim ajudam a dar uma ideia do clima criado pela orquestra na ocasião. 

O curador do National Maritime Museum em Greenwich, John Graves, acredita existir "evidências muito fortes" de que foi ‘Nearer My God To Thee’. Hino tradicional protestante do século 19, a letra foi escrita por Sarah Flower Adams e baseada em Gênesis 28:11-19, que narra a história do sonho de Jacó. 

O líder da banda, Wallace Hartley, era um metodista devoto. Sua família esculpiu no monumento sobre seu túmulo os primeiros compassos da versão de Arthur Sullivan de Nearer My God To Thee", apontou o Graves

Além disso, relata o curador, Hartley teria tido uma vez uma conversa com um colega de outro transatlântico, o RMS Mauretania, de que se um dia estivesse em um navio afundando, gostaria de reunir sua banda para tocar ‘Nearer My God To Thee’ ou então 'Oh God Our Help In Ages Past' — um hino de Isaac Watts, de 1708, que parafraseia o Salmo 90 do Livro dos Salmos.

Entretanto, o operador de rádio do Titanic, Harold Bride, que sobreviveu ao naufrágio, certa vez disse ao The New York Times: "O navio estava gradualmente virando de ponta-cabeça. Acho que toda a banda afundou. Eles eram heróis. Eles ainda tocavam Autumn". 

Segundo Graves, Bride quase que certamente se referia a uma valsa. "Os jornais da época a interpretaram como o hino Autumn", contou. A informação ganhou ainda mais credibilidade ao ser incluída no livro ‘A Night To Remember’, de Walter Lloyd, considerado um relato definitivo do que aconteceu com o Titanic

A única certeza, porém, é que Wallace Hartley, líder da orquestra, assim como os músicos John Woodward, John Frederick Clarke, Georges Krins, Theodore Brailey, John Law Hume, Percy Cornelius Taylor e Roger Bricoux, também foram vítimas de um dos naufrágios mais emblemáticos da história.