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Matérias / Kennedy

As mulheres que tiveram suas vidas destruídas pelos Kennedy: 'Sempre se safaram'

'Qualquer dano grave que um Kennedy possa ter causado, a mensagem permanece clara: ela estava pedindo por isso'; livro expõe papel dos Kennedy no trágico fim de mulheres

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 02/07/2024, às 18h00

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Robert, Edward e John Kennedy em meados de 1962 - Getty Images
Robert, Edward e John Kennedy em meados de 1962 - Getty Images

Morte em acidente aéreo, afogamento, suicídio… Esses são alguns dos destinos de mulheres que se envolveram com os Kennedy. "Todos os Kennedy eram assassinos de mulheres e sempre se safavam", disse o jogador de beisebol Joe DiMaggio ao seu biógrafo após a morte de sua ex-esposa, Marilyn Monroe

Eles sairão impunes daqui cem anos", completou.

No recém-lançado 'Ask Not: The Kennedys and the Women They Destroyed' ('Não pergunte: os Kennedy e as mulheres que eles destruíram', em tradução livre), a jornalista investigativa Maureen Callahan expõe a "verdadeira maldição dos Kennedy". 

Através de arquivos, entrevistas com familiares e amigos sobreviventes, biografias, memórias e notícias contemporâneas, Callahan detalha as histórias de mulheres cujas vidas foram viradas de cabeça para baixo por algum dos Kennedy. Alguns desses casos se tornaram notórios e grandes escândalos, mas outro se tornaram tragédias que foram marginalizadas e, na maioria das vezes, esquecidas.

Qualquer vítima que ouse revidar se verá confrontando o incrível poder da máquina Kennedy, que transforma qualquer mulher, não importa quão rica, famosa ou poderosa, como louca, rancorosa, vingativa; uma viciada em drogas, uma víbora, uma sedutora", escreveu, conforme repercutido pelo The Guardian

"Qualquer dano grave que um homem Kennedy possa ter causado a ela, a mensagem permanece clara: ela estava pedindo por isso. Foi culpa dela. Assim, Camelot, aquele conto de fadas da grandeza de Kennedy e homens nobres, ainda está de pé", prossegue. 

Os próximos parágrafos apresentam informações sensíveis!

O acerto de contas e RFK Jr.

Para Callahan, os Kennedy também precisam passar por um acerto de contas com o passado para deixarem de ser tratados como uma realeza política. 

"Quando uma estátua de bronze em tamanho real de JFK foi inaugurada em DC em 2021, nenhuma cobertura jornalística abordou seu tratamento às mulheres. Nenhum jornalista, ensaísta, escritor político ou crítico cultural perguntou se este era um homem merecedor, em nossa nova era, de tal memorial. Ninguém perguntou que tipo de mensagem sua celebração contínua envia às mulheres e meninas, agora e no futuro", debateu a autora. 

Em um dos tópicos do livro, Maureen Callahan apresenta todo pano de fundo envolvendo o sobrinho de John F. Kennedy, Robert F Kennedy Jr., que atualmente concorre como candidato independente à presidência.

Ele é constantemente criticado por suas teorias da conspiração antivacina e declarações antissemitas, "mas não por seus maus-tratos a mulheres ao longo da vida", destaca a jornalista. 

Em seu livro, Maureen conta, por exemplo, sobre o caso de RFK Jr. com Mary Richardson, uma talentosa arquiteta. Eles se casaram em 1994 e tiveram quatro filhos. Mas, apesar da ideia de que Mary adorava ser uma Kennedy, ela se queixava de que seu marido raramente estava presente, afinal, viajava o tempo todo.

Quanto mais dor ela sentia, pior Bobby a tratava. Alguns dias ele queria o divórcio; outros, ele queria trazer outra mulher para a cama deles, uma ideia que a deixou humilhada. Ela o rejeitou imediatamente", afirma Callahan, segundo o The Guardian. 

"Um dia, Mary recebeu uma amiga e Bobby entrou [no quarto], saindo do chuveiro, e deixou a toalha cair na cintura, se expondo. Mary suspeitava há muito tempo que ele a estava traindo, mas ele sempre negava. Ele dizia que ela era louca, que ela era quem estava destruindo o casamento deles e o afastando. Era de se espantar que ele nunca quisesse estar em casa?", questiona a jornalista. 

Mary Richardson e RFK Jr. em 2007 - Getty Images

Mary ainda encontrou os diários de Robert, nos quais, nas últimas páginas, ele listava as mulheres com quem já havia tido casos. "Ele as classificou de um a dez, como se fosse um adolescente. Dez, Mary sabia, era para relação sexual completa", explica. 

Segundo o livro, Richardson ficou perturbada com a descoberta, passou a beber e lutava para sair da cama. Por outro lado, Robert tentou hospitalizá-la à força, explica o The Guardian.

Quando RFK Jr. começou a se relacionar com a atriz Cheryl Hines, ele fez questão de cortar o acesso de Mary ao seu dinheiro — fazendo com que a esposa precisasse pedir favores para poder comprar mantimentos e gasolina. 

