Mulher rodeada de bombas no Sul da Austrália (1943) - Biblioteca Estadual do Sul da Austrália, via Wikimedia Commons
Segunda Guerra

Vestidos remendados, truques de maquiagem e cabeleireiros em sufoco: A moda durante a Segunda Guerra

Apesar do conflito e suas restrições, as mulheres não deixaram de lado o glamour e a feminilidade

Laura Wie (@laura_wie), especialista em História da Moda Publicado em 23/10/2021, às 06h00 - Atualizado em 26/10/2021, às 15h41

Quando se fala em “guerra”, a única coisa que vem à nossa cabeça é estrago e destruição. Sim, este tipo de cena é comum e estarrecedor, mas devemos lembrar também que a vida cotidiana continua fora do epicentro nos campos de batalha e frequentemente de maneira bastante normal - com algumas adaptações, é claro.

A moda, neste caso, se torna acessória de novas necessidades e comportamentos. Foi durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que o eixo da moda muda. Paris, o clássico berço fashion, sofre severas limitações a partir da Ocupação nazista em 1941, e acaba perdendo a sua posição secular como centro ditador de tendências e estilo.

Ao mesmo tempo, outros países já buscavam espaço junto ao seu próprio público consumidor – clientela que teve que se adaptar, uma vez que o acesso ao conceito parisiense que era, até então, exportado para o Ocidente inteiro, foi dificultado.

As restrições econômicas, a falta de material e a presença do comando nazista foram decisivas para a retração das Casas de Costura francesas, o que abriu possibilidades para a moda criada em outros mercados, como a Inglaterra e, principalmente, os Estados Unidos. Afinal, os cuidados com a aparência não desapareceram por conta da guerra.

Elegância na agenda

As mulheres europeias mantinham a elegância e sua agenda de beleza em meio à escassez de roupas e à dificuldade financeira. As mais vaidosas continuavam a frequentar os salões para arrumar os cabelos de tempos em tempos, e os estabelecimentos que ficavam sem eletricidade por conta do racionamento, achavam maneiras criativas de gerar energia para os secadores - como o pedalar de bicicletas acopladas a geradores.

Manter-se bonita era bastante aconselhável, pois se entendia que os soldados mereciam voltar das batalhas para casa, durante as suas folgas, e encontrar as suas esposas alegres e bem-cuidadas – hábito feminino que foi considerado um dos esforços de guerra.

A bicicleta, aliás, se tornou um veículo de locomoção muito popular por conta do controle da gasolina para carros, o que foi preponderante para o surgimento da saia-calça para as mulheres, uma peça-chave para o espírito daquele tempo. E elas não se deixavam abater!

Remendavam vestidos antigos, adicionando detalhes estratégicos como laços de fitas ou flores de tecido em locais puídos. Cortavam ou adicionavam barras, mudando comprimentos, e conseguiam um feitio diferente quando costuravam juntos, em um terceiro modelo, os pedaços bons de trajes muito usados. O reaproveitamento era indispensável.

Inclusão feminina

As revistas na Europa não deixaram de ser publicadas, mas o tom da imprensa feminina mudou bastante. As mulheres eram incentivadas a participar da sociedade e a praticidade foi colocada em andamento em todas as esferas do dia a dia, com dicas de guarda-roupas enxutos e truques de maquiagem.

A guerra possibilitou e exigiu novas posições para a mulher, que se destacou no trabalho das fábricas de armamentos, roupas e alimentos. Muitas exerciam a atividade de enfermeiras e motoristas de ônibus e ambulâncias.

Por conta disso, a classe começa a ser celebrada em papéis que se perpetuaram no pós-guerra, ou seja, a emancipação feminina estava em pleno curso, abrindo horizontes e oportunidades que reafirmavam a competência e o talento das mulheres.

Saiba mais detalhes sobre a moda feminina durante a Segunda Guerra Mundial no podcast que eu narro, a seguir: as imposições dos países envolvidos dentro do setor de vestuário, as implicações do conflito na alta-costura parisiense e o surgimento de um novo conceito de vestimenta direcionado ao mercado de massa.

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