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Desventuras / Dom Pedro I

Como Dom Pedro I entrou para a maçonaria

Mais lidas: Iniciado na maçonaria, o imperador assumiu o codinome Pedro Guatimozim, uma homenagem ao último rei asteca

Tiago Cordeiro, arquivo Aventuras na História Publicado em 24/08/2022, às 16h26 - Atualizado em 13/09/2022, às 15h49

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Montagem de Dom Pedro I com emblema maçônico - Domínio Público / Wikimedia Commons
Montagem de Dom Pedro I com emblema maçônico - Domínio Público / Wikimedia Commons

Dom Pedro I chegou ao topo da maçonaria brasileira tão rapidamente quanto deu um fim provisório à irmandade. É fácil entender o porquê dessa mudança de atitude. Dom Pedro Irecorreu à ordem para declarar a independência. Mas, assim que se tornou o primeiro imperador do Brasil, os irmãos maçons viraram um estorvo.

A cronologia dos fatos no movimentado ano de 1822 deixa essa situação mais clara: dom Pedro foi aceito pela maçonaria no dia 13 de julho. Seu ritual de iniciação ocorreu a 2 de agosto, na loja Comércio e Artes — ele estava, segundo relato do historiador Pedro Calmon no livro 'A Vida de Dom Pedro I', “ardendo em curiosidade, a fantasia despertada pelo mistério de um rito perfumado de magia oriental”.

Depois de iniciado, assumiu o codinome Pedro Guatimozim, uma homenagem ao último rei asteca (os integrantes da maçonaria tinham, e ainda têm, o hábito de adotar pseudônimos que os liguem a personagens antigos considerados inspiradores). E, no dia 5 de agosto, já era mestre da loja.

Dois meses mais tarde, a 5 de outubro, Pedro tornou-se grão-mestre do Grande Oriente do Brasil. Àquela altura, a independência já estava declarada e ele era o imperador de um novo país. Depois de apenas 17 dias na condição de líder da maçonaria brasileira, renunciou ao posto e mandou fechar a entidade.

“Como monarca, ele ficou insatisfeito com os questionamentos dos maçons e com o fato de poder ser abertamente contestado pelos irmãos”, diz o historiador Jesus Hortal Sánchez. “Quando percebeu que nem mesmo o cargo de grão-mestre garantia obediência absoluta, decidiu acabar com a ordem”.

Não deixa de ser curioso que, depois de deixar o Brasil, em 1831, Pedro I tenha se tornado Pedro IV, imperador de Portugal e grande defensor da liberdade na Europa.
Ao regressar para sua terra natal, ele defendeu a volta do governo constitucional àquele país, que, desde a morte de Dom João VI, em 1826, era governado com mãos de ferro por seu irmão Miguel.

O conflito familiar, entretanto, acabaria levando Pedro a buscar o exílio. Sua postura provocava revolta entre as monarquias conservadoras de Rússia, Áustria e Prússia, mas fazia sucesso na França, que buscava se tornar mais liberal. E foi em Paris que Pedro decidiu se estabelecer, enquanto organizava a resistência contra Miguel.

Passagem histórica

Em 1834, liderando apenas 7 mil homens, seguiu para Portugal, pegou em armas e derrotou o próprio irmão. Depois do feito militar, conseguiu que sua filha Maria assumisse o trono e, como Maria II, desse continuidade a seu projeto. A rainha lideraria
a transição para a monarquia constitucional.

A atitude de Pedro era coerente com a do jovem príncipe que anos antes, em 1821, tinha ficado no Rio de Janeiro, ao que tudo indica, porque causava insegurança ao pai — dom João VI temia que o filho apoiasse o movimento constitucionalista que, em Portugal, pedia a limitação dos poderes reais. Mesmo ficando no Brasil, Pedro conseguiu que o pai aceitasse assinar uma constituição que restringia seus próprios poderes.

Por que, então, dom Pedro não se re-velou um liberal enquanto foi o primeiro imperador do Brasil? Porque temia que o poder da Assembleia Constituinte, eleita em 1823, ameaçasse seu governo e levasse o império à mesma fragmentação sofrida pelas ex-colônias espanholas vizinhas.

Desafiado pelos parlamentares da oposição (entre os quais estariam vários maçons, que
se mantinham muito atuantes politicamente, apesar do fim do Grande Oriente), Pedro acabaria dissolvendo a Assembleia em novembro de 1823. E, em março do ano seguinte, outorgaria uma Constituição criada por um conselho de dez pessoas que ele mesmo indicara.

Apesar do autoritarismo na forma de governar, a Constituição elaborada sob medida pelo imperador incluía direitos raros para a época, em especial a liberdade de crença e culto. Por outro lado, dom Pedro promoveu uma tremenda centralização de poder, provocando uma série de revoltas ao longo da década de 1820.

No fim das contas, o ex-maçom Pedro de Alcântara viveu apenas 35 anos, o suficiente para mudar para sempre os rumos não apenas do Brasil mas também de Portugal.

Para saber mais sobre o tema, ouça agora o podcast abaixo 'Desventuras na História', apresentado pelo professor de História Vítor Soares, idealizador do podcast 'História Em Meia'.