Em 16 de maio de 2012, quando tinha 52 anos, Mary foi encontrada morta em sua casa. O livro conta que a mulher vestiu suas roupas de ioga e foi até o celeiro. "Quando ela foi encontrada naquela tarde, os dedos de Mary estavam presos dentro da corda em volta do seu pescoço. Ela havia mudado de ideia. Ela havia tentado se salvar".

Enquanto os irmãos de Mary insistiram que sua depressão foi resultado direto das traições de RFK Jr. e toda sua negligência na relação, Robert retratou a esposa  como uma alcoólatra desconsolada. Ele nunca assumiu qualquer tipo de responsabilidade, muito pelo contrário: "Sei que fiz tudo o que pude para ajudá-la", declarou. 

'Não pergunte' e JFK

O título do livro, Ask Not, é uma referência a uma das frases mais célebres do discurso de posse de John Fitzgerald Kennedy em 1961: "Não pergunte o que seu país pode fazer por você; pergunte o que você pode fazer por seu país". 

John e Jacqueline Kennedy com sua esposa e seus filhos, John Jr. e Caroline - Domínio Público via Wikimedia Commons

O 35º presidente dos Estados Unidos, porém, é conhecido por sua forma nada lisonjeira como um mulherengo que explorou sua posição para encontrar mulheres.

+ 'Todos os Kennedy são assim': Como Jackie encarava as traições de JFK?

Um desses exemplos é Mimi Beardsley, que tinha 19 anos quando trabalhava na assessoria de imprensa da Casa Branca. Certa vez, John a levou para um quarto na residência privada, jogou-a na cama de Jackie Kennedy e tirou sua virgindade. Foi o primeiro encontro de muitos, escreve Callahan

Mimi seria bem-vinda no andar de cima apenas quando a Primeira Dama estivesse fora, e era seu trabalho lembrá-lo dos prazeres simples: conversa fiada, banhos de espuma compartilhados e sexo, embora sempre apressado", relatou ao The Guardian.

O filho de JFK, John Kennedy Jr., também aparece no trabalho da jornalista. Na obra, é relembrado seu relacionamento, cheio de altos e baixos, com Carolyn Bessette, diretora de publicidade da Calvin Klein. "Ela estava abaixo do peso e ansiosa o tempo todo, usando antidepressivos e cocaína", conforme o livro.

Carolyn observou de perto a arrogância, a falta de consideração e a direção imprudente de John Jr.. "Houve uma vez em que Carolyn e John foram parados na Massachusetts Turnpike, o carro fedendo a maconha, um policial deslumbrado os deixou ir sem nem mesmo um aviso".

'Há uma regra não escrita em Massachusetts', John disse a ela, 'segundo a qual membros da minha família podem cometer assassinatos e caos' — afinal, décadas antes, seu tio Ted havia deixado uma jovem mulher para morrer em um metro de água — 'e ninguém olha torto'."

Três anos difíceis depois do casamento deles, que aconteceu em 1996, JFK Jr. queria que Carolyn o acompanhasse a um casamento de família em Cape Cod. O filho do ex-presidente a convenceu a partir em um voo em um avião de pequeno porte, controlado por ele; que ainda estava aprendendo a pilotar. 

"Carolyn disse isso a familiares, amigos, à garçonete do restaurante favorito deles em Martha's Vineyard. Ela não achava que seu marido tivesse paciência, diligência, capacidade de atenção e, realmente, humildade para ser um bom piloto", revelou Callahan

Os dois acabaram falecendo naquela ocasião após um acidente com a aeronave. No entanto, mais uma vez, Maureen Callahan aponta que a máquina de 'criação de mitos' da família garantiu que, nos 25 anos desde o acidente, Carolyn fosse tratada como uma "megera viciada em drogas que tornou os últimos dias do príncipe da América miseráveis".

Capítulo sombrio

Por fim, um dos capítulos mais sombrios envolvendo os Kennedy aconteceu em 1969, quando o senador Edward 'Ted' Kennedy caiu acidentalmente de uma ponte em Chappaquiddick, uma ilha em Massachusetts. Seu carro capotou em um lago e ele nadou para se salvar. 

John, Robert e Edward Kennedy - United States Congress

No entanto, sua passageira, uma assessora de 28 anos chamada Mary Jo Kopechne, morreu dentro do carro, que foi tomado pela água. Kennedy não procurou ajuda na casa mais próxima nem relatou o incidente às autoridades por cerca de 10 horas.

"No inquérito", observa Callahan, "John Farrar, o mergulhador que recuperou o corpo de Mary Jo na tarde seguinte, testemunhou que Mary Jo não havia se afogado, mas sufocado até a morte. Ele disse que ela estava viva por pelo menos uma hora na água, talvez mais".

Kopechne poderia ter sido salva. No entanto, a autora argumenta que esse episódio foi transformado em uma 'tragédia'. Edward passou a ser reverenciado como o 'leão do Senado'. 

"Ted Kennedy serviu o resto de sua vida no Congresso e recebeu um funeral de estadista com cobertura jornalística de ponta a ponta, enquanto o nome de Kopechne mal foi mencionado", finalizou.