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Matérias / 'Poltergeist'

Assassinato de atriz de 'Poltergeist' criou racha e quase separou uma família

Em 1982, assassinato da jovem Dominique Ellen Dunne, de 'Poltergeist', provocou rixa em família e causou ascensão literária do pai da vítima

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 13/06/2024, às 18h05

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Dominique Dunne em 'Poltergeist' - MGM
Dominique Dunne em 'Poltergeist' - MGM

Dominique Ellen Dunne teve uma carreira brilhante e meteórica. Em 1982, ela ficou conhecida por interpretar Dana Freeling no famoso filme de terror 'Poltergeist'. Meses depois, porém, a atriz de 22 acabou sendo assassinada por seu ex-namorad, John Sweeney

O crime não só abalou Hollywood na época, como também quase destruiu a famosa família. Já o julgamento, que deixou um gostinho de impunidade, ainda foi responsável por transformar o pai Dominique, o produtor de cinema Dominick Dunne, em uma estrela literária do gênero true crime

As revelações foram feitas pelo irmão da atriz, o ator de 'This Is Us', Griffin Dunne, em seu recente livro de memória 'The Friday Afternoon Club', lançado nesta última terça-feira, 11. 

A animosidade entre meu pai e seu irmão atingia novos patamares a cada dia que passava", escreveu o ator sobre a relação de seu pai com seus tios John Gregory Dunne e Joan Didion

Relação conturbada

Em junho de 1982, o lançamento do filme de terror 'Poltergeist', dirigido por Steven Spielberg, levou Dominique Ellen Dunne ao estrelato — assim como seus parceiros Craig T. Nelson e Heather O'Rourke.

Dominique Dunne (extrema direita) com JoBeth Williams, Craig T. Nelson e Oliver Robins em Poltergeist - MGM

Conforme relatado por Griffin, a vida da irmã começou a mudar no ano anterior. Não apenas pelo fato dela ter sido escalada para o seu primeiro longa-metragem, mas por também conhecer aquele que seria seu algoz. 

Quando conheceu a atriz em uma festa, John Sweeney era chefe do badalado restaurante Ma Maison, de Los Angeles. O envolvimento foi imediato e, em semanas, eles engataram um relacionamento. O casal decidiu se mudar para uma pequena casa de um quarto em West Hollywood.

No livro, Griffin descreve que a família Dunnenão gostava de Sweeney — que foi seu primeiro namorado. Entretanto, apenas seu irmão, Alex, se impôs firmemente contra a relação. 

Após todo o encanto inicial, surgiram as brigas e discussões, com a tensão entre Dominique e Sweeney aumentando cada vez mais.

Em outro relato, os pais de Dominique estavam preocupados com o fato da jovem aparentar estar cada vez mais distante. Um mês antes de seu aniversário de 23 anos, Dunne decidiu terminar com o namorado; confidenciando a Griffin que o chef era ciumento, possessivo e uma vez a estrangulou até a beira do desmaio.

Por outro lado, a atriz também começou a questionar sua decisão sobre o fim, o que causou grande aborrecimento em seu irmão — que jamais revelou a ela que, dias antes, Sweeney havia ligado para ele em busca de conselhos sobre reconciliação; conforme narra no livro. Furioso, Griffin Dunne disse para o chefe "ficar longe" de Dominique e o ameaçou: 

[Se você] tocar na minha irmã de novo e eu vou te matar".

O crime 

Naquele dia 30 de outubro de 1982, já fazia algumas semanas que Dominique havia colocado um fim na conturbada relação. Então, tudo parecia normal na rotina da jovem, que recebia em sua casa o ator David Packer para ensaios para a nova minissérie 'V'. 

Enquanto conversava com uma amiga por telefone, porém, Dunne recebeu outra ligação: "Oh, Deus, é o Sweeney. Deixe-me desligar o telefone", disse a atriz para a colega. Após cerca de dez minutos da conversa com o chefe, John apareceu na porta de sua casa. 

Dominique Dunne com elenco de Poltergeist - MGM

Apreensiva, Dominique conversou inicialmente com ele por meio de uma porta trancada, mas concordou em atendê-lo na varanda; enquanto Packer a aguardava voltar para os ensaios. Minutos depois, porém, Davidouviu gritos, estalos e um baque que deixou tudo em silêncio

Ao sair pela porta, encontrou Sweeney ajoelhado sobre Dunne. Ele havia enforcado a atriz até ela cair inconsciente no chão. Dominique foi levada ao hospital e permaneceu viva com a ajuda de aparelhos. 

