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Matérias / Personagem

Os dias finais de Olga Benário, assassinada há exatos 78 anos, em um campo de concentração

Líder comunista na Alemanha e no Brasil, a mulher judia deu à luz à filha de Luís Carlos Prestes em Ra­vensbrück

André Nogueira Publicado em 23/04/2020, às 11h35

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Última foto de Olga Benário - Wikimedia Commons
Última foto de Olga Benário - Wikimedia Commons

Olga Benário Prestes foi uma comunista alemã, muito conhecida nacional e internacionalmente por sua atuação no Brasil como protetora de Luís Carlos Prestes no retorno do exílio e participação na organização de uma tentativa falha de golpe contra Vargas, em 1935.

Nesse meio tempo, ela se apaixonou pelo líder do PCB e com ele se casou, tendo uma filha. Porém, esse foi o período mais conturbado de sua vida: a comunista se deparou com as represálias de Getúlio, parando nas mãos do tirano Adolf Hitler.

O caso foi de claro ataque aos comunistas do Brasil e apoio ao projeto do Eixo: depois da derrota dos revoltosos comandados por Prestes, a polícia do Estado caçou o casal, até que Filinto Muller conseguiu prendê-los. Olga estava grávida e alegava querer a criança nascida no Brasil, o que impedia, por lei, a sua deportação.

Porém, Vargas estava colocando em rumo um projeto autoritário nacional, que o afirmaria ditador em 1937. No ano anterior, porém, ele já faria esse ato de cumplicidade com o regime nazista, que era bem visto por alguns de seus ministros, como Muller, Góes Monteiro e Gaspar Dutra. Então, após discussões políticas e jurídicas, alegando estar encaminhando a grávida para um hospital, o regime brasileiro lançou Olga em um navio e a mandou para a Alemanha.

Olga sendo presa em 1936 / Crédito: Wikimedia Commons

Olga entrou no país pelo porto de Hamburgo e foi encaminhada para a prisão de Barnimstrasse, onde deu à luz a sua filha, iniciando um movimento da esquerda internacional, liderada pela mãe de Prestes, Leocádia. A ideia era tirar a criança das mãos dos nazistas.

Entre as transferências que Benário sofreu, ela acabou no campo de concentração de Ravensbrück, onde, por conta de pressões internacionais, a administração foi obrigada a dar privilégios para ela, como o aumento do tempo em que ela esteve com a cria. Foi justamente lá que Anita Leocádia Prestes cresceu os primeiros meses, antes de sua avó conseguir sua custódia. A ideia dos nazistas era dar a criança à mãe de Olga, uma conservadora, mas ela não quis.

A vida de Olga no campo nazista é pouco conhecida, mas foi revelada em partes do livro Ravensbrück — A História do Campo de Concentração Nazistas Para Mulheres, de Sarah Helm. A autora revelou que o apreço da comunista pelos prisioneiros a levou a ser uma blockova, ou uma organizadora de quartel, em colaboração com a administração da SS, como forma de proteger suas companheiras.

Então, Olga e Leocádia iniciaram uma campanha para conseguir a libertação e o exílio da prisioneira. A Gestapo parecia estar disposta a negociar uma saída de Olga da prisão para qual fora transferida em Berlim, apontando que ela fosse enviada apara o México.

Mesmo que Leocádia tivesse conseguido um visto, o governo alemão se recusava a oficializá-lo. A espera dos documentos, ela foi enviada de volta a Ra­vensbrück, mas com o início da guerra e as artimanhas políticas da Alemanha, tornou-se impossível que ela fosse liberta.

Estátua em homenagem a Olga em Ra­vensbrück / Crédito: Wikimedia Commons

Então, a comunista passou a se disponibilizar nos recrutamentos da SS para chefia de blocos de prisioneiras, no controle das presas. Johanna Langefeld, liderança nazista no campo, gostou de Olga (uma mulher bela e elegante) e a posicionou como blokova.

Ela se tornou a primeira prisioneira política a alcançar essa posição. Com a dor pessoal (estar presa, sem esperanças e sem a filha) e política (a derrota do levante e o pacto entre Stalin e Hitler), Olga não tinha mais razões para manter a luta, e se permitiu entrar nessa posição infeliz.

Ela ficou responsável, então, pela organização matinal das prisioneiras, as acordando e as obrigando a sair dos alojamentos. Mesmo assim, é notório que Benário não tratava as detentas com brutalidade ou violência, o que era incomum na posição que assumia.

Ela, na verdade, costumava colaborar com as outras judias, sugerindo táticas para escapar da violência dos guardas, da fome e do frio. Com sua experiência, Olga foi útil e começou a ser bem aceita entre as vítimas de Ra­vensbrück.

Numa situação de fortes maus-tratos aos judeus no campo, causado por uma represália da SS, ela protestou à guarda Emma Zimmer contra as crueldades. Isso aumentou a moral de Benário entre as presas, mas enfureceu a administração - no entanto, ela não perdera o cargo. Por outro lado, com a chegada de prisioneiras que passaram pelos gulags soviéticos, muitas presas deixaram de confiar na comunista, dado os relatos atrozes.

Prestes visita Ra­vensbrück nos anos 1950 / Crédito: Wikimedia Commons

Com o tempo, o colaboracionismo de Olga com as prisioneiras a fez perder o cargo de blokova, voltando a ser tratada normalmente, sendo ofendida, espancada e obrigada a trabalhar. E ficaria ainda pior. Em outubro de 1941, Hitler ordenou “a deportação de todos os judeus alemães”, o que levou à seleção das mulheres para campos na Polônia. Consciente do extermínio, Benário perdeu todas as esperanças. Ela foi enviada para o campo de Bernburg no início de 1942, e assassinada numa câmara de gás aos 34 anos.


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