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Desventuras / Salman Rushdie

'Versos Satânicos': Por que o livro de Salman Rushdie enfureceu tantas pessoas?

Salman Rushdie foi esfaqueado nos Estados Unidos na última sexta-feira, 12

Redação Publicado em 15/08/2022, às 13h46 - Atualizado em 21/08/2022, às 09h00

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Salman Rushdie, autor anglo-indiano que escreveu 'Os versos satânicos', de 1988 - Getty Images
Salman Rushdie, autor anglo-indiano que escreveu 'Os versos satânicos', de 1988 - Getty Images

Recentemente, o nome do escritor anglo-indiano Salman Rushdie estourou na mídia por todo o mundo após um apavorante atentado. Na última sexta-feira, 12, o autor foi esfaqueado enquanto se preparava para uma palestra em Chautauqua, Nova York, nos Estados Unidos e atualmente se encontra internado em estado grave.

Rushdie é o escritor responsável por desenvolver o livro 'Os Versos Satânicos', que gerou série de manifestações na época de sua publicação, o que fez com que fosse até mesmo perseguido e ameaçado de morte. Além do mais, a obra foi proibida em diversos países, e em 1989 o líder supremo do Irã incentivou as pessoas a matarem-no, como informado pelo O Globo.

Salman Rushdie, autor de 'Os versos satânicos', que foi esfaqueado na última sexta-feira, 12
Salman Rushdie, autor de 'Os versos satânicos', que foi esfaqueado na última sexta-feira, 12 / Getty Images

Perseguição

O romance 'Os versos satânicos' já causou grande polêica e revolta desde seu lançamento, no Reino Unido, no dia 26 de setembro de 1988. Dessa forma, apenas alguns dias depois do início de sua distribuição, logo foi banido pelo governo indiano — e, posteriormente, África do Sul, Paquistão, Egito, Indonésia e diversos outros países fizeram o mesmo.

Algum tempo depois, a revolta ainda não tinha cessado. Pelo contrário, ficou até mesmo mais intensa e amedrontadora para Salman Rushdie. Em outubro daquele mesmo ano a editora Viking Press recebeu milhares de cartas contendo ameaças e, em dezembro, cerca de 7 mil pessoas se reuniram para queimar cópias do livro na cidade de Bolton, na Inglaterra, exigindo seu banimento também no país.

Porém, a situação ainda tinha o que piorar: durante manifestações exigindo a morte de Rushdie no Paquistão, cerca de 80 pessoas ficaram feridas e seis morreram em um ataque a um centro de cultura americana na cidade de Islamabad. Então, no dia 14 de fevereiro de 1989 o líder supremo do Irã — o aiatolá Ruhollah Khomeini — fez um pronunciamento legal incentivando todos os muçulmanos a assassinarem o escritor — além de algumas organizações oferecerem prêmios milionários pela morte dele.

Aiatolá Ruhollah Khomeini, antigo líder supremo do Irã, que faleceu em 1989
Aiatolá Ruhollah Khomeini, antigo líder supremo do Irã, que faleceu em 1989 / Foto por Different pelo Wikimedia Commons

Desde então, Salman Rushdie sempre viveu sob escolta policial e é obrigado a se mudar com frequência, visto que sempre tentavam assassiná-lo onde quer que estivesse. Tanto que em agosto de 1989, um muçulmano morreu quando uma bomba, que tinha como objetivo ser usada para matar o escritor, explodiu em um hotel em Londres.

Os versos satânicos

O motivo de o livro 'Os versos satânicos' causar tanto ódio foi a sugestão contida em si, pelo ponto de vista dos muçulmanos, uma releitura da narrativa que dá origem à crença islâmica. Assim sendo, o livro questiona e até satiriza alguns dos pilares que fundamentam a doutrina.

De acordo com a fé islâmica, o profeta Maomé teria recebido a 'palavra de Deus' diretamente do anjo Gabriel, por meio de visões. Então, ele teria transmitido o ensinamento a seus seguidores e, eventualmente, eles foram escritos e compilados no que passou a ser chamado de Alcorão, livro sagrado do islamismo.

Na obra de Salman Rushdie, por sua vez, o personagem Gibreel é apresentado como alguém que tem diversos delírios que o fazem acreditar que é o tal anjo Gabriel. Além disso, a figura de Maoméé substituída pelo empresário transformado em profeta, Mahound — nome este usado na Idade Média por cristãos para se referir a Maomé como criatura satânica.

Além disso tudo, Mahound ouve lições de Gibreel, de fato, mas as altera da forma que lhe era mais conveniente, antes de serem recitadas ao escriba que teria, por fim, escrito o Alcorão. O próprio título do livro, 'Os versos satânicos', se refere a uma história desqualificada por especialistas do livro sagrado do islamismo, em que Maomé, visando converter pessoas ao Islã, recitou palavras que acreditava serem divinas, mas depois as desconsiderou sob alegação de que eram, na verdade, de origem no demônio.

Alcorão datado de 1380
Alcorão datado de 1380 / Foto por Mustafa-trit20 pelo Wikimedia Commons

Ou seja, com a obra Salman Rushdie estaria não só alegando que uma narrativa desqualificada seria, sim, parte da história real por trás da criação do Alcorão, mas também opinando que os ensinamentos que constituem o livro sagrado eram, na verdade, frutos da consciência de um homem comum.

Logo, mesmo que alegasse que os textos religiosos deveriam ser abertos a questionamentos, de diversas crenças, quando insinuava que o Islã deveria aceitar diferentes visões sobre sua crença, recebia uma enxurrada de críticas furiosas. Atualmente, Rushdie se encontra internado e em estado grave.


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