No dia 4 de novembro, após a atriz já não apresentar nenhum sinal de atividade cerebral em decorrência do tempo que ficou sem oxigênio circulando na cabeça, seus pais decidiram desligar os aparelhos. Dominique Dunne estava oficialmente morta

O julgamento 

Quando a polícia chegou ao local, John Sweeney permanecia de pé sobre o corpo inconsciente da atriz. Inicialmente, ele foi acusado de tentativa de homicídio, mas com a morte de Dunne, o crime foi considerado homicídio em primeiro grau. 

Quando o julgamento começou, escreve Griffin, a defesa tentou fazer com que sua mãe, Lenny, que estava em uma cadeira de rodas devido à esclerose múltipla, fosse expulsa do tribunal "porque a cadeira de rodas dela era prejudicial o suficiente para suscitar a simpatia do júri". O pedido foi negado. Uma das poucas decisões favoráveis à acusação. 

Dominique junto de sua mãe - Arquivo Pessoal/ Griffin Dunne

O ator recorda que Sweeney testemunhou que ele e Dominique haviam se reconciliado e faziam planos para casar e terem filhos. Entretanto, naquele 30 de outubro, ela havia mudado abruptamente de ideia, o que fez com que John"explodisse e se lançasse em direção a ela". O chefe aponta que não lembra de tê-la atacado. 

Como recorda o Page Six, a ex-namorada de Sweeney, Lillian Pierce, foi convocada para testemunhar no tribunal, onde falaria sobre as duas vezes que teria sido internada com ferimentos (incluindo nariz quebrado e colapso pulmonar) causados por agressões de John

Entretanto, o juiz atendeu ao pedido da defesa para que o júri fosse retirado da sala do tribunal, decidindo que o depoimento de Pierce poderia ser considerado "preconceituoso".

Outro ponto que chama a atenção é que, durante o testemunho de Pierce, já sem a presença do júri, Sweeneychegou a pular da cadeira e tentou fugir do tribunal. O sujeito foi interrompido e algemado, mas, soluçando em lágrimas, disse que não pretendia escapar. O juiz aceitou o pedido de desculpas e lhe disse: "Sabemos a pressão que o senhor está sofrendo". 

Griffin recorda que o tribunal também causou intriga em sua família. Afinal, seus tios preferiram não comparecer no julgamento e foram para Paris: temiam que sua filha, Quintana, fosse chamada para testemunhar.

Dominique, algumas vezes, cuidava da prima, que, na época, tinha 16 anos e costumava sair de casa furtivamente para festas. Griffin escreveu sobre ficar "zangado e magoado" porque seu tio "nunca perguntou a mim ou à minha mãe como estávamos indo" — se referindo ao divórcio de Dominick e Lenny em 1965.

Enquanto o julgamento acontecia durante as manhãs, Griffin filmava a noite a comédia 'Johnny, o Gângster', que foi estrelado por Michael Keaton. O ator recorda de fazer amizades com alguns figurantes com quem ele estava "conectado". 

Em uma noite, um deles puxou Griffin de lado e disse: "Só quero que você saiba, Griffin, que há uma maneira de fazer esse julgamento acabar até o fim desta semana", disse o figurante, chamado Leo

Você e sua família nunca mais teriam que pôr os pés naquele tribunal... Tenho amigos que trabalham onde 'pedaço de merd*' [Sweeney] está preso, e eles me disseram que ele tem uma cela só para ele", disse Leo sobre os supostos privilégios.

Embora o figurante tenha dito a Griffin "você não me deverá nada nem terá notícias minhas depois de amanhã à noite", se ele aceitasse a oferta, o ator acabou a recusando.

Em 7 de novembro de 1983, após um longo processo, John Sweeney foi considerado inocente por homicídio em segundo grau (a acusação inicial foi rebaixada), mas, condenado a seis anos de prisão por homicídio culposo e mais seis meses por agressão.

Embora Sweeney tenha recebido a pena máxima prevista naquela época, a família Dunne sentiu para sempre uma sensação de impunidade. Em março de 1984, a Vanity Fair publicou 'Justiça: o relato de um pai sobre o julgamento do assassino de sua filha', o artigo de estreia de Dominick sobre a odisseia jurídica que se tornou um pesadelo para a família. 

O relato o transformou em uma estrela literária. Dominck ainda escreveu romances populares como 'The Two Mrs. Grenvilles', 'People Like Us' e 'An Inconvenient Woman'. O Page Six recorda que ele alcançou uma fama ainda maior como escritor de crimes reais, como seus relatos sobre o julgamento de O.J. Simpson.