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Desventuras / A Lista de Schindler

Há 30 anos, A Lista de Schindler era banido na Malásia

"[A Lista de Schindler reflete] apenas o privilégio e as virtudes de uma determinada raça", dizia documento de censura que gerou debate sobre antissemitismo

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 24/02/2024, às 11h00

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Cena do filme 'A Lista de Schindler' (1993) - Divulgação/ Amblin Entertainment
Cena do filme 'A Lista de Schindler' (1993) - Divulgação/ Amblin Entertainment

Ao salvar centenas de judeus dos campos de concentração durante o Holocausto, o empresário alemão Oskar Schindler se tornou um dos grandes nomes da Segunda Guerra — embora tenha morrido pobre e quase desconhecido em 1974, aos 66 anos; após deixar sua esposa Emilie Schindler na Argentina. 

Sua memória, porém, foi resgatada pelo escritor australiano Thomas Keneally em 1982, ano de publicação do livro 'Schindler’s Ark'; que rendeu ao autor os prêmios do Booker Prize e do Los Angeles Times Book Prize.

Com o legado de Oskar cada vez mais reconhecido, foi a vez do diretor norte-americano Steven Spielberg levar sua história a um público maior. Lançado em 1993, A Lista de Schindler foi indicado a 12 prêmios do Oscar, arrematando sete deles: como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado. 

Ao redor do mundo, a produção arrecadou 322 milhões de dólares; sendo classificada pelo American Film Institute, em 2007, como o 8º lugar na lista dos 100 melhores filmes americanos de todos os tempos. 

Já a Biblioteca do Congresso designou A Lista de Schindler como "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo". Apesar de todo sucesso e reconhecimento, o longa-metragem coleciona polêmicas. Além da falta de reconhecimento de Emilie Schindler na história, o longa chegou a ser censurado em alguns países. Entenda!

Emilie e Oskar na Cracóvia, em 1942/ Crédito: Imagem gentilmente cedida por Erika Rosenberg-Band

+ Esquecida por Spielber: Emilie Schindler teve uma vida digna de filme

A censura 

Em março de 1994, o jornal Los Angeles Times noticiou que A Lista de Schindler teve a exibição proibida na nação muçulmana da Malásia. Como era de se imaginar, a proibição gerou revolta entre grupos judaicos ao redor do mundo. 

Na ocasião, a United International Pictures, responsável por distribuir o filme no exterior, relatou que recebeu uma carta do conselho de censores da Malásia explicando o motivo da proibição do longa: 

[A Lista de Schindler reflete] apenas o privilégio e as virtudes de uma determinada raça", dizia o documento. 

Além disso, segundo a carta, que foi escrita em malaio e traduzida pela empresa, apontava que o filme se tratava de uma "propaganda com o propósito de pedir simpatia [de um povo] e também de manchar a outra raça".

De acordo com Zainun Bin Saleh, então censor de cinema do governo da Malásia, o filme de Spielberg quebrava regulamentos do país. Como resultado, as autoridades exigiram a exclusão de 25 "cenas de sexo, crueldade, horror e diálogo obsceno".

Como resposta, Michael Williams-Jones, presidente da United International, por meio de entrevista por telefone de Londres, declarou que achou a decisão da Malásia chocante: "As razões apresentadas foram muito, muito preocupantes".

Cena de A Lista de Schindler - Crédito: Divulgação/ Amblin Entertainment

Corroborando com o pensamento de Williams-Jones, o presidente do MCA Motion Picture Group, Tom Pollock, se posicionou contra a proibição do filme no país: "Não acreditamos na censura em nenhum território". Pollock disse ainda que os filmes "são proibidos o tempo todo", entretanto, raramente pelos motivos citados pelos malaios.

Aquela época, com 18 milhões de habitantes (hoje são mais de 33), a Malásia era formada por cerca de 60% de muçulmanos — o que refletia no posicionamento do então primeiro-ministro Mahathir Mohammed, que se tornou um ávido crítico especialmente aberto de Israel e do sionismo.

Protesto 

A censura de A Lista de Schindler no país gerou a indignação de grupos judaicos ao redor do mundo, espalhados por países como Estados Unidos e Austrália. Um deles, o Comitê Judaico Americano, descreveu a decisão como um "choque e indignação".

Estamos tristes, mas não surpresos, com esta decisão deplorável, que está de acordo com o antigo antissemitismo expresso pelo primeiro-ministro do país", declarou rabino Abraham Cooper, então reitor associado do Simon Wiesenthal Center em Los Angeles.

O rabino continuou, apontando que Mahathir era um exemplo de "antissemitismo sem judeus", visto que poucos judeus vivem na Malásia. "Há anos que o povo judeu e o judaísmo têm sido difamados pela sua intolerância".

Ao ser questionado sobre o banimento do filme, o então premiê relatou que não estava completamente inteirado sobre o assunto. Mas, ainda assim, foi enfático: "É nosso direito proibir qualquer filme neste país".

Já sobre as acusações de antissemitismo, ele rebateu: "Não sou antissemita. Sou o anti sionista expansionista e [contra] a conquista de territórios árabes pelos sionistas".

Dias depois, o então vice-primeiro-ministro Anwar Ibrahim disse que a proibição seria revista. "Essa era a opinião do conselho de censura e acho que alguns de nós teremos que aceitá-la. Não creio que essa seja a decisão final".

Entretanto, segundo o portal Free Malaysia Today, o banimento foi suspenso ainda naquele ano; embora uma versão em DVD do filme, lançada uma década depois, tenha sido fortemente censurada no país.