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Desventuras / Lizzie Borden

Absolvida por crime brutal, Lizzie Borden só deixou de ser julgada por seus cães

Acusada de matar seu próprio pai e sua madrasta em 1892, Lizzie Borden foi absolvida, mas jamais escapou do tribunal da opinião pública

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 25/02/2024, às 11h08

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Lizzie Borden - Domínio Público
Lizzie Borden - Domínio Público

"Crime chocante! Cidadão do bem e esposa idosa esquartejados na própria casa", foi com essa manchete que o jornal Fall River Herald descreveu o brutal duplo homicídio que ocorreu em Massachusetts, nos Estados Unidos, em 4 de agosto de 1892. 

Na ocasião, Lizzie Borden, uma garota da alta sociedade americana, teve que encarar o tribunal diante da acusação de ter matado seu pai Andrew Jackson Borden, junto de sua madrasta, Abby Durfee Gray. O caso se tornou um escândalo.

+ O bizarro destino da casa onde os familiares de Lizzie Borden foram assassinados

Bastidores de um crime

Nascida em 19 de julho de 1860, Lizzie Borden era oriunda de uma família abastada. Embora seu pai fosse proprietário de estabelecimentos comerciais e atuante na gerência de bancos e instituições financeiras locais, Lizzie foi criada sob o hábito de economizar cada centavo — costume herdado da infância pobre de Andrew

Como descreve Mackenzi Lee no livro 'A história do mundo e cinquenta cachorros' (Ed. Paralela), "embora fossem cheios da grana, os Borden não tinham saneamento em casa, nem eletricidade. E viviam e forma muito humilde por causa de sua religião rigorosa". 

As coisas ficaram ainda piores em 1863, quando a mãe de Lizzie, Sarah, faleceu. Três anos depois, o patriarca se casou com Abby Gray; quem Lizzie e sua irmã, Emma, sempre especulavam ser uma interesseira. 

Àquela época, as duas se dedicavam em atividades na comunidade religiosa de Fall River, dando aulas para crianças e imigrantes, além de ajudar nas organizações filantrópicas da igreja.

A casa dos Borden - Domínio Público

Embora ninguém soubesse o que se passava entre quatro paredes, a situação se agravou em meados dos anos 1890 — o que pode ter contribuído para os assassinatos; embora Borden tenha sido absolvida das acusações (algo que será explicado mais adiante!).

Ela pode ter se incomodado com a presença da madrasta", teoriza Lee no livro. "Ou com o fato de o pai dar dando muito dinheiro à família Abby, ainda que não se importasse em investir em um banheiro dentro da própria casa". 

Outro fato levantado pela autora é que Andrew teria matado alguns pombos de estimação da filha. "Também se especula que Lizzie fosse vítima de violência física ou talvez sexual por parte do pai, ou que o estresse de ser uma mulher lésbica no armário do século 19 a levou ao limite". 

O caso

Seja lá qual teria sido a motivação para os crimes, o fato é que por volta das 11 horas da manhã do dia 4 de agosto de 1892, Lizzie chegou em casa desesperada e encontrou com a empregada doméstica Bridget Sullivan, que limpava as janelas da casa.

Borden deu a notícia aterrorizante: havia encontrado seu pai morto. Pouco depois, as duas subiram até o quarto e encontraram o corpo de Abby já sem vida, esparramado pelo chão. Os dois haviam sido mortos com pancadas violentas na cabeça: dizem que Andrew teria sido golpeado 41 vezes com um machado ou algo parecido; já Abby sofreu um golpe a menos. 

Na verdade, provavelmente foram 29 machadadas ao todo", descreve Mackenzie. 

Dois dias depois do crime, os veículos de imprensa começaram a especular a participação de Lizzie nos brutais assassinatos. Segundo o farmacêutico informou às autoridades, Borden teria lhe procurado no dia anterior as mortes em busca de cianeto de hidrogênio; um veneno mortal. 

"A polícia ficou confusa por não haver sangue em lugar nenhum, apenas nos corpos", narra Lee. "E por não conseguirem encontrar a possível arma do crime". Para tornar o cenário mais desfavorável à Lizzie, ela estaria em casa durante todo o tempo e jamais relatou ter visto algo de suspeito ou alguém. 

Segundo as investigações forenses, Abby foi a primeira ser morta: quase 90 minutos antes de Andrew. O crime teria ocorrido entre 9h e 9h30, após subir para arrumar o quarto de hóspedes. As investigações apontam que ela foi golpeada na cabeça, acima da orelha e então caiu no chão. Ela ainda teria sofrido 17 golpes na parte de trás do crânio. 

Enquanto a mulher era morta, Andrew estava na cidade com John Morse — irmão da mãe de Lizzie que o havia lhe visitado na noite anterior para discutir sobre os negócios da família. Quando o patriarca voltou para casa, foi golpeado enquanto tirava um cochilo. Ele não teve como reagir. 

O veredicto 

Durante seu interrogatório, Lizzie Borden deu respostas consideradas estranhas e contraditórias a respeito dos acontecimentos da manhã em que os crimes aconteceram.

"Ninguém levou em consideração que ela estava de luto pela morte do pai, que tinha testemunhado um acontecimento trágico e provavelmente traumatizante e estava sob efeito de morfina para se acalmar, o que poderia ter afetado sua saúde mental", escreve Mackenzi

O julgamento de Lizzie Borden - Domínio Público

O julgamento de Lizzie Borden começou em junho de 1893. Convictos de que ela era culpa, porém, as autoridades não encontraram nenhuma evidência de que ligasse Lizzie aos crimes. A polícia também admitiu que, no fatídico dia, eles não conseguiram realizar uma busca completa pelo imóvel. Pela falta de provas, ela acabou absolvida.

Depois de um julgamento altamente sensacionalista e divulgado ao extremo, Lizzie foi absolvida por um júri de doze homens, um mais bigodudo que o outro", aponta Lee. "Esse foi um dos primeiros julgamentos na história norte-americana a ser coberto pela grande mídia da mesma forma como os casos mais moderno são hoje em dia". 

Os amigos

Apesar de tudo o que aconteceu, Lizzie decidiu permanecer em Fall River. Por lá, ela comprou uma casa nova em um dos bairros mais bonitos da cidade. Ainda adotou o nome Lizbeth

Mesmo com a absolvição, Borden jamais escapou do tribunal da opinião pública. Ela também deixou de conviver com a irmã após assumir seu relacionamento com a atriz Nance O’Neil

"Ninguém queria se sentar com ao lado dela na igreja. Crianças apostavam quem teria coragem de tocar a campainha dela de madrugada. Desconhecidos jogavam ovos e pedras na casa", escreve Mackenzi Lee no livro 'A história do mundo e cinquenta cachorros'

Explicando a relação do nome de sua obra com o crime, a autora aponta que o único conforto que restou a Borden vinha de seus cachorros: Boston Bull Terriers preto e branco. 

Ela era mãe de pet de três Boston Bull Terriers: Royal Nelson, Donald Stuart e Laddie Miller. Eles não estavam nem aí se Lizzie era uma possível assasina e/ou uma das mulheres mais difamadas do país. Carinho é carinho".